Capítulo 2
Naty Sampaio
Eu finalmente estava frente a frente com aquele homem. Ele era minha única esperança para salvar Luna, e eu seria capaz de tudo por ela, até mesmo me tornar a amante de um homem importante. Ele podia me julgar como uma qualquer, mas eu não me importava mais comigo mesma; só me importava com Luna.
— Você fez uma boa escolha. Irei fazer o teste de medula amanhã. Se der positivo, marcamos a cirurgia o quanto antes e, nesse meio-tempo, você se tornará minha mulher. Fará o que eu disser e vai aprender a ser uma dama da sociedade — disse, frio.
Não conseguia entender o porquê de um homem que poderia ter qualquer mulher haver me escolhido para isso. Mas também não poderia questionar.
— Sim, senhor. Farei o que disser — disse, ainda ajoelhada, tentando secar as lágrimas que ainda caíam do meu rosto.
— Diga-me, por que se casou com meu irmão e depois se divorciaram? — perguntou, e ouvi o barulho da cadeira quando ele se sentou.
— Levante-se e sente-se na cadeira — disse, autoritário.
— Sim — respondi, me levantando e sentando na cadeira de frente para ele.
— Eu conheci seu irmão há alguns anos. Eu era estagiária na empresa dele, e acabamos nos relacionando. Em pouco tempo, nos casamos em segredo. Tudo ia bem até três anos depois, quando ele começou a agir estranho e eu descobri sobre a minha gravidez — fiz uma pausa para recuperar o fôlego e continuei.
— Quando contei sobre a gravidez, ele disse que o bebê não era dele e me pediu o divórcio. Depois que assinei, ele me mandou embora, e eu não consegui mais encontrá-lo, nem mesmo para pedir ajuda para a minha filha — disse, triste, e limpei as lágrimas que caíam teimosas.
— Essa criança é mesmo dele? — perguntou, frio. Eu o olhei, irritada.
— Se quiser, pode fazer o teste de DNA, mas eu só o procurei porque é minha última esperança. Minha filha é a única que me mantém determinada a viver. Sem ela, eu já teria acabado com a minha vida inútil — disse, apertando as mãos. Eu sentia raiva de mim mesma por ter sido tão idiota em me relacionar com aquele homem.
— Muito bem. Para começar, iremos dizer que eu sou o pai de sua filha — disse, frio, levantando-se da cadeira e andando para perto da janela.
— O quê? — perguntei, surpresa.
— Meu irmão arruinou muito a minha vida. Por causa dele, fui privado de muitas coisas. Essa menina é uma Ferri, e não posso permitir que ela ande por aí como uma bastarda. Danilo acreditará que você o traiu comigo, e sua filha terá a chance de ter bons estudos e os melhores médicos à disposição — disse, sem me olhar.
— Danilo vai se corroer de ódio ao saber que eu sou o suposto pai da filha dele, e assim poderei me livrar dos velhos acionistas da empresa e do meu pai — disse mais baixo. Em seguida, se virou para mim.
— O que me diz? Está disposta a se tornar a senhora Ferri e dar uma vida adequada à sua filha? Ou então desistirá e a deixará morrer? — perguntou, parando à minha frente e colocando as mãos sobre os apoios da cadeira, ficando com o rosto próximo ao meu.
— Se não der certo… você ainda vai continuar pagando os estudos dela? — perguntei. Eu iria sacrificar a minha vida e minha liberdade por minha filha, mas precisava ter certeza de que ela teria tudo, mesmo se ele me largasse como o irmão.
— Sim. Prometo que sua filha terá ótimos estudos e que a assumirei como minha filha, mesmo depois que resolvermos acabar com este acordo futuramente — disse, sem se afastar.
— Está bem, eu aceito seus termos. Mas o senhor terá de fazer o teste hoje; quanto mais rápido soubermos se é compatível, mais rápido poderá fazer a cirurgia, e eu farei o que quiser — disse, determinada. Ele deu um pequeno sorriso.
