4. A vista de todos

Luna acordou antes do despertador tocar.

O quarto de hóspedes tinha cheirinho de roupa recém-lavada, luz suave entrando pela janela e um silêncio tão absoluto que ela precisou de alguns segundos para lembrar onde estava.

No apartamento dele.

De Damian Vilar.

Ela se sentou na cama, sentindo a estranha mistura de ansiedade e adrenalina correndo pelo corpo. Naquela manhã, eles fariam sua primeira aparição pública como “noivos”.

O acordo, até então apenas palavras, começaria a tomar forma real. Visível. Observável.

E comentável.

Uma notificação vibrou no celular.

Damian:

Tenho uma roupa para você na cadeira ao lado do closet.

Use-a. Fica melhor para a ocasião.

Luna fez uma careta — metade irritação, metade curiosidade.

— Ele realmente não consegue evitar mandar em tudo… — murmurou, levantando-se.

Mas quando viu o que estava sobre a cadeira, a irritação sumiu.

Era um conjunto elegante, mas simples. Um vestido midi preto com corte impecável, tecido leve, decote discreto e um blazer estruturado combinando.

Clássico. Sofisticado.

E exatamente o tipo de coisa que ela imaginava uma mulher ao lado de Damian usar.

“Não vou admitir que gostei”, ela disse para si mesma enquanto experimentava.

Só que gostou. Muito.

Quando saiu do quarto, encontrou Damian na cozinha — mangas da camisa dobradas, relógio caro, cabelo perfeitamente alinhado.

Ele estava mexendo no celular, mas levantou o olhar assim que a percebeu.

E parou.

Por um segundo inteiro, ele simplesmente… observou.

Os olhos passaram pelo vestido, subiram até o rosto dela, e algo ali se contraiu — algo que ele rapidamente tentou esconder, sem sucesso total.

— Ficou… bom — Damian disse, a voz baixa, calculada. — Melhor do que eu previa.

Luna piscou.

— Isso foi um elogio?

— Foi uma constatação — ele corrigiu, mas desviou o olhar tarde demais. — Vamos. O motorista está esperando.

O caminho até o restaurante parecia mais longo que o normal. Luna estava sentada ao lado dele no banco traseiro, tão perto que podia sentir o calor dele mesmo sem se tocarem.

O silêncio, porém, não era desconfortável.

Era tenso. Denso. Cheio de coisas não ditas.

— Antes de entrarmos — Damian disse, finalmente quebrando o silêncio — preciso que lembre de algumas coisas.

— Certo.

— Primeiro: você vai andar ao meu lado. Não atrás.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Pensou que eu fosse o quê? Sua sombra?

— Não. Mas algumas pessoas vão esperar que você seja discreta, submissa. — Ele a encarou. — Não quero isso.

Luna apertou o cinto com os dedos.

— Você realmente sabe surpreender.

Ele não respondeu, apenas a olhou por mais um segundo do que deveria.

— Segundo: se eu tocar sua mão, sua cintura ou suas costas… é apenas parte do papel. Não se assuste.

“Não se assuste”, ele disse.

Como se o toque dele fosse apenas… casual.

Luna inspirou fundo, tentando manter o rosto sereno.

— E terceiro?

Damian hesitou por um instante.

— Terceiro… — ele pigarreou. — Confie em mim.

Ela virou o rosto, encarando-o por um segundo.

— Isso talvez seja o mais difícil.

Algo no canto da boca dele pareceu ameaçar um sorriso, mas ele conteve.

Quando chegaram ao restaurante, já havia fotógrafos do lado de fora — não muitos, mas suficientes para congelar Luna por dentro.

Damian percebeu.

— Respire — ele disse, saindo primeiro e estendendo a mão para ela. — Estou aqui.

Ela colocou a mão na dele, sentindo a firmeza, o calor, a segurança inesperada.

O mundo pareceu desacelerar.

As portas se abriram.

As luzes das câmeras piscaram.

E ali estavam:

Luna Reis e Damian Vilar.

De mãos dadas.

À vista de todos.

— Sr. Vilar! — um repórter chamou. — Pode confirmar o nome da sua noiva?

Damian não hesitou. Puxou-a suavemente para mais perto.

— Luna Reis - ele respondeu, com um orgulho tão convincente que fez o peito dela aquecer. — E não discutiremos mais detalhes hoje.

Luna mal teve tempo de se recuperar antes de entrar no salão interno. Era um ambiente luxuoso, reservado, mas ainda assim cheio de olhares curiosos — investidores, empresários, socialites.

E todos encaravam ela.

Damian se inclinou levemente.

— Fique perto.

— Você disse que eu não era sua sombra.

— Não é. — Ele colocou, com naturalidade, uma mão na base da coluna dela.

Quente. Firme.

— Mas eles vão observar cada detalhe. Prefiro controlar o que posso.

Luna engoliu seco.

O contato continuou.

Ele não soltava.

E ela não sabia se queria que soltasse.

A mesa principal estava posicionada bem no centro. Assim que chegaram, alguns homens se levantaram para cumprimentar Damian.

— Não a conhecíamos — um deles comentou, olhando Luna com curiosidade. — Então este é o motivo do seu desaparecimento recente?

Damian respondeu antes que ela pudesse sequer processar:

— Sim. — Ele olhou para Luna com uma intensidade que parecia ensaiada… mas não estava. — É exatamente por causa dela.

A mesa inteira murmurou, divertindo-se.

Luna sentiu o rosto esquentar.

Assim que se sentaram, Damian inclinou-se lentamente na direção dela.

— Você está indo muito bem — ele murmurou, baixo o suficiente para só ela ouvir.

— Não fiz nada.

— Fez tudo certo — ele corrigiu.

O garçom serviu vinho. Conversas se misturavam ao fundo, mas Luna só conseguia focar em uma coisa:

Damian estava mais perto do que jamais estivera.

E quando uma mulher elegante do outro lado da mesa comentou:

— Vocês dois… combinam. É impressionante.

Damian não desviou os olhos de Luna.

— Eu sei — ele disse simplesmente.

O ar pareceu parar.

Luna sentiu algo indescritível girar dentro dela — algo que ameaçava ser mais real do que o acordo, mais perigoso do que qualquer regra.

Damian Vilar estava interpretando o papel perfeitamente.

Talvez perfeitamente demais.

E de repente, pela primeira vez desde que tudo começou, Luna teve uma certeza assustadora:

Não era apenas ela que estava ficando presa na história.

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