Capítulo 1 - A nerd gostosa.
(Ponto de Vista de Sloane)
Eu estive apaixonada pelo meu melhor amigo, Finn Hartley, desde que nos conhecemos na faculdade, ou seja, há dez anos.
Não era como se eu algum dia fosse contar isso a ele, porque eu sabia que ele não me via dessa forma. E, provavelmente, nunca veria.
Naquele momento, estávamos na sala dele, e eu o abraçava contra meu peito enquanto ouvia seus soluços.
Mais uma vez, aquela maldita namorada havia partido seu coração. Era a terceira só naquele ano.
— Não acredito que ela fez isso comigo, Sloane. — Disse Finn.
Passei os dedos pelo cabelo dele, tentando ignorar o quanto aquilo me fazia bem.
— O que exatamente ela fez? — Perguntei. — Você ainda não me contou.
— Não sei como dizer…
— Bem, comece por algum ponto...
Minha paciência já estava se esgotando, afinal, eu estivera ali havia horas, sacrificando meu sábado só para vê-lo desmoronar.
Não entendia por que ele ainda se dava ao trabalho de chorar, se na semana seguinte estaria de volta à cama dela. Até porque… Eles faziam aquilo todas as malditas vezes.
Eu deveria me mostrar mais compreensiva, eu sabia. Mas dez anos observando ele correr atrás da mesma mulher tóxica tendiam a corroer a compaixão de qualquer pessoa.
— A Delilah não vai voltar, Sloane. — Disse ele. — Ela me deixou de vez, desta vez.
— Você sabe que isso é mentira.
— É verdade. Ela ficou noiva. Chegou a me mandar um convite de casamento com todo capricho pelo celular, e eu juro que pensei em jogar o aparelho na parede.
Aquilo realmente me surpreendeu. "Noiva? Delilah ia se casar?"
Finn se afastou de mim, e eu finalmente pude ver seu rosto.
A barba em seu queixo já havia passado da fase sexy e se transformado em algo mais selvagem. Um pouco mais para baixo, a camiseta branca estava não só amarrotada, mas também manchada com o que parecia ser o jantar do dia anterior. Jamais o tinha visto tão arrasado, e isso, vindo dele, era realmente um feito.
Logo, ele procurou o celular com os dedos trêmulos até encontrar a tela.
Então, me estendeu o aparelho. Lá estava: um nauseante convite cor de ouro-rosa, com letras cursivas, anunciando a união de Delilah Crestfield com um tal de Hunter… Daqui a oito semanas.
Meu coração perdeu o compasso por alguns segundos, enquanto uma leve euforia se espalhava pelo peito.
Mordi a parte interna da bochecha para não sorrir como uma boba. Aquela era, com folga, a melhor notícia que eu tinha escutado em anos. A bruxa estava finalmente fora da jogada, e agora era pra valer.
— Pobrezinho… — Murmurei, tentando soar solidária. — Você sabia que ela estava saindo com outro cara?
— Quero dizer... É a Delilah, né? Em que momento da vida ela já foi fiel?
— Você tem um ponto.
Devolvi o celular para ele.
— Ainda não consigo acreditar que ela me deixou, Sloane. — Ele desabou novamente no sofá, encarando o teto como se ele pudesse oferecer alguma explicação cósmica.
— Confesso que também estou achando difícil de engolir. — Comentei.
Meus olhos passearam pelo contorno firme do maxilar, pelos lábios imóveis e pelos cílios úmidos, pesando com o peso das lágrimas já secas.
Eu tinha decorado cada centímetro daquele rosto com o tempo, guardando cada expressão como se fosse parte de mim. No entanto, aquela eu nunca tinha visto antes: era o retrato da pura derrota, sem reservas.
Deveria me deixar triste vê-lo tão destruído, mas tudo em que consegui pensar foi: "Essa é a minha chance."
Eles já eram amantes desde o ensino médio, muito antes de eu surgir na vida de Finn. E, às vezes, eu me perguntava se era isso que dava a ela tanto poder sobre ele: o fato de ter chegado primeiro, de tê-lo conhecido quando ainda era só um garoto de coração frágil.
Vi Delilah brincar com ele repetidas vezes, sempre certa de que ele acabaria voltando. Então, pensar que ela o deixara de vez era, ao mesmo tempo, algo que me empolgava e me assustava. "O que seria de nós agora?"
— O que vai ser de mim sem ela, Sloane? — Perguntou Finn.
— Você vai continuar sendo Finn Hartley. Vai ficar tudo bem. — Estendi a mão para apertar o joelho dele.
— Eu não posso ficar bem sem a Lila.
— Existem mais de oito bilhões de pessoas no mundo, estatisticamente falando. É só escolher outra.
— "Estatisticamente"? Você é mesmo uma nerd.
