Quando volto para casa, não espero encontrar um silêncio imaculado, mas sou recepcionado pelo vazio sonoro e algo revira no meu estômago.
Meu instinto me força a caminhar confiante casa adentro e meu alívio é imediato quando chego no quarto e Isabella está lá, com jeito de quem nem saiu da cama o dia inteiro. Gosto de pensar que ela ouviu meus passos firmes, como se eu não me importasse com nada, como se eu fosse a porra do dono do mundo.
— Onde está todo mundo? — pergunto.
— Dispensei todos eles, estamos cansados de empacotar coisas — ela responde com uma naturalidade assustadora.
— Quem você pensa que é para dar ordem aos meus funcionários?
<Eu odeio que ele consiga me afetar tanto sugerindo outras mulheres. Odeio pensar que eu não sou o suficiente, nem em um relacionamento de verdade e muito menos em um de fachada.Talvez Flávia estivesse lá, muito feliz em contente em lhe dar o que ele sente tanta falta. Amor, talvez? Quem sabe eu subestimei o relacionamento dos dois, botei meu preconceito à frente de todos e não percebi que estava entrando no meio de algo, de um relacionamento menos instável do que esse que temos agora.— Me dê uma boa razão pra não me divorciar de você agora mesmo, Dante.Meu Deus como eu odeio a maneira que minha voz treme e falha. Como o choro entalado embarga minha voz e me faz parecer fraca. Machucada como um passarinho. — Eu sei que você impôs que o casamento precisa durar um ano e a gente já conversou sobre isso, mas… acho que você tem razão — minha voz falha quando tenho que admitir. Meu avô me encara, esperando que eu faça mais que isso, que eu diga com todas as palavras. — Acho que Bella está envolvida com Maicon Romano.Seus olhos se estreitam na minha direção.— Eu não me importo se ela dormiu com ele ou não… — ele começa. Seus tom de voz vai ficando cada vez mais denso a medida que ele continua a falar. — Eu só preciso saber o que foi que ela tem para usar contra nós?— Nada, claro. Eu não tenho nada em casa que ela possa ter acessado.Capítulo 92 - Dante Vasconcellos
O prédio é antigo, mas discreto. Um desses lugares onde ninguém faz perguntas demais. Lembra um pouco o prédio onde eu morava antes do casamento.Maicon me recebe com uma ceno discreto. Seu rosto está mais sério que o habitual e a pequena sala com paredes descascando está carregada de tensão.— Tem certeza que não foi seguida? — ele pergunta baixinho logo que entro.— Fiz o trajeto que você pediu, se alguém me seguiu é bom demais pra ser notado.Ele me encara sabendo que essa é uma possibilidade, mas não fala nada. Me acomodo em uma das cadeiras e engulo em seco quando percebo que não sou bem-vinda. Esse é tipo um clube secreto de inimigos dos
O garçom serve o vinho enquanto encaro o homem do outro lado da mesa em silêncio. Não sei bem o que me fez aceitar esse convite, talvez as teorias de Bella esteja começando a me afetar.— Então, como vão as coisas entre você e Bella? — Maicon Romano pergunta assim que ficamos sozinhos.Ele sustenta um sorriso tranquilo, o que encaro como deboche. Solto um riso curto e seco.— Você deve saber, tá vendo ela mais do que eu.Maicon inclina a cabeça, tentando me decifrar.— Acha mesmo que ela faria isso com você?— Não seria a primeira vez que você faz, né? —
Eu deveria estar mais interessada no envelope fechado com o nome ‘Isabella’ escrito à mão com uma caligrafia cuidadosa. Mas o caminho até em casa me deixou enjoada e por esse mesmo motivo, fiquei o tempo todo distraída pensando no que Maicon disse.E se eu estiver grávida?Quero muito acreditar que não, e seria tão mais fácil se o casamento tivesse sido só de fachada o tempo inteiro, mas não foi e bem… eu poderia, sim, estar grávida.A possibilidade lança mais algumas contrações no meu estômago, mesmo que eu não tenha mais nada para vomitar. Parece que quanto mais penso nisso, mais as peças se encaixam e tudo passa a fazer sentido.A n&
Não me interessa que horas são. Ligo de dentro do carro, batendo os dedos no volante enquanto os bipes da chamada ecoam pelos alto-falantes.— Dante, eu queria mesmo falar com você, só não pensei em ligar tão tarde.Ignoro sua indireta quando respondo.— Encontrou algo?— Sim, conseguimos algumas coisas bem interessantes sobre o agiota.— E não pensou em me ligar tão tarde? — esbravejo. — Deveria ter me ligado a hora que fosse!— Sim, claro, é só que… bem, é uma situação delicada, você deveria falar com seu advogado para decidir o que faz
Chego na recepção dois minutos depois do fim do horário de visita. Explico minha situação e nem preciso fingir desespero. Assim que boto os pés lá, sinto absolutamente tudo dentro de mim e começo a chorar copiosamente, me sentindo mais sozinha do que nunca.Daniel aparece e me explico outra vez, em prantos. Acabam me deixando entrar. O lugar parece mais silencioso do que me lembrava, provavelmente a maioria aqui repousa em um sono profundo e sedado.— Ele está mais estável, mais calmo, isso deve ajudá-la — Daniel comenta enquanto me guia.— Me ajudar com o quê?— Você passou muito tempo longe, ele achou que tinha sido abandonado. — Quer dizer que esse tempo todo você ficou trabalhando com o Maicon pelas minhas costas?Minha voz é firme, a raiva se acumulando na superfície, prestes a saltar da garganta.— Eu queria te contar, mas quanto mais eu descobria, mais fazia sentido te deixar fora disso.— Me deixar fora disso? Da minha própria vida, você quer dizer? — pergunto, forçando no deboche.— Sustento meu argumento. Ainda acho que quanto menos você souber, melhor pra sua defesa — Enzo garante.Ficamos nos encarando sentados no sofá de seu apartamento, a porta da varanda está aberta e o zumbido distante da cidade é a única coisa que ouvimos por Capítulo 98 - Dante Vasconcellos