Cheguei à fazenda mais tarde do que gostaria. O dia tinha sido puxado — daqueles que começam com pendências acumuladas e terminam com ainda mais para resolver. Na produção, surgiram contratempos desde cedo, e até na transportadora o Diogo teve que intervir por conta de um caminhão parado na estrada. Nada parecia fácil hoje.
Assim que empurrei a porta do casarão, respirei fundo. O silêncio ali dentro contrastava com o ritmo acelerado do dia. Na sala, encontrei Laura sentada no sofá, o celular nas mãos, os olhos atentos à tela. Ela nem percebeu minha chegada de imediato. E por um instante, só a observei.
Seu corpo estava relaxado, mas havia algo na postura — no jeito como os ombros caíam levemente, como o polegar deslizava devagar pela tela — que denunciava o cansaço. Talvez ela também tivesse tido um dia longo. Ou talvez fosse só o peso dos últimos dias, somando devagar, sem alarde.
Ela não sabia que eu sabia.
Não sabia que as palavras do Thomás haviam chegado até mim, invadido