Eu odeio que ele consiga me afetar tanto sugerindo outras mulheres. Odeio pensar que eu não sou o suficiente, nem em um relacionamento de verdade e muito menos em um de fachada.
Talvez Flávia estivesse lá, muito feliz em contente em lhe dar o que ele sente tanta falta. Amor, talvez? Quem sabe eu subestimei o relacionamento dos dois, botei meu preconceito à frente de todos e não percebi que estava entrando no meio de algo, de um relacionamento menos instável do que esse que temos agora.
— Me dê uma boa razão pra não me divorciar de você agora mesmo, Dante.
Meu Deus como eu odeio a maneira que minha voz treme e falha. Como o choro entalado embarga minha voz e me faz parecer fraca. Machucada como um passarinho.
— Eu sei que você impôs que o casamento precisa durar um ano e a gente já conversou sobre isso, mas… acho que você tem razão — minha voz falha quando tenho que admitir. Meu avô me encara, esperando que eu faça mais que isso, que eu diga com todas as palavras. — Acho que Bella está envolvida com Maicon Romano.Seus olhos se estreitam na minha direção.— Eu não me importo se ela dormiu com ele ou não… — ele começa. Seus tom de voz vai ficando cada vez mais denso a medida que ele continua a falar. — Eu só preciso saber o que foi que ela tem para usar contra nós?— Nada, claro. Eu não tenho nada em casa que ela possa ter acessado.
O prédio é antigo, mas discreto. Um desses lugares onde ninguém faz perguntas demais. Lembra um pouco o prédio onde eu morava antes do casamento.Maicon me recebe com uma ceno discreto. Seu rosto está mais sério que o habitual e a pequena sala com paredes descascando está carregada de tensão.— Tem certeza que não foi seguida? — ele pergunta baixinho logo que entro.— Fiz o trajeto que você pediu, se alguém me seguiu é bom demais pra ser notado.Ele me encara sabendo que essa é uma possibilidade, mas não fala nada. Me acomodo em uma das cadeiras e engulo em seco quando percebo que não sou bem-vinda. Esse é tipo um clube secreto de inimigos dos
O garçom serve o vinho enquanto encaro o homem do outro lado da mesa em silêncio. Não sei bem o que me fez aceitar esse convite, talvez as teorias de Bella esteja começando a me afetar.— Então, como vão as coisas entre você e Bella? — Maicon Romano pergunta assim que ficamos sozinhos.Ele sustenta um sorriso tranquilo, o que encaro como deboche. Solto um riso curto e seco.— Você deve saber, tá vendo ela mais do que eu.Maicon inclina a cabeça, tentando me decifrar.— Acha mesmo que ela faria isso com você?— Não seria a primeira vez que você faz, né? —
Eu deveria estar mais interessada no envelope fechado com o nome ‘Isabella’ escrito à mão com uma caligrafia cuidadosa. Mas o caminho até em casa me deixou enjoada e por esse mesmo motivo, fiquei o tempo todo distraída pensando no que Maicon disse.E se eu estiver grávida?Quero muito acreditar que não, e seria tão mais fácil se o casamento tivesse sido só de fachada o tempo inteiro, mas não foi e bem… eu poderia, sim, estar grávida.A possibilidade lança mais algumas contrações no meu estômago, mesmo que eu não tenha mais nada para vomitar. Parece que quanto mais penso nisso, mais as peças se encaixam e tudo passa a fazer sentido.A n&
Não me interessa que horas são. Ligo de dentro do carro, batendo os dedos no volante enquanto os bipes da chamada ecoam pelos alto-falantes.— Dante, eu queria mesmo falar com você, só não pensei em ligar tão tarde.Ignoro sua indireta quando respondo.— Encontrou algo?— Sim, conseguimos algumas coisas bem interessantes sobre o agiota.— E não pensou em me ligar tão tarde? — esbravejo. — Deveria ter me ligado a hora que fosse!— Sim, claro, é só que… bem, é uma situação delicada, você deveria falar com seu advogado para decidir o que faz
Chego na recepção dois minutos depois do fim do horário de visita. Explico minha situação e nem preciso fingir desespero. Assim que boto os pés lá, sinto absolutamente tudo dentro de mim e começo a chorar copiosamente, me sentindo mais sozinha do que nunca.Daniel aparece e me explico outra vez, em prantos. Acabam me deixando entrar. O lugar parece mais silencioso do que me lembrava, provavelmente a maioria aqui repousa em um sono profundo e sedado.— Ele está mais estável, mais calmo, isso deve ajudá-la — Daniel comenta enquanto me guia.— Me ajudar com o quê?— Você passou muito tempo longe, ele achou que tinha sido abandonado. — Quer dizer que esse tempo todo você ficou trabalhando com o Maicon pelas minhas costas?Minha voz é firme, a raiva se acumulando na superfície, prestes a saltar da garganta.— Eu queria te contar, mas quanto mais eu descobria, mais fazia sentido te deixar fora disso.— Me deixar fora disso? Da minha própria vida, você quer dizer? — pergunto, forçando no deboche.— Sustento meu argumento. Ainda acho que quanto menos você souber, melhor pra sua defesa — Enzo garante.Ficamos nos encarando sentados no sofá de seu apartamento, a porta da varanda está aberta e o zumbido distante da cidade é a única coisa que ouvimos por Capítulo 98 - Dante Vasconcellos
Não consigo parar de chorar. São tantas lágrimas que minha visão fica embaçada e eu mal consigo enxergar as letras no papel.Bem que Maicon avisou, não é uma história leve, mas suspeito que meu estado esteja muito mais relacionado com o sentimento novo aflorado que faz abrigo em minha barriga.Esfrego os olhos, tentando me recompor. Coloco a carta enfileirada com as cópias de boletins de ocorrência antigos, as transcrições de e-mails resgatados do servidor de uma empresa e a foto de uma mulher anexada a uma certidão de casamento. Célia Cipriani e Luigi Cipriani.Célia Romano, nome de solteira.A mãe de Maicon.A cart