O dia já caminhava para o fim quando Lara recebeu uma mensagem curta no e-mail interno:
> “Minha sala. Agora. — L. Moretti” O coração dela deu um salto. Não era comum receber convites assim diretos, principalmente de um homem conhecido por manter distância de todos. Respirando fundo, ela se levantou e caminhou até o último andar. Quando entrou, encontrou Leonardo debruçado sobre a mesa, a gravata já afrouxada, como se tivesse passado horas mergulhado no trabalho. Seus olhos, no entanto, estavam perfeitamente atentos quando a fitaram. — Feche a porta. — A ordem veio firme, sem espaço para questionamentos. Lara obedeceu, sentindo o ar da sala pesar. — Quero que leia esses relatórios e me diga o que percebe de estranho — disse ele, empurrando uma pasta em sua direção. Ela se aproximou, abrindo o documento. O conteúdo era complexo, mas não impossível. Lara foi apontando alguns números desconexos e, enquanto falava, percebeu Leonardo caminhando até o lado dela. Ele inclinou-se sobre seu ombro, apoiando uma das mãos na mesa, a outra segurando o papel. A proximidade era sufocante. O perfume dele, a respiração calma, o calor do corpo tão perto… tudo fazia com que sua concentração se desfizesse. — Boa observação… — murmurou, a voz baixa, quase roçando em sua orelha. Ela engoliu em seco, sem coragem de se mover. — O senhor sempre trabalha até tarde assim? — perguntou, numa tentativa frágil de quebrar o silêncio intenso. — Quando quero algo perfeito, sim — respondeu ele, desviando os olhos para ela de forma calculada. — E eu sempre quero perfeição. O olhar demorou-se mais do que o necessário. Lara sentiu o estômago revirar. A distância entre eles era mínima. Bastava inclinar-se um pouco para que seus lábios se encontrassem. Ele também pareceu perceber. Seus olhos desceram para a boca dela, depois voltaram ao olhar ansioso da jovem. — Sabe, você tem uma forma peculiar de enxergar detalhes. Não é só inteligência… é instinto — disse, a voz cada vez mais baixa, rouca. Lara tentou recuar, mas suas costas encostaram na beira da mesa. Ele não a tocava, mas a imobilizava com a intensidade da presença. — Sr. Moretti… — murmurou, a respiração acelerada. — Leonardo — corrigiu ele, com firmeza. — Quando estamos sozinhos, quero que me chame assim. O som do nome em sua boca quase saiu como um sussurro. — Leo…nardo. Um músculo no maxilar dele se contraiu, como se tivesse perdido o controle por um instante. Então, ele inclinou-se ainda mais. O rosto estava a centímetros do dela. Os lábios quase roçaram, e Lara fechou os olhos por reflexo. Foi nesse instante que uma batida seca soou na porta. — Senhor Moretti? — era a voz de Bianca, fria e incisiva. — Preciso falar sobre o contrato de Tóquio. O ar da sala pareceu se despedaçar. Leonardo afastou-se lentamente, endireitando a postura com a calma calculada de sempre. — Entre daqui a cinco minutos — respondeu, sem olhar para a porta. Quando os passos de Bianca se afastaram, ele voltou os olhos para Lara, que ainda estava ruborizada, tentando retomar o fôlego. — Volte para sua mesa — disse, a voz agora firme, fria, como se nada tivesse acontecido. — E lembre-se do que eu disse: chame-me pelo nome… quando estivermos sozinhos. Ela apenas assentiu, saindo apressada. Mas, ao cruzar o saguão, sua mente gritava em confusão. O que quase aconteceu ali? E por que, apesar do perigo, eu queria tanto que ele não tivesse parado?