Tranco a porta do meu apartamento com pressa, como se estivesse sendo seguida. Ali dentro percebo que a sensação de estar sendo observada não me abandona e tento me convencer de que estou sendo paranoica.
É contraditório que, quando eu tinha o mundo à minha disposição, não tinha tanto medo. Estava sempre sendo vigiada por seguranças. E agora que perdi tudo e não tenho nada a oferecer, tenho que olhar duas vezes para trás antes de entrar em casa ou quando caminho sozinha na rua.
Deixo as sacolas do mercado no chão da cozinha e me convenço de que estou cansada demais para decifrar o que é real ou não. Minhas gorjetas diminuíram consideravelmente nos últimos dias, graças à proposta de Dante que ainda me deixa distraída.
Acendo as luzes da sala, estão mais fracas que o normal. Anoto mentalmente que preciso comprar algumas lâmpadas reservas para trocar a qualquer momento, mas não me mexo. Fico ali, imóvel, sentindo o ar morno e meio carregado de algo que não sei explicar.
O celular vibra n