Dias se arrastaram, mas a imagem do estranho da floresta permanecia vívida na mente de Isabella. Ela tentava racionalizar o encontro, convencer-se de que havia sido apenas um homem ferido que precisava de ajuda, mas a curiosidade a consumia. O amuleto de prata, com o lobo entalhado, repousava em sua mesa de cabeceira, um lembrete constante daquela noite incomum. Bella, que sempre buscou respostas nos livros, mergulhou em pesquisas. Bibliotecas online, fóruns de folclore, mitologias antigas – ela devorava tudo, buscando qualquer menção a seres com olhos intensos e auras selvagens que desapareciam na noite. Encontrou inúmeras referências a lobisomens, criaturas da noite que se transformavam sob a lua cheia, mas as descartava como meras lendas, histórias para entreter, não para serem reais. No entanto, uma parte dela, aquela que sonhava com o extraordinário, não conseguia ignorar a estranha ressonância que essas histórias tinham com sua experiência.
Foi em uma tarde chuvosa, enquanto organizava os livros na seção de mistério da biblioteca, que ele reapareceu. Kaelen Blackwood. Ele estava ali, parado entre as estantes, sua presença preenchendo o espaço com uma intensidade que fez o ar vibrar. Ele não a viu imediatamente, estava absorto em um livro sobre botânica, uma desculpa plausível para estar ali, mas Bella sabia que não era por isso. Ele estava ali por ela. Seu coração disparou, uma mistura de surpresa e uma emoção incontrolável. Ele vestia roupas simples, mas que não escondiam a musculatura definida de seu corpo. Seus cabelos escuros caíam sobre a testa, e seus olhos, aqueles olhos que a assombravam, varriam as prateleiras com uma concentração quase felina. — Posso ajudar em algo? — A voz de Bella saiu um pouco mais trêmula do que ela gostaria. Kaelen ergueu a cabeça, e seus olhos encontraram os dela. Um sorriso sutil, quase imperceptível, brincou em seus lábios. Ele se aproximou, e Bella sentiu o mesmo calor elétrico que havia sentido na floresta. A tensão entre eles era palpável, uma dança silenciosa de atração e cautela. — Estou procurando um livro sobre plantas raras da região. Disseram-me que esta biblioteca tem uma coleção impressionante — a voz dele era rouca, com um tom grave que fez Bella arrepiar. Era uma desculpa esfarrapada, mas ela não se importava. Ele estava ali, e isso era tudo o que importava. Os dias seguintes foram uma sucessão de encontros “casuais”. Kaelen aparecia na biblioteca, no café que Bella frequentava, ou até mesmo no parque onde eles se conheceram. Ele sempre tinha uma desculpa, uma pergunta sobre um livro, um pedido de recomendação. Bella, por sua vez, sentia-se cada vez mais envolvida pelo mistério de Kaelen. Ela percebia as peculiaridades: a forma como seus olhos brilhavam com um tom dourado quando ele estava irritado, a força incomum com que ele abria uma porta emperrada, ou a maneira como ele parecia farejar o ar antes de responder a uma pergunta. Ela as atribuía a excentricidades, a um charme misterioso que a atraía ainda mais. Em uma tarde, enquanto caminhavam pelo parque, um cachorro de grande porte, solto da coleira, avançou latindo em direção a Bella. Antes que ela pudesse reagir, Kaelen se colocou entre ela e o animal, seus olhos dourados fixos no cachorro. O animal, que parecia furioso um segundo antes, recuou com um ganido, o rabo entre as pernas, e fugiu. Kaelen se virou para Bella, seu rosto impassível, mas ela notou a tensão em seus ombros. — Você está bem? — ele perguntou, sua voz controlada. — Sim, estou… Obrigada. — Bella ainda estava em choque. — Ele parecia tão bravo. Como você fez isso? Kaelen apenas deu de ombros. — Tenho um jeito com animais. — A resposta não a convenceu, mas ela decidiu não insistir. Aquele incidente, por menor que fosse, serviu como um alerta. Havia algo mais em Kaelen do que ela podia ver, algo que desafiava a lógica e a razão. Enquanto isso, nas sombras, Liam, o segundo em comando da alcateia de Kaelen, observava a crescente proximidade entre o Alfa e a humana. A preocupação em seu rosto era evidente. Ele sabia dos riscos, das leis antigas que proibiam o envolvimento com humanos. Kaelen estava quebrando todas as regras, e isso poderia ter consequências desastrosas para a alcateia. Liam precisava agir, antes que fosse tarde demais. A semente do conflito estava plantada, e a tensão entre o dever e o desejo de Kaelen crescia a cada dia, enquanto Bella, alheia aos perigos, se aprofundava cada vez mais em um mundo que ela mal começava a vislumbrar.