2- Quando começou

*Ponto de vista do Scott*

Outra vez aquele sonho, outra noite mal dormida ao lado de outra mulher que nem me lembro o nome, elas sabem que eu sempre vou embora pela manhã, mas continuam a me fazer convites, afinal sou um popstar, elas amam poder contar que passaram a noite comigo. Não estou enganando elas, não estou me aproveitando delas, acho até que de certa forma, são elas que estão se aproveitando de mim, mas tudo bem para mim, prometi não me apaixonar de novo, a única mulher na minha vida agora é a Hope, minha filha, dessa eu não abro mão, embora até com ela eu esteja deixando a desejar... minha vida mudou muito nos últimos anos, mas ainda me lembro bem do dia que Hope percebeu que a Mia tinha ido embora definitivamente de nossa vida..

*Flashback on*

- Papai, a Mia não vai mais voltar?- Ela perguntou com a maior naturalidade do mundo enquanto comia seus cereais sentada na ilha da cozinha, onde sempre tomamos café da manhã juntos.

- Filha, é o seguinte... a Mia, ela não tem mais mamãe, assim como você, e ela também não tinha um pai, mas agora ela encontrou o papai dela e quer ficar perto dele, você entende?

-Entendo, eu também quero ficar perto de você.- ela respondeu sorrindo.

-Sim, a família é muito importante, filha- falei sustentando um sorriso mesmo estando com o meu coração dilacerado.

*Flashback off*

Eu sabia que a culpa era toda minha, primeiro por beijar Violet e depois por falar tudo o que falei para Mia na hora da raiva. Além disso depois da Mia, tenho sido o típico cafajeste, quem sabe essa seja minha verdadeira identidade, não sei...eu realmente não sei quem sou, trinta e cinco anos na cara e me olho no espelho sem me reconhecer.

Mas vocês devem estar se perguntando sobre a mãe da Hope, não é mesmo? Ela foi incrível, suportou todas as minhas crises, conviveu com meus piores momentos e mesmo assim não desistiu de mim. Eu tenho muitos traumas por causa de meus pais, acho que é isso que me deixa tão em desequilíbrio, sei lá, nunca fui fã de terapia, mas pelo menos é o que os médicos disseram quando fui obrigado a passar por um tratamento quando entrei em depressão após a morte de Lilly.

Lilly foi uma esposa e mãe incrível e eu pensei que nunca mais fosse me apaixonar, até que uma mesma mulher me conquistou de três formas diferentes... Mia... eu pensei que estivesse maluco... estar interessado num amor da adolescência, numa cantora em ascensão que eu ajudava na sua carreira e também na baba da minha filha... mas era ela, todas eram ela... e apaixonei-me perdida e avassaladoramente... o que foi minha ruína porque não tenho controle quando me deixo levar pelas emoções, o meu pior defeito é sentir demais as coisas.

Enfim... é com isso que eu sonho... Lilly indo embora, Mia indo embora...Elas olham para mim com desprezo, criticam a forma como cuido da minha filha Hope (Engraçado que elas usam as mesmas palavras de uma professora petulante que me mandou uma carta outro dia) e eu fico em pânico, sozinho, tendo que cuidar de uma garotinha quando está mais do que provado que não entendo nada sobre garotas, porque afinal, todas elas acabam me deixando cedo ou tarde.

*Ponto de vista de Kelly*

Nem acreditei quando uma escola renomada me aceitou como professora substituta sendo que eu nem tinha o visto permanente aqui dos Estados Unidos. Acho que minhas qualificações falaram mais alto e modéstia parte, sou muito qualificada. Além de uma formação em Pedagogia, tenho diversas especializações, principalmente para trabalhar com crianças que possuem dificuldades de aprendizagem.

