Lara saiu da sala de Leonardo Moretti com o coração disparado. As últimas palavras dele ecoavam em sua mente: “Está contratada.”
Era como se tivesse caído em um sonho. Não havia currículo analisado, nem perguntas formais, nem nada que se assemelhasse a uma entrevista de emprego. O homem simplesmente olhou para ela, mediu sua coragem e decidiu. Aquele olhar intenso, quase ameaçador, ainda queimava em sua memória. Ela ajeitou a bolsa no ombro, respirou fundo e caminhou em direção ao elevador. As pernas estavam trêmulas, e cada passo parecia pesado. Quando as portas de aço se abriram, deu de cara com uma mulher elegante que saía. Tinha cabelos loiros perfeitos, maquiagem impecável e usava um salto alto que ecoava pelo chão de mármore. Seus olhos azuis se estreitaram ao encontrar Lara, como se a avaliassem em um segundo. — Você é nova aqui? — a mulher perguntou com um tom carregado de superioridade. — Eu… sim, acabei de ser contratada. — A voz de Lara saiu baixa. Um sorriso sarcástico surgiu nos lábios da loira. — Veremos quanto tempo você aguenta. Sem dar chance para resposta, ela passou, deixando atrás de si um perfume marcante. Lara entrou no elevador, confusa e um pouco assustada. Quem era aquela mulher? A descida pareceu interminável. Quando as portas se abriram no térreo, Lara caminhou em silêncio pelo saguão. A recepcionista lançou-lhe um olhar curioso, como se perguntasse se realmente tinha dado certo. Lara apenas sorriu de leve e seguiu para a rua. A chuva ainda caía, fina, mas insistente. Ela abriu o guarda-chuva quebrado e começou a andar até o ponto de ônibus. Cada gota que escorria pela calçada parecia levar embora um pouco da tensão acumulada. Só quando se sentou no banco duro e gelado do ônibus noturno é que conseguiu respirar de verdade. O que acabou de acontecer? — pensava. Leonardo Moretti não era apenas poderoso, era… perigoso. Havia algo em seu olhar que a arrepiava, como se tivesse acabado de ser puxada para dentro de um jogo que não entendia. O ônibus seguiu seu caminho pela cidade iluminada. Lara olhava pela janela, imaginando como seria sua vida dali em diante. Haveria futuro naquele emprego? Ou apenas problemas? Quase quarenta minutos depois, o veículo parou em um bairro simples, de casas modestas e ruas estreitas. Lara desceu, encolhendo-se contra o vento frio, e caminhou até a pequena casa onde morava. O portão estava velho e rangia quando empurrado. As luzes da sala estavam acesas, e ela sabia que sua mãe a esperava. Ao abrir a porta, foi recebida pelo aroma de chá de camomila e pelo sorriso cansado de Dona Helena, que estava sentada no sofá com uma manta nos ombros. — Graças a Deus você chegou, filha. Já estava preocupada com essa chuva. Lara deixou a bolsa sobre a cadeira e correu para abraçá-la. — Demorei, mas tenho boas notícias. Os olhos da mãe se iluminaram. — Conseguiu? — Consegui. — Lara sorriu, embora ainda confusa com a forma como tudo acontecera. — Fui contratada na Moretti Group. Helena levou a mão à boca, surpresa. — Minha filha! Isso é incrível! É uma das maiores empresas do país! — Eu sei… — Lara sentou-se ao lado dela, apoiando a cabeça no ombro materno. — Mas não foi como imaginei. Não houve entrevista, não houve nada normal. O próprio Leonardo Moretti… ele me contratou pessoalmente. A mãe arregalou os olhos. — O famoso Moretti? Dizem que ele é frio, um homem sem coração. Lara suspirou. — Ele é… diferente. Assustador, de certo modo. Mas ao mesmo tempo… — ela hesitou, lembrando-se da intensidade do olhar dele. — Não sei explicar. Helena acariciou o cabelo da filha, preocupada. — Seja cuidadosa, Lara. O mundo dos poderosos não é como o nosso. Eles brincam com as pessoas como se fossem peças de xadrez. — Eu sei, mãe. Mas precisamos desse emprego. — Ela segurou a mão da mãe com firmeza. — Eu vou aguentar. O silêncio tomou conta da sala por alguns instantes. Apenas o som da chuva lá fora preenchia o ambiente. Helena sorriu, apesar da preocupação, e apertou a mão da filha. — Você é forte, Lara. Vai conseguir. Naquela noite, enquanto se deitava em sua cama simples, Lara encarou o teto escuro e deixou os pensamentos voarem. Estava feliz, mas também inquieta. O rosto de Leonardo Moretti surgia diante de seus olhos sempre que tentava fechar as pálpebras. O olhar dele, a proximidade sufocante, o modo como pronunciara seu nome… Algo dentro dela dizia que aquele contrato não seria apenas de trabalho. E que a vida simples que levava jamais voltaria a ser a mesma.