206. Festa surpresa
Lúcia Mendes Donovan
A casa estava silenciosa, mas não era um silêncio leve. Era aquele silêncio denso, cheio de cansaço. Eu observava Nate do batente da porta do escritório. Ele estava ali, sentado à frente do notebook, a gravata solta, a mão no cabelo como se tentasse arrancar da cabeça o peso do dia.
Desde que tudo tinha acontecido, o hospital, a tensão com o Enzo, o desespero da Moira, as notícias que pareciam não parar de chegar, ele não tinha tido um minuto de paz. E mesmo assim, todo dia, antes de se trancar nesse escritório, passava no meu quarto, beijava minha testa e a barriga, e tentava brincar com a Eliza. Tentava ser forte para todos.
Meu peito apertou. Ele carregava o mundo sozinho.
“Ele parece bravo de novo,” a voz da Eliza me assustou baixinho atrás de mim. Minha menina segurava o ursinho pelo braço, os cachinhos caindo nos olhos.
“Não é bravo, meu amor,” respondi, ajoelhando para ficar da altura dela. “É cansado. Sabe quando você brinca o dia inteiro e no fim só quer