O sol ainda mal havia surgido no horizonte quando Lara fechou a porta de casa, ajustando o casaco fino ao corpo. A noite anterior fora um turbilhão de pensamentos, mas agora não havia espaço para dúvidas. Precisava mostrar que merecia estar ali.
Chegou cedo à Moretti Corporation, tão cedo que o movimento no saguão era quase inexistente. O silêncio imponente do lugar a deixou ainda mais nervosa. O salto dos sapatos ecoava pelo mármore, denunciando cada passo até o elevador. — Você madrugou — uma voz suave surgiu ao seu lado. Era Camila, a colega que havia lhe dado algumas dicas no dia anterior. A jovem sorria, equilibrando uma pilha de documentos nos braços. — Queria dar uma boa impressão — respondeu Lara, um tanto tímida. — Continue assim. Aqui quem vacila não dura muito tempo — Camila piscou, antes de seguir em direção ao setor administrativo. Lara respirou fundo e entrou no elevador. Quando as portas se abriram no último andar, ela se deparou com uma cena inesperada: Leonardo Moretti estava de pé no corredor, sem gravata, a manga da camisa levemente dobrada, segurando uma pasta de relatórios. Ele parecia absorto em algum pensamento, mas ergueu os olhos no instante em que ela surgiu. — Sr. Moretti, bom dia — disse Lara, apressando-se em desviar o olhar. Ele, no entanto, não desviou. Observou-a de cima a baixo, como se analisasse cada detalhe. A intensidade de seus olhos fez o coração dela disparar. — Pontualidade é uma virtude. Gostei de ver. O elogio, curto e seco, não parecia habitual. O homem tinha fama de frio, e ainda assim, naquele instante, a voz dele carregava algo mais — um tom mais baixo, quase íntimo. — Obrigada, senhor — murmurou Lara. — Lara… — ele a chamou, e o som de seu nome em seus lábios soou diferente. — Passe na minha sala em vinte minutos. Quero que acompanhe a reunião de hoje. Vai aprender mais observando do que apenas digitando relatórios. Antes que ela pudesse responder, ele entrou em sua sala e fechou a porta. O coração dela batia descompassado. Por que ele me chama para coisas que não fazem parte do cargo? Pensar nisso a deixava nervosa, mas também estranhamente animada. No setor, Bianca não demorou a notar a aproximação entre eles. — Olha só, a novata já tem privilégios — comentou em voz alta, mexendo nos próprios papéis. — Alguns sabem usar bem o charme. Lara não respondeu. Fingiu não ouvir, mas as palavras a feriram. Ainda assim, não deixaria que aquilo a abalasse. Vinte minutos depois, estava diante da porta de vidro da sala de reuniões. Leonardo já a esperava, sentado à cabeceira da longa mesa. Com um gesto sutil, apontou para a cadeira ao lado dele. Ela obedeceu, tentando manter a compostura. Durante toda a reunião, Lara observou como ele comandava com firmeza. Sua voz era autoritária, cada palavra parecia planejada para não dar margem a dúvidas. Ainda assim, algumas vezes, ele se inclinava discretamente em sua direção para explicar um detalhe, como se quisesse garantir que ela não perdesse nada. — Está entendendo? — murmurou, de forma que apenas ela escutasse. — Sim, senhor — respondeu, tentando disfarçar o rubor que subia às bochechas. Havia algo na proximidade dele que a deixava inquieta. O perfume discreto, a firmeza do olhar, a sensação de que, mesmo em meio a tantas pessoas importantes, ele se concentrava apenas nela. Ao final da reunião, enquanto os executivos deixavam a sala, Leonardo permaneceu sentado, os dedos batendo levemente sobre a mesa. — Você tem olhos atentos. Isso é raro. Ela o encarou, surpresa. — Eu apenas… tento prestar atenção. Um sorriso quase imperceptível curvou os lábios dele. — Continue assim. Pode ser útil para mim… e para você. A frase ecoou em sua mente quando ele se levantou e saiu, deixando-a sozinha na sala, confusa entre o profissionalismo e algo mais que parecia crescer no ar entre eles. Enquanto voltava à sua mesa, Lara não conseguiu evitar um pensamento inquietante: talvez Leonardo Moretti não estivesse apenas testando suas habilidades. Talvez houvesse um interesse maior, perigoso, prestes a mudar tudo.