— Mulher sábia. Vai se tornar muito útil para mim — disse antes de tomar meus lábios com os seus. Fiquei surpresa e de olhos arregalados, até que ele se afastou.
— Acho que precisará de umas aulinhas. Com esse beijo sem graça, não vai convencer ninguém de que sou o pai de sua filha e de que você já foi minha mulher — disse, se afastando e voltando para a sua mesa.
— Eu terei de beijá-lo em público? Não saberei dizer nada se me perguntarem algo relacionado ao senhor — disse, nervosa. Eu sabia no que estava me metendo. Não conhecia esse mundo, mas também não imaginava que ele seria tão apressado e que eu teria de me expor logo a essas pessoas ricas e importantes.
— Você terá alguns dias para me conhecer, assim como farei com você — respondeu.
— Por hora, vamos fazer o teste, esperar o resultado e depois tomaremos as devidas providências — disse, pegando seu paletó e me chamando para acompanhá-lo. Fui em silêncio, vendo as pessoas nos olharem curiosas.
Murilo Ferri
Essa mulher é realmente surpreendente. Há poucos instantes, ela estava chorando e suplicando por minha ajuda, e agora está aceitando meus termos sem questionar. Ela não tem interesse em saber por que tomei tais decisões, e sua filha é tudo o que ela realmente se importa. É capaz até mesmo de vender seu próprio corpo por isso.
— Ana, cancele todos os meus compromissos para hoje. Surgiu um imprevisto — disse para minha secretária temporária, que assentiu. Saí do prédio sendo seguido por aquela mulher bonita, porém pobre.
Entrei no carro e ela ficou parada do lado de fora. Abri o vidro e a mandei entrar; sem questionar, ela o fez, ficando em silêncio ao meu lado. Eu sabia que estava nervosa, e isso se demonstrou em nosso beijo.
— Onde sua filha está internada? — perguntei.
— Está no hospital Misying — disse, em voz baixa, sem me olhar.
— Um hospital caro, que faz esse tipo de tratamento. Como está conseguindo pagar? — perguntei, e ela suspirou.
— Eu trabalhei em uma empresa de TI há algum tempo; pude juntar dinheiro e, depois, vendi o pequeno apartamento que tinha. Estou morando com uma amiga; é assim que estou mantendo as despesas hospitalares até conseguir um novo emprego — respondeu, olhando para frente.
— Você vai trabalhar para mim se eu for compatível. Pagarei as despesas do hospital e você se mudará para a minha casa e, em breve, levará sua filha — disse, de forma fria e autoritária.
— Tem certeza de que quer apressar as coisas assim? — perguntou, me olhando.
— Este Murilo não tem tempo a perder. Se demonstrar que tivemos um relacionamento, poderei finalmente ter o que desejo — disse, sem olhá-la.
— Está bem — disse, simplesmente. Chegamos ao hospital, e ela me guiou até o médico da menina. Fiz o teste e agora só precisaríamos esperar o resultado.
— Quando o resultado sair, me ligue imediatamente. Conversaremos melhor depois disso — disse, entregando a ela um cartão de visitas com meu número, e voltei para a empresa.
Eu já estava com aqueles acionistas no meu pé há algum tempo, e meu pai estava cogitando a ideia de me tirar da presidência, tudo porque eu não me relaciono com nenhuma mulher. Dizem que um homem sem família não tem o que é necessário para se tornar presidente e diretor de uma empresa tão importante, que não saberei lidar com as devidas responsabilidades por não ter uma mulher. Mostrarei a eles que posso administrar uma grande empresa sozinho. Mostrarei que posso ser responsável e cuidar de uma mulher e de uma filha. Farei Danilo perceber a mulher que perdeu, e ele entenderá que não deveria me usar para ocultar suas burradas. Jamais voltarão a duvidar de Murilo Ferri.