Larissa ergueu a cabeça na direção da voz e parecia olhar para o presidente e com segurança, apesar do medo que sentia, narrou o que lembrava ter acontecido na fatídica noite.
— Meu pais tinham viajado e iriam voltar naquela noite, mas disseram que eu não os esperasse, pois chegariam muito tarde, então, eu me deitei e dormi, só acordei de manhã com meu irmão me sacudindo e me acusando de ter matado nossos pais. Larissa tentou se controlar ao máximo, não demonstrando tudo que sentia, mas as lágrimas inundaram seus olhos e começaram a rolar pelo seu rosto. — Você está dizendo que é inocente? Como se declara, Larissa Solomon? — Culpada. Foi uma comoção de expressões de surpresa. — “ Como ela disse que dormiu e se declarou culpada? ” — “ Então foi ela mesma? “ — “ ASSASSINA! ASSASSINA! “ — Começaram a gritar. — SILÊNCIO! — O Alfa Saulo liberou sua dominância para aquietar o povo. — Senhor presidente, tem alguns fatos que ainda não foram divulgados e que podem justificar a declaração da acusada. E ela ainda não foi considerada culpada para ser chamada de ré. — disse o Alfa, olhando para o presentesq. Todos os presentes, conforme o Alfa falava, entendiam porque ele era o Alfa. Sua postura, categoria e inteligência no falar, provava que sua palavra era real e verdadeira. — Pois então, mostre-nos o que falta. Leonel voltou a falar: — Só ontem, senhor, nós soubemos que a acusada sofreu torturas durante todo o tempo que esteve presa. Está com o corpo todo marcado e a última tortura foi a apenas a três qdias e foi tão terrível, que não tenho coragem de narrar, mas o doutor que aqui está presente, pode esclarecer melhor. O doutor levantou-se e se colocou ao lado do cercado de Larissa. — Todos me conhecem, sou o Dr. Joel, responsável pela clínica da Alcateia. Na primeira vez que a serva Lia encontrou a Larissa acorrentada e ferida, ela me chamou. Foi uma semana após ela ter sido presa, estava muito ferida e eu cuidei dela. Depois disso, a cada mês ela levava uma surra e tomei uma providência drástica: instalei câmeras para gravar quem a estava torturando. Se me permitem, vou passar as imagens, apenas aviso que são chocantes. Larissa segurava o apoio de madeira com tanta força que as juntas de seus dedos estavam brancas. Só de lembrar o que passou, ficava apavorada e não imaginou que alguém pudesse ter filmado o que aconteceu e fosse expôr para todos verem. Começou a gemer se encolhendo e falou baixinho: — Por favor, não. — O quê, Larissa? — perguntou o presidente. — Por favor, não mostrem para todos…é muito difícil para mim. — Eles precisam ver o que fizeram com você, Larissa, não foi justo. — disse o Dr. Joel. — Você querendo ou não, precisamos ver, não é seu direito decidir. — disse o presidente — Passe o vídeo. Saulo observava tudo, calado. Doía dentro de si o que via de sofrimento na expressão daquela jovem. Não sabia explicar o porquê de seu coração bater tão forte e apressado por aquela que foi considerada uma assassina. Por isso, não se manifestou e nem contou o que sabia, deixando para os outros narrarem e decidirem. Um dos guardas que já estava com tudo pronto, pegou o controle remoto do aparelho e deu play. As imagens começaram a mostrar os corredores vazios da masmorra e logo a seguir, a entrada de Carl e Drucila, andando pelo corredor. As cenas foram mudando conforme eram captadas pelas câmeras, no local por onde eles passavam e mostrou quando tiraram Larissa da cela e a prenderam na parede de tortura, com grilhões e correntes. Dali em diante, foram muitos gritos e frases ditas pelos algozes, xingamentos e ameaças à jovem prisioneira. Larissa tampou os ouvidos com as mãos e foi-se abaixando até ficar encolhida no chão, em um canto atrás da grade. Todos estavam chocados com as cenas de tortura aplicadas na jovem, o presidente pediu que passassem as cenas adiante até a última, pois não queria ficar assistindo tanta crueldade por tanto tempo. Quando chegou na última, viram o absurdo de tudo que foi feito no corpo de Larissa e ouviram a ameaça de Drucila: — … em três dias você irá a presença do Conselho e irá confessar o crime. Entendeu? O vídeo foi parado e a tela fechada. O Dr. Joel, então, concluiu: — Aí está o porquê de Larissa declarar-se culpada. — Não podemos julgar baseados no sentimento de pena por tudo que ela passou. Com tudo que vimos e ouvimos, vamos nos retirar e deliberar, voltaremos com uma decisão. — disse o presidente. O Alfa Saulo seguiu o conselho do anciãos e foram para uma sala que ficava atrás do salão, ali, com a porta fechada, debateram todos os fatos narrados e chegaram à conclusão que não tinham provas suficientes para a acusar. — Mas ela se declarou culpada diante de todos. — disse o mais encrenqueiro de todos. Saulo tinha uma cisma com ele, pois ele era contrário a tudo o que se dizia ou decidia na Alcateia. Não sabia porque o homem agia daquela maneira, mas estava sempre de olho nele para não correr riscos desnecessários com suas atitudes impensadas. — Qual a parte dela ter sido coagida, o senhor não entendeu, conselheiro Douglas? — perguntou o Alfa, controlando Soul, que queria atacar o macho. — Mesmo assim, ela confessou. O presidente também já estava acostumado com a mania de contradizer tudo, de Douglas e decidiu: — Vamos votar: quem considera que não há provas suficientes para condenar a acusada, levante a mão. Só Douglas não levantou a mão e assim o presidente decidiu que estava encerrada aquela discussão e que liberariam a jovem por falta de provas. Com isso decidido, antes de saírem, Saulo expôs outra questão: — Todos viram a fita e quem torturou a jovem. Ela não tinha este direito e está presa, não exatamente por este crime, pois eu ainda nem tinha visto a fita. Eu a mandei prender porque ela ousou me drogar e fingir que dormimos juntos para que eu assumisse o filhote de outro, que ela carrega em seu ventre.