“Liz Bianchi”Dois dias. Apenas dois dias foram suficientes para entender por que o departamento de design está estagnado.Não é por falta de talento — alguns dos designers realmente têm isso. É por falta de liberdade criativa.Paolo, o homem que me recebeu com hostilidade declarada, governa o setor como um pequeno ditador. Tudo, absolutamente tudo, precisa da bênção dele.Suspiro, reunindo as anotações que fiz nesses dois dias. Está na hora de apresentá-las a Ettore e, honestamente, não estou ansiosa por isso.Ouço a porta do meu escritório se abrir. Levanto os olhos, esperando ver Giulia, mas me deparo com outra pessoa.Isabella Ricci.Meu corpo se tensiona rápido, mas me forço a endireitar a postura.Claro que ela trabalha aqui. Porque a vida, às vezes, tem um senso de humor questionável.— Liz Bianchi — ela pronuncia meu sobrenome com um desdém quase palpável. — Finalmente posso dar as boas-vindas oficiais à nossa mais nova diretora de criação.— Isabella, que surpresa — respondo,
“Ettore Bianchi” Observo o rosto da minha mãe, deformado pela fúria mal contida, e sinto aquela velha exaustão conhecida. O mesmo olhar, a mesma tensão. As mesmas batalhas. Liz alterna o olhar entre nós dois, claramente ponderando se deve sair ou enfrentar minha mãe de frente. Mas agora, ciente de que Liz parou de recuar e se intimidar, não posso deixar isso acontecer. Não aqui. Não com minha mãe prestes a colocá-la para fora com as próprias mãos. — Liz, nos dê licença, por favor — digo, mantendo o tom calmo e profissional. — Claro, volto depois.— ela responde, visivelmente insatisfeita. — Ou podemos discutir isso na nossa casa, marido. Ela solta a provocação com um meio sorriso e segue até a porta. Ao passar por minha mãe, Chiara se afasta como se Liz fosse portadora de um vírus mortal. A porta mal se fecha, e minha mãe já me encara com intensidade. — Você não deveria estar em Turim? — pergunto, arqueando uma sobrancelha. — Não era esse o plano? Ficar longe das lembranças e
“Liz Bianchi” O dia finalmente termina, e me permito afundar na cadeira com um suspiro exausto. Meus dedos continuam sujos de grafite, resultado dos intermináveis ajustes que fiz nos desenhos depois da reunião desastrosa com a equipe. A porta se abre e Giulia aparece com duas xícaras de café. — Você parece acabada — comenta, colocando uma das xícaras na minha mesa. — É assim que me sinto — respondo, pegando o café com um sorriso grato. — Este dia parece não ter fim. Giulia puxa uma cadeira e se senta à minha frente, estudando meu rosto. — O que aconteceu? Solto um suspiro pesado, esfregando as têmporas. Por alguns minutos, faço um resumo do que aconteceu. Desde Isabella fingindo simpatia até Chiara, me expulsando da sala do meu marido como se fosse a dona de tudo. — E, para completar, Paolo inocentemente derrubou café na minha amostra de tecido — concluo, fechando os olhos por um segundo. — Que dia, hein — responde Giulia, quase com pena. — E isso é só o início. — Não esto
Ettore mantém os olhos fixos nos meus, como se tentasse ler o que se passa na minha cabeça. Seu rosto continua tranquilo, mas seu olhar muda, se torna mais frio, mais calculado. — Podemos ir embora? — pergunto, num tom mais baixo do que eu gostaria. — Não — responde calmamente, tomando um gole de vinho. — Acabamos de pedir a sobremesa. Lanço-lhe um olhar irritado, percebendo o brilho satisfeito em seus olhos. Ele está gostando disso, claro que está. Mais uma oportunidade de me ver vulnerável, desconfortável. — Como quiser — respondo, tentando aparentar uma calma que está longe de existir. Seguro o guardanapo com força, tentando controlar a ansiedade que cresce dentro de mim. O que deveria ser uma refeição tranquila após um dia caótico se transformou em mais um teste. Mais uma tortura. Desvio o olhar para Marco, que agora está sentado em uma mesa próxima. Ele não nos viu, mas é só uma questão de tempo. O sócio ao lado dele provavelmente já me reconheceu. E então acontece. Marc
