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Coração de Prata
Coração de Prata
Por: Milcax
Capítulo 1: O Encontro Sob a Lua Prateada

Isabella Rossi sempre encontrou refúgio nas páginas empoeiradas de livros antigos e nas narrativas fantásticas que preenchiam sua imaginação. Em sua rotina diária, entre as estantes silenciosas da biblioteca municipal, onde o cheiro de papel envelhecido e tinta era seu perfume favorito, Bella sonhava com um mundo além do concreto e do previsível. Ela era uma alma romântica, com uma vida pacata que, para muitos, seria monótona, mas para ela, era um prelúdio para algo grandioso. Seu amor por histórias de amor épicas e criaturas míticas era quase uma ironia dramática, considerando o que o destino estava prestes a lançar em seu caminho.

Naquela noite, uma inquietação sutil a impulsionou para fora de seu apartamento aconchegante. Não era estresse, nem a necessidade de escapar de algo, mas sim um chamado inaudível, uma melodia antiga que parecia vibrar em seus ossos. A lua cheia, um disco de prata líquida suspenso no veludo escuro do céu, banhava a cidade com um brilho etéreo. Bella decidiu fazer uma caminhada, deixando-se guiar pelos caminhos sinuosos do parque que margeava a floresta, um oásis verde no coração da metrópole. O ar estava fresco, carregado com o aroma terroso de folhas úmidas e o doce perfume de jasmim noturno. Cada passo a levava mais fundo na atmosfera mística que a lua criava.

Foi então que ela o viu. Uma figura masculina, imponente mesmo na penumbra, estava escorada contra um carvalho centenário, sua silhueta esculpida pela luz prateada. Havia algo selvagem e primordial nele, uma aura de poder contido que a fez parar. Ele estava ferido. Uma mancha escura se espalhava em seu flanco, e a respiração irregular denunciava a dor. Kaelen Blackwood, Alfa de uma alcateia que existia nas sombras há séculos, estava em sua forma humana, mas seus olhos, mesmo na escuridão, brilhavam com uma intensidade que Bella nunca havia presenciado. Ele havia se envolvido em um confronto menor com caçadores, um grupo insistente que se aproximava perigosamente de seu território, e uma bala de prata havia encontrado seu alvo. A ferida, embora não fatal para um lobisomem, era agonizante e a prata impedia a cura rápida, drenando sua força e expondo sua vulnerabilidade.

Um arrepio percorreu a espinha de Bella, mas não era de medo. Era uma mistura de apreensão e uma compaixão avassaladora. Apesar do perigo evidente, sua natureza gentil a impulsionou para frente.

— Você está bem? — ela perguntou, sua voz um sussurro na quietude da noite. Kaelen ergueu a cabeça, seus olhos encontrando os dela. Havia surpresa em seu olhar, e um lampejo de algo mais profundo, algo que ela não conseguiu decifrar.

— Precisa de ajuda? — ela insistiu, aproximando-se cautelosamente. Ele hesitou, sua expressão indecifrável. A ousadia da humana o intrigava. Ninguém, em sã consciência, se aproximaria de um lobisomem ferido, mesmo em sua forma humana. Mas a bondade em seus olhos era inegável. Com um aceno quase imperceptível, ele aceitou a ajuda.

Bella tirou um lenço de sua bolsa, um pedaço de tecido macio com um leve perfume floral, e o ofereceu.

— Aqui, para estancar o sangramento.— Kaelen pegou o lenço, seus dedos roçando os dela. Uma corrente elétrica percorreu o braço de Bella, e ela sentiu um calor estranho se espalhar por seu corpo. Ele gemeu baixinho ao pressionar o lenço contra a ferida, e Bella sentiu uma pontada de dor em seu próprio peito. A tensão entre eles era palpável, uma energia quase eletrostática que os envolvia. Kaelen tentava manter uma barreira, uma distância emocional, mas a proximidade de Bella, sua inocência e sua preocupação genuína, o desarmavam. Ele sentiu o mate bond, a ligação de alma que unia lobisomens a suas companheiras, formando-se em seu interior, um reconhecimento primal que ele tentava desesperadamente ignorar. Era cedo demais, perigoso demais. Mas a atração era avassaladora, um ímã que puxava seus corações um para o outro. Bella, por sua vez, sentia uma conexão inexplicável, algo que ela nunca havia experimentado em seus romances de fantasia. Era real, visceral, e a deixava sem fôlego.

De repente, com um movimento rápido e quase imperceptível, Kaelen se afastou. A ferida, embora ainda dolorosa, já começava a cicatrizar, a prata perdendo seu efeito. Ele não podia arriscar ser visto, nem podia permitir que essa conexão se aprofundasse ainda mais.

— Obrigado — ele murmurou, sua voz rouca, antes de desaparecer na escuridão da floresta tão misteriosamente quanto havia surgido. Bella ficou ali, sozinha, com o coração batendo descompassadamente. Ele havia sumido, deixando-a com uma mistura de curiosidade, fascínio e uma pontada de decepção. Em sua pressa, ele deixou cair um pequeno amuleto, um pingente de prata com um lobo entalhado, que Bella pegou. O metal estava frio em sua palma, mas a imagem do lobo parecia vibrar com uma energia sutil. Era uma pista, um elo com o estranho que havia virado seu mundo de cabeça para baixo.

Bella retornou para casa, sua mente fervilhando com perguntas. Sua vida pacata havia sido irremediavelmente alterada por aquele encontro sob a lua prateada. Ela não conseguia parar de pensar nos olhos intensos de Kaelen, na força de seu toque, no mistério que o envolvia. Algo fundamental havia mudado dentro dela, e ela sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. O amuleto em sua mão era a prova de que não havia sido um sonho, e a promessa de que ela o encontraria novamente. A caçada havia começado, e Bella, sem saber, era a presa e a caçadora, atraída para um mundo de lendas que ela só conhecia nos livros.

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