CONTRATO SECRETO
COM O CEO Sheyla Bito Capítulo 01 – Aurora Um ano antes Aurora Deitada na cama do quarto que divido com minhas irmãs, ouvi um carro estacionar em frente à nossa pequena casa, num bairro pobre da Sicília. Fechei os olhos e fingi estar dormindo. Não queria ir. Mas não adiantava. Senti o toque leve e carinhoso das mãos da minha mama. — Chegou a hora, minha pequena — ela sussurrou, com a voz embargada. Seus olhos alternavam entre a dor de me deixar partir e a esperança de que eu pudesse ter um futuro diferente do seu. A promessa de um futuro melhor venceu sua resistência. Mas eu... ah, eu só acredito vendo. Minha mala já estava pronta, junto da bolsa com meus materiais escolares. Terminei o ensino médio e meus futuros patrões juraram que me ajudariam a entrar na universidade. Por isso levei meus cadernos — mesmo que, no fundo, eu não acreditasse nessa promessa. Despedi-me da minha mãe, engolindo as lágrimas, e entrei no carro luxuoso. O motorista acenou com a cabeça, como se percebesse o meu medo. Olhei pela janela uma última vez para a nossa casinha de muros baixos e portão enferrujado — simples, mas meu lar. Acenei até o carro dobrar a esquina e ela desaparecer da vista. Engoli o choro. Não podia fraquejar. Não sem antes tentar. Dias atuais Era meio-dia em ponto quando saí da universidade, onde curso Facoltà di Lettere e Filosofia. Meia hora depois, desci do ônibus na rua paralela à mansão onde moro e trabalho. Entrei pelos fundos, como de costume. Lá de dentro, consigo ver o mar azul, calmo. A areia clarinha me chama. Mas não posso ceder. Minhas funções me aguardam. Visto o uniforme, tomo um copo d’água rápido e corro para a sala de almoço. Preparo a mesa como madame Glória ensinou — com perfeição. Hoje há um lugar a mais. O filho mais novo dela está voltando. Nunca o vi, nem por fotos. A cozinheira e a arrumadeira comentam que ele é mais bonito que o senhor Henrique. Mas ele está atrasado. Henrique, já impaciente, resmunga na cozinha — o voo dele é ainda hoje, e o irmão está vindo justamente para substituí-lo na empresa. O telefone toca. Não somos nós, empregadas, quem atendemos. Madame atende diretamente. A notícia: Vicenzo não virá hoje, nem para o almoço. Glória finge aceitar, mas vi a decepção em seus olhos. Mais tarde, ajudamos a revisar as bagagens de Henrique. Madame se certifica de que tudo esteja no lugar. — Se depender do meu filho, ele escova os dentes com o dedo por semanas — resmunga, me arrancando uma risada. Ela sempre tenta tornar tudo mais leve. Quando o senhor Giuseppe veio buscar as malas, ajudei a levá-las até o elevador. Estava tudo pronto. Quase. Ao passar em frente ao quarto da madame, fui chamada. — Aurora, venha até aqui. — Entrei, ainda sonhando com um banho de mar antes que o sol fosse embora. Sobre a cama, um embrulho. E madame sorria feito uma cúmplice. — Comprei para você — disse com carinho. — Para ir à festa da faculdade em grande estilo, linda como as outras meninas. Sorri, grata. Ao abrir o embrulho, vi um vestido preto. Tentei esconder o desapontamento. — Calma — ela disse. — É um vestido coringa. Vamos investir nos acessórios. E foi o que ela fez. Uma echarpe rosa-pink translúcida, sandálias de salto nude, brincos discretos e sugestões de penteados. No closet dela, experimentei tudo. O vestido colava no corpo de forma elegante, sem vulgaridade. O rosa da echarpe destacava ainda mais minha pele clara e meus cabelos escuros. — Obrigada, madame. A senhora me salvou. Eu ia parecer uma camponesa no meio da cidade. — Você vai parecer uma deusa moderna — disse, toda orgulhosa. Depois disso, corri para o meu quarto, vesti meu maiô e me esgueirei pelos corredores em direção ao mar. A água ainda estava morna, mesmo com o céu alaranjado pelo fim da tarde. Dez minutos de mar e eu me sentia renovada. Voltei, tomei um banho e retomei minha rotina: preparei a mesa do jantar, arrumei os quartos e só descansei quando a madame se recolheu. Fiz uma chamada de vídeo com minha mãe. Ela chorou de saudades, e eu também. Mas me mantive firme. Aqui, eu estudo, trabalho, respiro. E um dia, quando eu me formar e tiver condições, vou trazê-la para perto de mim. Já ia abrir meu caderno de anotações quando ouvi o som inconfundível dos portões da mansão se abrindo. Estranhei. Era tarde demais para visitas. Curiosa, fui até a janela do meu quarto e vi um carro preto estacionar. Um homem desceu, alto, com os ombros largos, de terno escuro, mas o rosto indecifrável. Meu coração bateu mais rápido, sem saber o motivo. Ele entrou. E eu ainda não sabia, mas minha vida nunca mais seria a mesma.