Capítulo 3

Evie Clark

— Eu quero assistir Pânico! — Megan grita e, juro, atingiu alguma parte do meu cérebro dolorido. 

— Você já assistiu isso um milhão de vezes! E tia Vie disse que não tem idade. — Ryan reclama e faço um esforço imenso para levantar, sentindo a cabeça e a dignidade me deixarem aos poucos depois da noite de ontem. Puta merda! A noite de ontem!

Flashes de uma Evie bêbada e falante demais aparecem na minha mente e, sério, se eu tivesse um buraco para me enfiar hoje, com certeza, ele estaria ocupado… pela minha cabeça e meu corpo, de preferência. Porém, outros flashes me consomem, com um Luke irritante, cheio de si e arrogante. Totalmente o contrário de quando éramos novos, quando o pouco que conversávamos parecia o suficiente e eu o vigiava com seus amigos no lago.

Levanto do sofá-cama e deparo-me com Megan e Ryan, visivelmente declarando guerra um ao outro. Por ser minha primeira folga em anos, eles não foram à escola, mesmo sendo uma sexta-feira, e Jill deve ter ido para a cafeteria, já que é seu turno. Solto o ar aos poucos ao lembrar que provavelmente essa será nossa última semana de trabalho. Sam confirmou a versão de minha amiga, a respeito do retorno do senhor Takahashi para o Japão, bem como o fechamento do café e o prédio onde moramos.

Isso e meu encontro com Luke Anderson foram suficientes para transformar uma noite de trabalho em puro filme de terror. Terror e comédia, se eu for parar para pensar na minha bebedeira.

Não vou mentir. Foi terrivelmente bom reencontrá-lo, mesmo com medo do meu coração sair pela boca, mas nada como algumas canecas de chopp para acalmá-lo. Luke é simplesmente o mesmo, com seus cabelos loiros e selvagens e pele bronzeada pelo sol. A diferença é que para o bem dele e de algumas mulheres, mas trágico o bastante para outras, Luke Stephen Anderson é ainda mais imponente, mais másculo e muito mais charmoso do que eu me lembrava. Seu sorriso cafajeste e lábios carnudos, como se dissessem: foderei você com a minha língua, continuam de vento em popa. E nossa! Que merda pensar na língua dele me fodendo.

— Tia Vie? 

— Língua… 

— Oi? — Ryan questiona e lembro-me com quem estou conversando. 

— O queeeeê? — Sei que estou gritando feito uma louca e pela cara dos pequenos pareço com certeza uma residente de manicômio. 

— Do que você está falando, tia? — Megan prende os cabelos ruivos num coque frouxo, enquanto pisco algumas vezes. Parabéns, Vie, pensando em sexo oral na presença de duas crianças. — Olha, tia, o Ryan me dando língua. — Solto o ar devagar ao escutar essa palavra. Palhaçada, Vie, não é como se o Luke ainda fosse seu crush.

Tia Vie? Ryle me chama novamente ela está bem? insiste, questionando para quem tenha mais capacidade de responder.

— Parece que vai surtar… — Megan replica, e tento focar no que interessa e não em Luke, seu corpo másculo, línguas mágicas e meu excesso de chopp e tequilas.

+++ 

À tarde, cansada de pensar na noite anterior, resolvo encontrar com Jill na cafeteria. Devido a ser funcionária do estabelecimento, estou sempre ganhando descontos maravilhosos na hora de pagar a conta. Pedimos um brunch, que basicamente é uma mistura do café da manhã com o almoço. Ovos mexidos, bacon, salsichas, waffles, panquecas com xarope de mirtilos, tortilhas, queijos e torradas compõem a nossa mesa, junto com leite morno para mim e suco de frutas para as crianças. 

— E aí, pequena? Já conseguiu passar aquela fase? — Sam questiona Megan, após sentar-se na nossa mesa. Ela ama jogos de videogame e adora conversar sobre eles com ele, ao contrário de Ryan, que prefere um bom livro.

— Ontem roubei uma Ferrari! — A menina solta, risonha, mas tampa a boca com as mãos quando olha para mim.

