Eu subestimei minha força.
Logo que entrei no cassino, fui atingida por tudo de uma só vez: meu corpo cedeu, o mundo começou a girar e minha visão se turvou.
E pouco antes de desmaiar, vi uma garota correndo em minha direção, com pânico nos olhos.
Engraçado como uma estranha parecia mais preocupada do que qualquer pessoa com quem eu havia passado anos construindo uma vida.
...
Quando abri os olhos, senti como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Todos os músculos doíam. Minha garganta estava irritada e minha pele queimava como febre.
— Onde estou? — Eu gemi, virando-me para a garota ao lado da cama.
— Você desmaiou. — Disse ela gentilmente. — Você estava com febre alta, mas agora já está melhor.
Ela se aproximou e retirou a toalha úmida da minha testa, com um sorriso suave.
— E você é...?
— Apenas uma das garotas que trabalham nas mesas do seu cassino. — Informou ela. — Já vi você pelo local algumas vezes. Sou a Selena.
Eu pisquei para ela. Ela era jovem. Carinhosa e inocente.
— Obrigada! — Sussurrei. — Por me trazer até aqui.
Ao observar seu rosto gentil e aberto, vi alguém em quem não pensava há anos.
Eu mesma. Antes de tudo ir para o inferno.
E, naquele momento, algo dentro de mim mudou.
Uma velha pergunta ressurgiu. Aquela que enterrei sob culpa, vergonha e silêncio:
"O que realmente aconteceu naquela noite?"
A noite em que Lila declarou que eu a havia traído, entregando-a a um monstro.
Durante anos, aceitei que a verdade permaneceria enterrada, porque as filmagens de segurança tinham desaparecido misteriosamente.
Mas eu nunca tinha ido até ele. O homem no centro de tudo.
Peguei meu celular e liguei para meu assistente:
— Você poderia marcar uma reunião com o Sr. Ivory?... Sim. Não, não é sobre negócios... é pessoal. Um incidente de muito tempo atrás... Ótimo. Avise-me quando e onde.
...
Em apenas 48 horas, eu já tinha um encontro marcado com o Sr. Ivory.
No fundo, eu esperava por um monstro: um bruto, alguém cuja presença transbordasse perigo.
Mas o homem que entrou na sala parecia saído de um anúncio de ternos sob medida: trinta e poucos anos, em forma, cabelos escuros penteados para trás e um relógio que provavelmente valia mais do que minha aliança de casamento. Bonito, charmoso… E desarmante.
— Srta. Brooks. — Ele cumprimentou, com uma voz suave. — O que a traz até mim?
Mantive minha expressão neutra, embora meus dedos se apertassem em um punho lento sob a mesa.
— Estou aqui para lhe perguntar sobre algo que aconteceu há vários anos. Aqui, neste cassino.
Um leve franzido surgiu em sua sobrancelha.
— Algo que eu fiz?
— Diga-me você. — Respondi, limpando a garganta. — Você se lembra de uma garota? Jovem. Ela disse... Que você a forçou.
Ele inclinou a cabeça, e um riso suave escapou de seus lábios:
— O quê? Srta. Brooks, eu pareço um homem que precisa forçar alguém?
Infelizmente para o mundo, ele tinha razão. Ele era o tipo de homem que as mulheres perseguiam.
Mostrei uma foto de Lila, com seu sorriso largo e doce.
— Você provavelmente não se lembra dela. Mas talvez isso ajude.
Ele deu uma olhada desinteressado. Depois se voltou para seu guarda-costas:
— Você a reconhece?
O homem ao lado dele sorriu como se estivesse esperando para ser perguntado:
— Ela? Sim, eu lembro dela.
Ele deu uma risada sombria:
— Aquela garota praticamente se jogou em cima de mim. Implorou para que eu a levasse até você, disse que faria qualquer coisa, então eu aceitei. — Ele bufou. — Depois, a expulsei. Mandei ela se foder quando terminei.
Ele olhou para Ivory:
— Um lixo como ela não valia o seu tempo, chefe.
Essa era a verdade. Lila jamais havia sido violada.
Ela tinha mentido…
Suas próprias escolhas, sua vergonha, a morte de seus pais. Ela se fez de vítima... E fui eu quem levou a culpa por ela.
...
Não corri direto para Elliot. Simplesmente fiquei sentada com a verdade, deixando que ela se instalasse profundamente em meus ossos, como um bálsamo após anos de hematomas.
No entanto, Elliot ligou na hora exata.
— Onde diabos você esteve, Olivia? — Sua voz parecia cansada, irritada. — Eu lhe disse para parar de fingir. Owen e eu precisamos de você. A Lila ainda está aqui. Por que não volta para casa e ajuda?
Ele fez uma pausa, para logo depois desferir a mesma facada de sempre:
— Você deve isso a ela, sabia?
Eu ri baixinho, soltando um pequeno som sem humor:
— Não devo nada a ela.
E então, desliguei.
Enviando a Elliot um único áudio, com pouco menos de dois minutos de duração.
O guarda-costas de Ivory, se gabando, explicava tudo: exatamente o que Lila fez e por que havia feito aquilo.
Em anexo, digitei uma mensagem:
"Aqui está a verdade que você sempre quis. Espero que você não chore muito quando perceber que tipo de puta sua preciosa Lila realmente é."
E com isso, guardei meu celular.