5. Fissuras

O almoço durou mais do que Luna esperava.

Conversas, perguntas sutis, olhares invasivos… e Damian ao lado dela o tempo inteiro, mantendo as aparências com uma precisão quase militar.

Só que, quanto mais os minutos passavam, mais ela percebia algo estranho:

Ele não estava tão no controle quanto parecia.

Principalmente quando outro homem — um empresário mais velho — comentou:

— Então você finalmente decidiu sossegar, Vilar? Nunca imaginei ver esse dia chegar.

Damian respondeu com um sorriso tenso.

Quase imperceptível.

Mas Luna viu.

E viu também quando o mesmo empresário olhou para ela como se estivesse avaliando um item caro colocado na vitrine errada.

Foi ali que tudo começou a ruir.

Quando saíram do restaurante, Damian segurou firme a mão dela — firme demais.

Luna tentou acompanhá-lo, mas ele acelerou o passo, ignorando o motorista, ignorando a porta aberta, ignorando até a presença dela por um segundo.

— Damian! — Luna chamou, irritada. — Ei!

Ele parou.

Respirou fundo.

E soltou a mão dela como se tivesse percebido que estava machucando.

— Desculpe — ele disse, sem olhar diretamente para ela.

— O que foi aquilo lá dentro? — Luna cruzou os braços. — Você ficou estranho.

Ele passou a mão nos cabelos, gesto raro nele.

— Nada. Só… pessoas inconvenientes.

Luna estreitou os olhos.

— Pessoas que mexeram com você. Eu vi.

Ele finalmente a encarou — e havia algo ali que ela ainda não tinha visto de verdade:

fragilidade camuflada por raiva.

— Não era sobre mim — Damian disse, a voz mais baixa. — Era sobre você.

— Sobre mim?

— Sim. — Ele respirou pelo nariz, tenso. — Quando aquele homem olhou para você daquele jeito…

Ele não terminou a frase.

Luna, porém, entendeu.

— Você ficou… com ciúme? — ela provocou, não resistindo.

— Não — ele respondeu rápido demais. — Foi apenas desrespeito.

— Desrespeito comigo ou com você?

Os olhos dele brilharam de frustração.

— Com nós dois — Damian disse. — Com a nossa história. Com o nosso acordo.

“O nosso acordo.”

Sempre isso.

Mas, por algum motivo, doeu um pouco ouvi-lo insistir nessa parte.

— Damian… — Luna falou mais suave, tentando respirá-lo. — Estamos atuando. Isso aqui é teatro. Você não pode esperar que as pessoas te tratem como se…

— Como se fosse real? — ele completou, ríspido.

Luna engoliu seco.

Porque sim… talvez fosse exatamente isso.

Damian olhou para o lado, apertando o maxilar.

Parecia estar lutando com algo dentro dele.

— Eu preciso que funcione — ele disse. — Preciso que ninguém veja brechas. Nenhuma.

— E eu estou fazendo a minha parte — Luna respondeu, um pouco ferida com o tom dele. — Não fui eu quem perdeu o controle lá dentro.

Ele virou-se de volta para ela, os olhos estreitados.

— Controlada é exatamente como você deveria ser, Luna.

Aquilo atingiu em cheio.

— desculpa? — ela sussurrou, incrédula.

Damian percebeu tarde demais o que havia dito.

— Luna, eu—

— Não. — Ela levantou a mão, afastando-se um passo. — “Controlada”? É isso que você acha que eu tenho que ser? Um objeto elegante do seu lado? Bonita, quieta e sorrindo?

— Não foi isso que eu quis dizer.

— Foi exatamente isso que você disse.

Ele avançou um passo.

Ela recuou.

— Luna, eu só estava tentando te proteger…

— Proteger? — ela soltou uma risada amarga. — Você não precisa me proteger, Damian. Precisa confiar em mim. Eu estou aqui porque aceitei ajudar. Não para ser mandada ou moldada.

O silêncio que se instalou queimava mais do que qualquer discussão aberta.

Damian tentou falar, mas a porta do carro se abriu atrás deles.

O motorista pigarreou, constrangido.

— Estão prontos?

Damian permaneceu olhando para Luna.

E havia algo ali — um pedido mudo por uma chance de se explicar.

Mas ela desviou o olhar primeiro.

— Estou — Luna respondeu, entrando no carro.

Damian entrou segundos depois, mantendo uma distância milimétrica entre eles no banco traseiro.

Uma distância que, estranhamente, parecia imensa.

A tensão encheu o ar como fumaça.

Nenhum dos dois falou no caminho de volta.

Mas nos poucos momentos em que Luna ousou olhar para ele, Damian estava com os olhos fechados… Como se estivesse lutando contra um erro que não sabia consertar.

Como se estivesse com medo de ter estragado algo que nem deveria existir.

E Luna, pela primeira vez desde que tudo começou, teve um pensamento que a deixou inquieta: Se ele consegue me ferir… talvez isso já esteja real demais para mim também.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP