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Algumas primeiras vezes

Pela primeira vez em seus dezesseis anos ela estava sendo tratada como uma princesa em contos de fadas por alguém que não era seu pai, e aquilo era estranho. Nick veio buscar a ela com o seu motorista, ele abriu a porta pra ela, quando foram escolher o lanche ele pediu pra ela escolher pelos dois (nos encontros de amigos nunca ninguém perguntou o que ela queria comer, sempre os outros escolhiam).

Ela no início não sabia o que fazer e como se comportar, mas Nick pedia coisas sobre ela, como era a escola nova, sua rotina, se ele podia ligar pra ela. Ele era tão cativante quanto bonito.

Quando ele entrou na lancheria e viu Ellis sentada com um garoto ficou sem ação. Ela estava linda de saia preta soltinha (na altura das panturrilhas), uma camiseta de banda (que ele nunca havia escutado ela falar) e tênis branco. O cabelo estava preso em um coque, o que deixava seu pescoço a mostra, e a única maquiagem evidente era um lápis preto nos olhos. Porque ela parecia ser uma garota interessante naquele momento? E quem era aquele garoto?

Ele foi até uma mesa com seus amigos, eles tinham jogado bola e resolveram fazer um lanche juntos. Ele não havia pensado nela daquela forma, até aquele momento, como ela poderia ter se tornado uma garota que seus amigos estavam babando?

-Cara é a Ellis mesmo? - Eles sabiam que era, só estavam testando a sua paciência.

-Duvido, é uma prima parecida. Ellis nunca teve essa elegância e tino... - ele nunca havia percebido como seus amigos eram chatos.

-Deixem de ser bestas, é ela sim, e nem tá tudo isso, tão cegos por uma roupa diferente é- nem ele acreditava em suas palavras- ela está num encontro não é, claro que vai tá arrumada e mais interessante, se não for nesse momento quando vai ser?

-Não é isso Ben, você está querendo a diminuir, desde que ela foi embora, ela melhorou em tudo, ela aprendeu a se vestir, a se portar. Minha mãe falou que a mãe dela tava felizona, as notas também melhoraram, ela vai caminhar todos dias, se cuida, parece que ficar longe de você fez muito bem a ela.

-De todos nós, não só de Ben, nenhum de nós nunca fez nada por ela. Agora lembrando aqui, ela e as meninas sempre no acompanharam, mas ela nunca falou mais que cinco palavras, e se me lembro bem, ela comia o que o Ben pedia sempre.

E de longe eles viam a garota sorrir sinceramente para um garoto que não se sabia o que falava pois estavam longe, mas com certeza era algo sincero. O que o estava incomodando, porquê ele sempre se achou sincero pra ela, talvez até demais a ponto de machucar, agora ele percebeu que pôr causa de seus atos poderia ter perdido uma amiga de infância também, a menina que construiu seus castelos e enfrentou seus dragões.

Ela nunca pediu para ele lhe dar a mão, nem para pagar seu lanche, quando eles iam até ali ela ficava sempre por último, deixava todos os amigos e amigas pedirem antes, e acaba escolhendo algo que alguém já tinha escolhido. Na hora de sentar todos eles sentavam primeiro, o que normalmente fazia ela ficar espremida pra não cair da mesa, ou as pessoas batiam nela ao passar.

Agora ela estava tomando um chocolate quente lentamente, enquanto conversava algo que a fazia sorrir. Quando as pessoas que estavam atrás bateram sem querer nela o garoto trocou de lugar com ela. Toda aquela cena o estava deixando com vergonha, pois só agora ele percebeu que vários caras faziam isso para amigas e não só meninas que tinham interesse, e ele nunca foi capaz de fazer nada por uma menina que havia sido criado junto.

Quando eles terminaram de lanchar ele perguntou se ela não queria ir com ele a livraria, poderiam ir caminhando e depois ele chamaria o motorista. Foi quando ela viu Ben e a turma, na mesma mesa de sempre, e com os mesmos modos, ela apenas acenou pra eles com a cabeça.

-Sabe, eu nunca entendi porque você uma garota tão interessante, andava com eles...

-Nem eu agora entendo isso, acho que por ser criada com eles.

Os dois caminharam, ele contava alegremente sobre a faculdade, e de como era estranho ser precoce. Afinal ele tinha um ano a mais que ela, mas ainda sim já iria para o segundo ano da universidade. E apesar de ser inteligente, ele não usava isso para zombar dela ou ser maioral, tudo era uma grande novidade.

-Ola Ellis querida, você nem avisou as amigas que voltou... - Ellis deu um passo pra traz antes que Luna pudesse abraça-la e acabou esbarrando em Nick.

-Boa tarde Luna, sim minhas amigas, e quem eu precisava sabem da minha breve visita. Um prazer revê-la, e tchau.

- Que grosseria, está com medo que seu amigo se interesse mais por mim? -ela falou com os olhos brilhando.

-Desculpe, mas eu já te conheço, e você não tem absolutamente nada de interessante, desculpa Ellis, podemos vir aqui outro dia, vamos caminhar? - ele não deu tempo para ela responder, a pegou pela mão e a puxou para fora. - desculpa se ...

-Obrigada, Nick...- nunca ninguém a havia defendido, ela já havia engulido tanto desaforo de Luna que nem lembrava de quando ela havia ficado parada sem reação perto dela.

- Você não precisa dessas pessoas, sua escolha de ir embora, é mais correta. Espero que em dois anos você não volte pra isso aqui, e espero poder segurar sua mão mais vezes.

Ela sentiu as bochechas corarem, mas não se importou, pois ele era o primeiro que em todo esse tempo havia falado com ela de uma forma natural, sem trata-la como se fosse inferior ou infantil. Ela não sabia se queria algo com ele, mas sabia que ele era a primeira pessoa que fez seu coração bater mais forte, além de Ben.

Eles caminharam até seu prédio, ele pediu se eles poderiam se ver ainda antes dele voltar pra faculdade, ela concordou. Então eles se despediram com um abraço, que diferente era ser abraçada daquela forma, ele a segurou como se o mundo estivesse tremendo, como se ela fosse de vidro e se caísse iria se quebrar, aquilo era um abraço compartilhado, o primeiro que um garota havia lhe dado.

-Então Ellis, até chocolate quente você resolveu tomar, sendo que odiava... - Ben estava no elevador. Ela suspirou e então resolveu desabafar.

- Eu gosto, sabe porquê nunca tomava? Você e nossos amigos tinham pressa, e eu teria que ficar sozinha, porquê, NUNCA, ninguém me esperou, outra coisa, sabia que queima? você alguma vez reparou que sempre eu acabava com a roupa suja? Vocês me faziam sentar no canto, as pessoas atrás esbarravam em mim, as garçonete deixavam as vezes a bandeja na minha cabeça... EU NUNCA FUI PROTEGIDA, ESCUTADA, CUIDADA E ABRAÇADA POR VOCÊ! você não acha injusto, levar três anos para poder comer e beber o que eu queria?

Ela saiu do elevador e entrou na casa dela. Ele não sabia como arrastar sua vergonha do elevador aquela hora.

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