Uma semana se passou desde aquele dia caótico, desde aquela noite de farpas trocadas nas escadas. Sete dias de silêncio educado e distância proposital. É como se tivéssemos estabelecido uma trégua não verbal, cada um mantendo-se em seu território. Ettore no escritório, eu no quarto. No café da manhã, interpretamos nossos papéis com perfeição diante dos empregados e seguimos com vidas separadas que raramente se cruzam. Na empresa, é a mesma coisa. Educação fria, profissionalismo exagerado. Como se aquela noite tivesse esgotado todas as emoções possíveis entre nós. É estranho como um único dia caótico parece ter valido por sete dias monótonos. Como se o universo tivesse decidido nos dar um breve respiro antes da próxima tempestade. E a próxima tempestade, aparentemente, é uma viagem de negócios à Suíça. — Liz, essa blusa já está implorando por misericórdia — a voz de Giulia me arranca dos pensamentos. Olho para a peça em minhas mãos, que de fato dobrei e desdobrei tantas vezes qu
— Tem certeza de que é uma boa ideia fazer uma surpresa, Liz? — minha melhor amiga pergunta, pela quarta vez só nessa ligação. — Sei lá… surpresas nem sempre acabam bem. E, sinceramente? Não confio nesse seu namorado. — Você implica com o Marco desde que o conheceu, Giulia. Admita, você o odeia porque ele é sério demais, diferente de você. — E você devia desconfiar justamente por isso. — Você disse que estava feliz por mim — sussurro, estacionando em frente à empresa. — E estou, mas… só tome cuidado, ok? Gosto de ver esse brilho voltando aos seus olhos, mas odeio imaginar que alguém possa apagá-lo de novo. Sorrindo diante da proteção excessiva da minha amiga, desligo o motor do carro. Após tudo o que aconteceu há três anos, o simples fato de me envolver com outro homem já é quase um ato de coragem. — Te ligo mais tarde, amiga. Vou tentar convencê-lo a almoçar comigo. Quero comemorar esses seis meses juntos. — Bem, boa sorte, amiga. Encerro a ligação e respiro fundo antes de
Por um segundo, tudo em mim congela. O coração, a respiração… até a lógica. E ele só me encara, como se estivesse me vendo pela primeira vez.Os traços continuam os mesmos — o maxilar marcado, os olhos azuis intensos, os cabelos escuros perfeitamente alinhados.Mas, ainda assim, Ettore está diferente. Nem sombra do garoto apaixonado que um dia me olhou como se eu fosse o centro do universo.Agora, aos 27 anos, aqueles olhos que já me adoraram me examinam como um executivo, analisando um investimento ruim.Tento não demonstrar o choque que é vê-lo depois de tanto tempo.Fingir calma é tudo o que me resta. Mesmo que, por dentro, o que eu realmente queira seja gritar, chorar, correr.Especialmente depois do dia que estou tendo.— Espero que atrasos não se tornem um hábito, Srta. Montesi — ele diz, num tom grave, impassível.Meus lábios se entreabrem sem querer. Depois de tudo que vivemos, ele vai me tratar assim? Tão frio? Tão formal?— Ettore… — sussurro, odiando o jeito frágil como min
As palavras saem de mim como uma rendição, como a sentença de algo que jamais escolheria. Ettore se vira lentamente, e, apesar de seu rosto parecer calmo, seus olhos o entregam. Ele está saboreando cada segundo disso.— Excelente escolha, Srta. Montesi — ele diz, com a voz controlada, quase indiferente.Enquanto ele se aproxima, meu pai solta um suspiro aliviado ao meu lado. Satisfeito por finalmente me quebrar para satisfazer seu desejo.— Ótimo, podemos voltar à sala e finalizar…— Na verdade, Sr. Montesi — Ettore o interrompe —, acho que agora é uma questão entre minha filha e eu. Meu advogado nos espera para finalizar o contrato.— Entendo, mas como presidente da Montesi, eu deveria…— Os documentos referentes à empresa serão enviados ao seu departamento jurídico ainda hoje — Ettore interrompe novamente, com um tom que não permite argumentos. — Porém, o acordo matrimonial é uma questão privada.— Claro — meu pai finalmente aceita, claramente insatisfeito. — Liz, não me decepcione