Capítulo 04 - Voo Noturno

As palavras de Pedro — "teremos que nos adaptar" — pairaram no ar, carregadas de um subtexto que fez a pele de Isabella se arrepiar. Adaptar-se era o que ela vinha fazendo desde que o conhecera, mas aquilo era diferente. Aquilo era um território perigoso e desconhecido.

A Suíte Imperial era menos um quarto de hotel e mais um apartamento palaciano suspenso sobre as luzes de Tóquio. Uma sala de estar enorme, decorada com um minimalismo luxuoso, separava duas portas idênticas em lados opostos. Uma parede de vidro oferecia uma vista de tirar o fôlego da cidade cintilante abaixo. O silêncio dentro da suíte, após a saída do mensageiro, era pesado e denso.

— Fico com o quarto da esquerda — disse Pedro, já afrouxando a gravata enquanto caminhava em direção à sua porta. — Peça o jantar. O que quiser. Coloque na conta do quarto. Esteja pronta para revisarmos a estratégia em uma hora.

Ele desapareceu atrás da porta, deixando-a sozinha no meio daquele espaço vasto e silencioso. Isabella sentiu-se como uma intrusa. A situação era profissionalmente inadequada e pessoalmente enervante. A proximidade forçada, a milhares de quilômetros de casa, desfazia a hierarquia de chefe e assistente, deixando-os perigosamente no mesmo nível.

Ela deixou a mala no quarto da direita — igualmente luxuoso e impessoal — e tentou focar no trabalho. Pediu um serviço de quarto simples e, exatamente uma hora depois, estava sentada à mesa de jantar da sala de estar, o laptop aberto e os documentos da reunião espalhados à sua frente.

Pedro surgiu de seu quarto, trocara o terno por uma calça escura e uma camisa preta de algodão que se moldava a seus ombros largos. Com o cabelo levemente úmido do banho e descalço, ele parecia menos o CEO implacável e mais… um homem. Um homem perigosamente atraente.

— Vamos começar — disse ele, sentando-se à sua frente.

Eles trabalharam por horas. A mente de Pedro era uma máquina. Ele dissecava cada ponto da apresentação, previa cada pergunta dos investidores e formulava respostas com uma precisão cirúrgica. Isabella se esforçava para acompanhá-lo, sua exaustão lutando contra a adrenalina. Pela primeira vez, ela o via não apenas como um chefe exigente, mas como um estrategista brilhante.

Perto da meia-noite, a voz dela falhou ao ler uma projeção de lucros.

Pedro ergueu o olhar do papel. — Você está exausta.

Não era uma pergunta, era uma constatação.

— Estou bem — ela mentiu, a voz rouca.

Ele a ignorou. Fechou a pasta à sua frente com um gesto final. — Já chega por hoje. Você não me serve de nada se desmaiar no meio da reunião amanhã. Vá dormir.

A ordem era tão absoluta quanto qualquer outra que ele já lhe dera.

— Mas ainda não terminamos a...

— Eu disse para ir dormir, senhorita Clark.

Ela se levantou, o corpo protestando de cansaço. — Sim, senhor.

Enquanto caminhava em direção ao seu quarto, a voz dele a parou, mais suave do que ela jamais ouvira.

— Isabella.

Ela se virou, surpresa por ele usar seu primeiro nome. Ele ainda estava sentado à mesa, mas a olhava de uma forma diferente. A máscara do CEO havia escorregado um pouco, revelando uma lasca do homem por trás dela.

— Você fez um bom trabalho hoje — ele disse, a voz baixa. — E na noite passada.

O elogio inesperado a atingiu com mais força do que qualquer uma de suas críticas. Deixou-a sem palavras, o coração batendo descontroladamente. Era a primeira vez que ele reconhecia seu esforço de forma tão direta.

— Obrigada, senhor Montenegro — ela conseguiu dizer.

— Pedro — ele a corrigiu, o olhar intenso prendendo o dela. — Quando estivermos a sós, esta noite, me chame de Pedro.

A mudança de tratamento era uma linha sendo cruzada, uma fronteira perigosa sendo dissolvida na calada da noite de Tóquio. Isabella sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela não sabia que jogo ele estava jogando, mas sabia, com uma certeza aterrorizante, que as regras haviam acabado de mudar.

— Boa noite... Pedro — ela sussurrou, e praticamente fugiu para a segurança de seu quarto, fechando a porta atrás de si.

Ela se encostou na madeira fria, o eco do nome dele ainda em seus lábios, a respiração ofegante. A reunião com os investidores japoneses já não era o evento mais perigoso em sua agenda.

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