— Megan! — reclamo. Minha sobrinha parece amar o errado. — Eu já não tinha guardado esse jogo? 

— Jill deu a ela em troca de alcaçuz. 

— Ryan! — Ela b**e na cabeça do irmão e eu arregalo os olhos. A menina junta as mãos em formato de oração e reclamo com Sam, que ri. — Eu juro, tia, era só mais uma fase… Só uma e o GTA seria meu…

— Você está viciada, Megan! — reclamo, observando suas sardas se evidenciarem conforme franze a testa. — Esse jogo nem é para a sua idade. Não sei o que deu na cabeça do seu avô para dá-lo a você no último natal. Irei confiscá-lo quando chegarmos em casa.

Ela cruza os braços finos e franze mais o cenho, mal-humorada. Escondo o riso. Seu gênio parece muito com o meu quando tínhamos a mesma idade.

— Por que não tenta jogar Minecraft? É legal… — Sam tenta, mas a menina lhe envia um olhar quase fatal.

— O que houve? — Jill aproxima-se e, quando Sam revela sobre o que estamos conversando, aponta para dentro da cozinha: — Takahashi sun está me chamando. 

— Nem vem, Jill…

— Cliente novo… — E se vai, deixando-me mais irritada.

Assim que desaparece da nossa vista, Sam chama a minha atenção, interessado nos meus planos, após ser surpreendida com o desemprego. 

— Já pensou no que vai fazer? — Sam questiona, conforme as crianças estão ajudando o senhor Takahashi lavando os pratos. Megan quebrando mais louças do que consigo contar nos dedos. — Em relação a algum emprego novo.

— Não… — confesso. — Eu não quero trabalhar no pub todos os dias. Cansada de mãos bobas e cantadas baratas… — …e passados retornando ao presente. Penso no quanto fui imprudente quando deixei Luke se aproximar e ainda me deixar em casa. 

Se ele tivesse subido, eu não teria como explicar os brinquedos espalhados no meio da sala. Seu retorno seria um desastre, principalmente para as crianças.

— Nós acharemos alguma coisa, Vie. Fique tranquila! Se quiser, pode ficar lá em casa por enquanto. Não é grande, mas acomodaria a todos. — sorrio ao encarar os olhos claros de Sam. Ele é um bom amigo. Coloco meus dedos por cima dos seus e seu sorriso me causa uma energia boa. 

— Eu agradeço de coração, mas vou dar meu jeito. Tenho meus pais, posso voltar para casa, caso precise. — digo incerta, já que a casa dos meus pais é pequena demais para mais uma família. Ele concorda com a cabeça e continuamos conversando amenidades.

++++++++

No domingo, ainda acordo com o pensamento em Luke. Sonhos pervertidos me envolveram durante a noite e confesso que um desejo de ser preenchida por inteiro me alcançou. Acelerada ao extremo, para não dizer outra coisa, decido fazer faxina pela manhã. Faxina é vida para uma mente deturpada para o sexo selvagem e estresse diário. À tarde, fizemos um almoço na cafeteria. O senhor Takahashi fez questão de nos presentear com a culinária japonesa, que confesso odiar. Peixe cru é de longe o pior prato inventado.

De noite, enquanto assistimos a um filme de comédia com direito a baldes de pipoca, a campainha toca. Ryan franze a testa ao olhar para mim e damos de ombros juntos, conforme o menino caminha até a porta. Provavelmente é Sam, a não ser que Jill tenha esquecido o molho de chaves. Segundos depois, Ryan retorna e, com ele, um Luke aparentemente interessado em cada uma das crianças, mas seus olhos focam sobretudo em Ryan, que possui seus olhos e traços, enquanto Megan, a fisionomia da mãe. Gêmeos bivitelinos, portanto, não idênticos. 

— Tia Vie… — Ryan começa. — Esse moço quer falar com você… — diz baixinho, conforme Megan levanta a cabeça do meu colo, encarando os dois tanto quanto eu.

Engulo em seco ao perceber as pernas de Luke faltarem ao encarar a minha sobrinha. Ele se mantém no lugar, mas com olhos atentos.

— Acho que precisamos conversar, pirralha…

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