A televisão zunia em volume baixo, transmitindo um noticiário qualquer, mas nenhum dos dois prestava atenção. A chuva agora caía com mais força, batendo no telhado remendado da casa e formando goteiras nos cantos da sala. As paredes úmidas pareciam mais claustrofóbicas do que nunca. Marta estava recostada no sofá imundo, enquanto Geraldo andava de um lado para o outro, mastigando o lábio inferior como um cão enraivecido prestes a atacar.
De repente, ele parou no meio da sala e murmurou com uma convicção suja na voz:
“Não vai ter outro jeito. Vamos pra Seattle atrás daquela vadia.”
Marta ergueu os olhos devagar, como se precisasse de um momento para entender o que o marido dizia.
“O quê?”
Geraldo se virou para ela com o olhar arregalado, brilhando de ressentimento e oportunismo.
“Vamos pra Seattle. Vamos procurar repórteres, câmeras, qualquer um desses abutres da imprensa. Vamos contar tudo. Dizer como ela é ingrata, como nos abandonou depois de tudo que fizemos por ela. Que agora tá r