Capítulo 23

“Às vezes, superar alguém não é apagar o que viveu. É aprender a olhar nos olhos do passado sem sentir que ele ainda tem poder sobre você.”

Acordei antes do sol, como vinha fazendo nas últimas semanas. O frio da manhã era cortante, mas eu já estava acostumada com o silêncio e o cheiro de terra molhada que pairavam ao redor do casarão àquela hora.

Ali, sozinha na varanda dos fundos, segurando uma caneca quente de café, pensei em como minha vida tinha mudado desde que aceitei o projeto da restauração. De início, parecia apenas mais um trabalho. Mas, no fundo, havia algo naquele lugar, e talvez em mim, que pedia reconstrução.

Naquela manhã, tudo estava silencioso. Sem vozes, sem passos apressados, sem reuniões ou interrupções. Apenas eu e minha respiração se encontrando no frio que saía da xícara.

Fechei os olhos por alguns segundos.

Sim. Eu estava mudando.

E o mais importante: não precisava mais fingir força. Ela estava ali, crescendo dentro de mim.

Pouco depois das oito, Re