A porta espelhada do elevador fechou-se lentamente diante de Aurora Santini, como se o próprio prédio quisesse engolir sua insegurança. Era o primeiro dia no novo emprego, e mesmo que tivesse passado noites estudando o nome da empresa, a cultura, os códigos de vestimenta e até os nomes dos diretores, seu estômago insistia em dar nós.
Segurava com força a alça da bolsa — uma peça antiga de couro falso que tentava parecer mais cara do que era. Vestia uma camisa branca simples, engomada com esforço, e uma saia lápis preta que ela mesma ajustara com linha e agulha. Era o melhor que conseguira montar com o pouco que restava no guarda-roupa depois de vender metade das roupas para pagar o aluguel.
Ela olhou para o painel digital. Andar 42. Diretoria Executiva. Um suspiro escapou de seus lábios pintados discretamente com um batom nude — o mesmo que usava em todas as entrevistas de emprego.
— Vai dar tudo certo — murmurou para si mesma. Sua voz foi engolida pelo silêncio do elevador espelhado.
Quando as portas se abriram, foi recebida por um saguão minimalista, com piso de mármore preto polido e um aroma sutil de madeira nobre. Tudo ali parecia limpo, rico e intimidante.
Um assistente elegante — camisa azul clara e crachá reluzente — caminhou em sua direção com um sorriso cortês.
— Senhorita Santini? O senhor Salvatore a espera em sua sala.
Ela assentiu, surpresa pela pontualidade do CEO. Não imaginava que o próprio Enzo Salvatore estaria presente na integração. Pelo que ouvira, ele era um homem ocupado demais para perder tempo com contratações — especialmente de assistentes temporárias.
Seguiu o assistente por um corredor longo, ladeado por portas de vidro e escritórios silenciosos. Quando a porta do final se abriu, ela o viu.
Ele estava de pé, de costas, olhando pela enorme parede de vidro que oferecia uma vista panorâmica da cidade. Trajava um terno escuro perfeitamente ajustado e segurava um copo com um líquido âmbar nas mãos. Apesar da distância, Aurora sentiu um arrepio.
Enzo Salvatore virou-se lentamente, como se já soubesse que ela estava ali.
E então ela o viu completamente.
Alto, imponente, de traços duros. Olhos escuros como breu e uma mandíbula marcada por um leve sombreado de barba. Ele não parecia real — era como uma pintura viva feita de tensão e domínio. Os olhos dele pousaram sobre ela com uma intensidade que fez seu coração tropeçar.
— Senhorita Santini — disse ele, a voz baixa e grave. — Sente-se.
Ela caminhou até a cadeira em frente à sua mesa. Tentou manter a postura ereta, as mãos no colo, o olhar firme. Mas os olhos dele não desviavam dos seus. Era como se a despisse com cada segundo de silêncio.
— Li seu currículo. Muito... esforçado. — Ele inclinou levemente a cabeça. — E está aqui porque precisa desesperadamente deste emprego, certo?
A pergunta cortou como navalha. Ele não sorriu. Não piscou. Apenas a olhava como quem já sabia todas as respostas.
Aurora engoliu seco.
— Estou aqui porque acredito que posso ser útil à empresa, senhor Salvatore.
Os lábios dele se curvaram, quase em escárnio. Um sorriso enviesado, perigoso.
— Gosto de gente direta. Poupa meu tempo.
Levantou-se lentamente e caminhou ao redor da mesa até parar ao lado dela. Seu perfume — uma mistura de madeira, couro e algo puramente masculino — a envolveu, e Aurora sentiu o corpo reagir contra a própria vontade. O coração acelerado. As mãos suando.
— Há regras nesta empresa, senhorita Santini. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Mas comigo, há... exceções.
Ela o encarou, confusa.
— Não estou entendendo.
Enzo inclinou-se até que os lábios ficassem perigosamente próximos de seu ouvido. Sua respiração era quente, firme, e um arrepio percorreu a espinha de Aurora como uma corrente elétrica.
— Você vai entender. Mais cedo do que imagina.
Ele se afastou e voltou para sua cadeira como se nada tivesse acontecido.
— Seja bem-vinda ao inferno mais agradável da sua vida.