Retorno

Aquela foto de perfil dela foi o assunto mais comentado de toda a escola. Elogios, pessoas perguntando quando ela voltaria para tirar uma casquinha. O que chamou atenção dele é a expressão dela, estava relaxada, como se nada a cansasse ou a afligesse. Ele olhou algumas fotos que eles tinham em grupo, em todas ela olhava pra ele, e sempre tinha um sorriso pedindo aprovação.

-Ela tá linda né?

-Mia, porque está me fazendo essa pergunta?

- Você sabia que ela fazia escova progressiva no cabelo por sua culpa? e usava azul.

- Mas eu pedi pra ela fazer isso? Eu alguma vez pedi alguma coisa dela? - Mia fez uma cara de desaprovação e o deixou olhando para uma tela de celular.

Mais uma vez ele percebeu que ela estava muito melhor de cabelo cortado, e de preto. Mia tinha conseguido fazer ele pensar nela o dia todo. Ele que nunca havia mandado nenhuma mensagem primeiro para uma garota mandou uma mensagem pedindo se ela estava bem no seu perfil da rede social. Ela respondeu que estava ótima e agradeceu o elogio do cabelo, não pediu mais nada, como ele estava, como os amigos estavam, como os padrinhos estavam, nada.

Ela ficou abalada por ele perguntar como ela estava. Pensou em bloquear ele, mas sabia que não era o certo, então só deixou ele silenciado. Não queria criar falsas ilusões, para parar de pensar nele resolveu ler um livro.

Depois de alguns dias tudo voltou a sua rotina normal, mais uma das coisas que ela descobriu gostar, era caminhar de manhã, sem ninguém pra atrapalhar. Naqueles três meses ela havia descoberto tantas coisas sobre si que estava ficando triste que deveria ir pra casa por duas semanas de férias, tinha medo de se perder.

Preparada de todas as formas que pode, ela chegou em casa, seus pais haviam reformado o quarto. Ela ficou encantada com os detalhes em roxo e em preto, os novos móveis, era tudo novo e vazio, esperando pelos seus gostos e vontades.

Ela se livrou de algumas roupas azuis que estavam no guarda roupa, organizou livros que havia comprado, maquiagens e novas fotos. A tarde ela iria comprar alguns enfeites e roupas de cama. Sua família era bem de vida, ela nunca gastou nada, se contentava com o que ganhava de todos, e sempre guardava dinheiro de presentes da família e amigos, mas agora ela precisava se manter longe de lembranças passadas por isso faria um mundo seu em seu quarto.

Ele a viu saindo do prédio, ela se vestia diferente, caminhava com mais classe, sem aqueles pulinhos que dava antigamente. Ela parecia mais confiante e mais determinada. Ele sabia que era errado, mas queria ver se ela havia mudado mesmo, então resolveu seguir.

A primeira parada foi em uma loja de decoração, ela olhava pra tudo com muita concentração, e escolheu tudo que ele realmente achou que ela não escolheria. Era tudo muito diferente do que ela tinha antes, nenhum urso, nenhuma coisa fofa e chamativa, tudo em tons de roxo, preto e cinza.

- Ellis, que bom te encontrar. - Mia abraçou apertado - porquê você não...

- Boa tarde Mia, como vai você? Um prazer revê-la. - ela não queria muita proximidade, ainda machucava lembrar o quanto foi machucada por ela.

- Estou bem, vamos tomar um café? Eu te ajudo...- Ellis deu dois passos pra trás, e ficou bem ereta com as sacolas firmemente nas mãos.

-Obrigada, mas tenho compromissos. Um prazer em te rever, adeus.

Antes que Mia pudesse responder ela já havia se retirado da loja. Ela parou comprou um sorvete e andou vagarosamente pra casa, ela nunca tinha percebido como a vizinhança era bonita. As árvores eram bonitas e alinhadas, na primavera deviam ser lindas, porque ela nunca reparou nisso? toda a sua vida ela foi cega para as coisas boas e bonitas.

O que mais ela teria deixado passar? No dia seguinte ela iria caminhar cedo pra ver a vizinhança com outros olhos.

Depois de segui-la, resolveu entrar no elevador com ela, aquele era o melhor lugar pra ficar com ela. Ele percebeu que ela não gostou muito, mas não deu os suspiros que sempre dava pra ele e nem o olhava que nem se ele fosse um ator famoso.

-Sabe Ellis, Mia e Danny sofreram e sofrem bastante pelo o que aconteceu, você não acha que está sendo rude e injusta com a gente...

-Ben, você estava me seguindo? Mais uma vez, Boa tarde, como vai? como vai a escola? É assim que se cumprimenta as pessoas quando não se vê elas a um tempo sabia? mas mais uma vez...

-Você foi embora, você excluiu a gente da sua vida, você...

-Eu só dei a importância de que vocês davam pra mim, e ainda fui gentil, se desse o troco, eu iria zombar de vocês, iria quebrar sua autoestima e confiança em mil pedaços.

Ele a viu bater a porta da casa com raiva, ele não entendia porquê ela havia ficado tão irritada.

Correndo as cinco da manhã ela entendeu que nada havia mudado, Ben era egocêntrico e só via o seu mundo, e era ela que deveria manter a distância. E assim mais uma vez ela viu as árvores alinhadas, percebeu que o lago era lindo, que a escola era imponente e magistral e que os bancos na praça eram de uma beleza antiga.

Assim ela esbarrou em alguém que vinha da direção oposta. Ele a segurou para não cair, e sorriu de uma forma extremamente fácil pra ela. Nick havia estudado na sua escola no ano anterior.

-Bom dia Ellis! Uau você está maravilhosa! Um ano que não nos vemos e você fez toda essa transformação! - ele tinha ido pra faculdade antes, ele era um gênio de olhos escuros e cabelo castanho acinzentado.

-Nick, você... - ela deu passo pra traz para que pudesse escapar das mãos dele.

- Desculpa, só não queria que você caísse. Eu vim passar as férias com meus pais, fiquei sabendo que você também saiu da escola, fez muito bem pra você.

-Obrigada. - ela lembrava que ele sempre foi muito sincero, e algumas vezes havia ajudado com sacolas e livros. -Você gosta de caminhar ?

- Sim, esse silêncio me ajuda a ver um novo mundo, novas cores e pensar.. eu pensei alguma vezes em você.

- Eu? - ela o olhou aturdida, como ele poderia lembrar dela.

-A garota que me ajudou em meu primeiro dia dessa escola... você quer me dar seu número, podemos nos falar e ir tomar um lanche juntos.... - pela primeira vez ela deu o número do telefone pra um garoto.

Na volta pra casa ela não conseguia conter o sorriso. " Era só pra saber se você não me deu o número errado, até a tarde!"

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