Rafael chegou ao seu andar no shopping tomado pela raiva e pelo desgosto da situação que acabara de viver. Tirou o paletó e o jogou no sofá com força, como se quisesse afastar toda a frustração que sentia. Desabotoou alguns botões da camisa, pegou um copo de whisky e virou de uma vez só. O calor da bebida descendo pela garganta o ajudou a alinhar os pensamentos, ainda que não aliviasse a crescente irritação. Apertando o interfone, disse:
— Marcos, venha até aqui. Agora!
Marcos era o secretário de Rafael, seu braço direito havia anos, sempre disposto a ajudá-lo.
Não esperou ele chamar uma segunda vez. Já sabia que o humor do chefe estava péssimo.
— Sim, senhor Rafael — disse ao entrar. Ao olhar para Rafael, uma sombra de medo passou pelos seus olhos. Seu chefe tinha um olhar frio, com uma expressão que deixava a sensação de que poderia matar alguém a qualquer momento.
— Quero um relatório completo da senhora Lily em minha mesa em trinta minutos. Todas as informações. Como está a loja dela no segundo andar, quem são os funcionários, quem é o braço direito dela, quanto está faturando. Eu quero saber tudo, Marcos.
— S-senhor Rafael, a senhora Lily... dona da La Beauté? Posso perguntar por que o senhor deseja, de repente, informações sobre ela? Deseja que eu marque uma reunião com ela? É algo urgente?
— Sim, Marcos. Existe outra Lily dona da La Beauté neste shopping? Quero essas informações para ontem!
Marcos saiu quase correndo da sala, o suor escorrendo pela testa. Fazia tempo que não via Rafael tão irritado. Ao cruzar com a nova secretária, trocou apenas um aceno de cabeça. Ambos entenderam o recado silencioso — o clima não estava nada bom e era melhor nem comentar.
No entanto, uma dúvida ficou martelando na cabeça de Marcos: por que, de repente, Rafael queria informações sobre a senhorita Lily? Será que ela o havia irritado?
Trinta minutos depois, Marcos bateu na porta do chefe, com uma pasta preta nas mãos.
— Aqui está, senhor. Todas as informações que pediu.
Rafael pegou a pasta e começou a analisar o conteúdo: o faturamento da loja, os lucros, os funcionários, tudo estava detalhado ali. Descobriu que Lily era uma estilista renomada. Além da loja no shopping, fazia trabalhos personalizados para clientes de alta costura. No final do documento, algo chamou sua atenção: em breve, Lily apresentaria um desfile para o qual ele havia sido convidado.
Um olhar de triunfo surgiu em seu rosto. Agora, mostraria que com ele não se brinca — muito menos se desobedece.
Enquanto isso, Lily estava em sua mesa, analisando os últimos relatórios para o desfile que se aproximava e conferindo os números da loja. Os resultados do último trimestre eram excelentes. Suas vendas haviam triplicado graças às peças exclusivas lançadas para a estação. O lucro a animava — estava até pensando em comprar um presente especial para sua avó, cujo aniversário se aproximava.
Ao perceber que o expediente estava quase no fim, arrumou suas coisas e foi para casa. Seguiu sua rotina habitual e, já na cozinha preparando o jantar, levou um susto ao ouvir a porta bater. O susto quase fez a água quente da panela cair sobre ela.
Ficou nervosa. Rafael nunca chegava tão cedo. Quando olhou em direção à porta da cozinha, lá estava ele — de pé, com o paletó jogado no ombro e uma postura casual.
— O que está fazendo para o jantar?
— Estou preparando bruschettas de burrata com tomate, risoto de parmesão com medalhões de filé mignon e, de sobremesa, tartelette de frutas vermelhas com creme de baunilha.
— Hum. Vou tomar banho. Já desço para comer — disse, subindo as escadas.
Lily ficou ali, parada, sentindo o vazio aumentar. Não apenas pela frieza dele, mas pelo silêncio pesado que preenchia a casa. Era um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra.