A sensação era a de que aquela sala de jantar podia me engolir inteira.
As paredes brancas, o lustre de cristal, o silêncio... tudo parecia ter sido montado para me lembrar que ali, eu não tinha controle de nada.
A mesa era imensa, feita para banquetes, mas só havia três lugares preparados: um à cabeceira e os outros logo ao lado. Perto o bastante para ser estratégico. Como tudo que Miller fazia.
Os talheres de prata estavam perfeitamente alinhados. Pratos de porcelana branca com filetes dourados. Rosas vermelhas no centro da mesa — vivas demais. O perfume enjoava. Quase me fazia tossir.
Sentei-me onde mandaram. Costas retas. Mãos no colo. Coração descompassado.
Respirei fundo. Fingiria. Até onde desse.
Então ele entrou. Mas não estava sozinho.
Long vinha logo atrás. Lento. Machucado. O corte na sobrancelha ainda aberto, o rosto marcado por hematomas, pulsos vermelhos como se tivessem sido amarrados por tempo demais.
Mesmo assim, estava impecável: camisa preta passada, terno escuro, c