Essas palavras pesaram no meu peito. Ele já tinha dito aquilo milhares de vezes, sempre tirando sarro do meu trabalho como analista de cibersegurança, da minha paixão por fatos aleatórios e da minha coleção de romances sci-fi antigos... Mas naquele dia soaram diferente.
Aos olhos dele, eu era só uma nerd. Nada mais. Nunca uma mulher. Nunca alguém que ele pudesse desejar.
Assim, me levantei sem pensar duas vezes, alisei o jeans com uma palma firme e ajeitei os óculos com precisão. Estava na hora de mostrar a ele exatamente do que eu era capaz.
— Sabe de uma coisa? — Falei. — Vamos a uma boate e vamos ficar bêbados.
Ao meu lado, Finn me olhou como se eu tivesse sugerido assaltar um banco.
— Você quer ir a uma boate?
— Sim.
— Você já foi a uma boate antes?
Ele se endireitou, e parte da névoa se dissipou dos olhos quando pousou o olhar sobre mim. Era só a Sloane de sempre, usando o uniforme típico de fim de semana: jeans, camiseta de banda desbotada e o cabelo no corte bob com franja.
— Não exatamente. No entanto, vai ter bebida e dança. Aposto que vai ser divertido. — Soei mais confiante do que realmente estava. A verdade era que boates eram meu inferno pessoal, já que envolviam música alta, estranhos suados, drinks caríssimos… Mas, se fosse preciso atravessar o próprio fogo para ver Finn sorrir outra vez, eu faria isso sem hesitar.
Logo, um sorriso lento se formou no rosto dele.
— Ótimo. — Disse. — Você tem razão. Eu estou precisando de uma distração. — Ele se levantou, subitamente animado. — Vou colocar algo apropriado e depois passamos na sua casa para você trocar essa coisa que está usando agora.
Então, olhei para minha roupa, de repente constrangida.
— O que tem de errado com o que estou vestindo?
— Nada, se estivéssemos indo a uma feira de livros. — Ele desapareceu no quarto, gritando de lá: — Confia em mim, Sloane. Vamos mostrar à Delilah o que ela está perdendo!
Diante disso, afundei no sofá, já me arrependendo da ideia impulsiva. "No que eu tinha me metido?"
-
A boate era exatamente como eu temia, talvez até pior.
O vestido que Finn fez questão de me ver usando, recuperado do fundo do armário e usado pela última vez no casamento de uma prima três anos atrás, estava apertado demais, curto demais e me deixava desconfortavelmente ciente de partes do meu corpo que eu costumava ignorar.
Já estávamos ali havia quarenta minutos, tempo suficiente para que eu visse Finn se transformar em alguém quase irreconhecível, virando doses no bar uma atrás da outra.
Ainda assim, por volta de vinte minutos antes, ele havia conhecido uma garota: loira, alta, esguia e com um vestido que parecia ter sido desenhado diretamente na pele. O nome dela era Amber.
Fiquei parada, desconfortável, perto da pista de dança, segurando uma vodka com gosto de água, enquanto assistia Finn e Amber se esfregarem um no outro de um jeito que provavelmente era ilegal em público.
Com as costas coladas ao peito dele e os braços erguidos acima da cabeça, ela enroscava os dedos no cabelo dele. Finn, por sua vez, mantinha as mãos firmes nos quadris dela, guiando os movimentos, enquanto afundava o rosto em seu pescoço.
Naquele momento, senti um enjoo cortante, uma vergonha paralisante e uma solidão intensa, impossível de ignorar.
— Sloane? — Gritou Finn. — Você não pode só ficar aí parada. Venha, dance!
— Eu não sei dançar! — Gritei de volta.
Diante disso, Amber franziu a testa para mim.
— Então por que veio?
— Para vigiar meu melhor amigo.
— Como uma acompanhante?
— Sim. — Respondi. — Caso você tente dopá-lo ou algo assim.
Finn pareceu constrangido com a situação…
— Só ignore ela. — Disse a Amber, apertando a cintura da garota. — Ela é apenas uma controladora.
Em resposta, Amber deu uma risadinha.
— Parece mais sua mãe.
— Irmã mais velha seria mais apropriado. — Corrigiu Finn.
Logo, os olhos de Amber me analisaram de um jeito que fez minha pele arrepiar.
— Mas ela é gostosa, com essa franja e esses óculos de "me come". Definitivamente, uma nerd sexy.
Finn fez uma careta.
— Não posso dizer que essa imagem seja fácil de engolir.
— Qual é. Você não enxerga?
— O quê?
— Você não acha as vibrações nerd dela excitantes?
Contudo, ele, felizmente, evitou olhar nos meus olhos.
— Menos papo, mais dança.
— Jura? Nem uma pontinha de vontade de ver a Sloane pelada?