Também tenho algumas especializações na área de psicologia, eu fiz pensando que poderiam me ajudar a lidar melhor com as pessoas, mas nada nesse mundo me capacitaria a lidar com alguns dos pais das crianças, especialmente aqueles que são negligentes. Acredita que tem alguns que não conheci até agora? já estamos no final do semestre, isso é inconcebível, não importa se o seu trabalho é importante... quando seu filho crescer ele só vai se lembrar que você nunca estava presente (e sim...eu sei isso por experiência própria, sou uma órfã de pai vivo).

Enfim, desculpa o ataque de raiva, o que eu ia dizer mesmo? Ah sim... agora que me adaptei, fiz amigos, tenho um lugar legal para morar, um emprego dos sonhos e até tenho um crush (o barista da cafeteria), eu soube que meu visto não será renovado, é uma maravilha...terei que voltar para o Brasil e começar do zero, devo estar pagando pelos meus erros.

-Pediu para me chamar, professora?- A mocinha mais doce de toda a escola disse chegando na porta da sala dos professores.

-Oi Hope, sim, sente-se, por favor.- eu falei mostrando a ela a cadeira do outro lado da mesa onde eu estava sentada corrigindo alguns trabalhos.

-Eu estou com problemas? Fiz algo errado?- ela perguntou preocupada.

-Não, minha querida, você é uma ótima aluna, eu só queria saber se você conseguiu entregar o bilhete que enviei para seu pai, era importante.

-Ah, isso.- ela fez uma expressão de quem está tentando pensar num jeito bom para falar algo não tão bom.

-Tudo bem, Hope, pode me contar, não vou ficar chateada com você.- falei paciente.

-Bom, eu entreguei.- ela tentou resumir e desconversar.

-Mas?- perguntei insistindo mais uma vez.

-Eu não sei o que estava escrito, mas ele ficou muito muito irritado.- ela falou com um ar de assustada.

-Ah querida, me desculpe, ele machucou você?- perguntei preocupada.

-Não, não...ele nunca me feriu, ele é um bom pai, só tem estado um tanto perdido...acho que ele não gostou de perceber que você está certa sobre tudo.

-Você leu?- perguntei assustada.

-Me desculpe, mas meu pai tem muitas fãs, eu precisava ter certeza que você não era mais uma que queria chegar até ele através de mim...acredite, já aconteceu muitas vezes.

-Entendi... mas escute, Hope, eu não estou nem aí se o seu pai é famoso, aqui na escola, ele é simplesmente o seu pai e precisa participar, se não puder vir na reunião com os outros pais, a escola está disposta a agendar um horário especial, como fazemos com outros pais que não conseguem vir à reunião, ele só precisa vir, entende? - falei com muito jeitinho, pois a Hope era como uma flor delicada.

-Eu entendo, acho que ele vai acabar pensando e vai vir, obrigada por tudo, profe.

-Por nada, agora pode ir, mas antes...-peguei o trabalho dela na pilha- parabéns pelo seu trabalho, está excelente.

Ela sorriu e saiu satisfeita, e confesso que eu também fiquei satisfeita de saber que o tal do Scott teve um piti por causa da minha carta, eu queria ter visto aquele rostinho bonito e sem vergonha quando leu eu chamando ele de pai negligente, embora eu não tenha usado essas palavras, claro, mas bem que ele mereceu, onde já se viu deixar a Hope passar por tudo isso sozinha...ela acabou de receber um diagnóstico de dislexia e ele nem sequer veio pessoalmente entregar o laudo e conversar com a pedagoga...como eu disse antes, isso é inconcebível.

Para quem não sabe, a dislexia é um distúrbio de aprendizado que afeta a capacidade de ler, escrever e soletrar. É uma condição neurológica que não está relacionada à inteligência ou ao esforço, mas sim à forma como o cérebro processa a informação. Os pais tem um papel fundamental na ajuda de um filho com dislexia, não dá para não se envolver, fingir que vai passar sozinho como se fosse um resfriado.

Eu luto pelos meus alunos e não quero saber se ele é o rei da Inglaterra (ou o rei das gatinhas como tem sido chamado) eu quero que ele participe da vida da filha e ajude ela.

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