Capítulo 46

O céu parecia carregado quando atravessei a estrada de volta a Ouro Preto, mas, estranhamente, meu coração estava leve. A viagem havia sido longa, mas não cansativa. Paraty ficou para trás como um capítulo encerrado com calma. Um lugar onde morei temporariamente, mas onde não deixei pedaços meus.

Na bagagem, só havia o essencial: algumas lembranças, meu caderno com rabiscos novos e a certeza de que era tempo de voltar, não apenas ao casarão, mas ao que construímos nele.

Miguel sabia que eu voltaria naquela terça-feira. Mesmo assim, a casa parecia quieta demais quando estacionei ao lado do galpão lateral.

Desci do carro e senti o cheiro da terra molhada se misturar ao perfume leve da madeira do casarão. O sol tentava romper as nuvens, como se o dia também quisesse recomeçar.

Estava colocando minha mala no chão da casa dos fundos quando ouvi a porta do casarão se abrir.

— Achei que só chegaria no fim da tarde. — a voz de Miguel cortou o silêncio com um calor que não vinha do