Capítulo 3 – Quatro Meses Para o Fim do Mundo.

A casa principal da fazenda Sun Valley era ampla, espaçosa, com janelas grandes e móveis de madeira nobre cuidadosamente entalhados à mão. Apesar do luxo rústico, havia ali uma simplicidade autêntica, viva. O cheiro de madeira, couro e café recém-passado preenchia o ar, junto com a luz quente do fim de tarde que atravessava as cortinas claras.

Mas naquele momento, nenhuma das belezas naturais da residência de Taylor Miller parecia capaz de aliviar o peso que se instalava entre aquelas paredes.

Eles estavam todos sentados à mesa de jantar.

Taylor à cabeceira, mantinha a postura relaxada só para provocar. Lila à sua direita, sentada com a coluna ereta como uma bailarina em julgamento. De um lado, James e Sophia Miller, e do outro, Gabriel e Isabella Montgomery. Três copos d’água intocados, um prato de pães caseiros que ninguém ousava tocar e um silêncio tão espesso que quase podia ser cortado com a faca de manteiga.

Taylor girava lentamente a alça da caneca de cerâmica em sua frente, com os olhos cravados na mulher que, tecnicamente, seria sua noiva em breve.

Noiva… A palavra o fazia rir por dentro e chorar por fora.

Lila se manteve impassível, apesar da crescente irritação que lhe pulsava sob a pele. O vestido justo começava a incomodar. O calor da fazenda lhe subia pelas costas e o cheiro de feno, que antes parecia poético, agora a sufocava como uma lembrança de tudo o que ela perderia ao aceitar aquele acordo.

Liberdade, autonomia e, principalmente, a chance de escolher com quem dividiria a vida.

— Então… — James Miller começou, rompendo o silêncio. Sua voz de CEO era firme, mas ensaiadamente casual. — Vamos falar de prazos, objetivos e planejamento.

— Planejamento? — Taylor ergueu uma sobrancelha. — Querem fazer um cronograma com data para lua de mel também?

— Podemos, se você preferir — retrucou Sophia, encarando o filho furiosa — E providenciar uma lista de convidados, localização da cerimônia, e a assinatura do contrato pré-nupcial.

Lila revirou os olhos.

— Muito romântico tudo isso. — falou debochada.

Taylor sorriu de canto.

— Surpresa seria se dissessem que amávamos um ao outro.

— Ainda bem que ninguém aqui é hipócrita — ela retrucou, encarando-o. — Eu não estou interessada em fingir que você é um príncipe encantado.

— E eu não estou interessado em transformar uma patricinha mimada em rainha do campo.

Gabriel tossiu, incomodado.

— Filha…

— Estou sendo honesta, pai. — Ela continuava olhando para Taylor. — Não estou aqui pra pintar um conto de fadas. Estou aqui porque vocês decidiram que essa… coisa… entre nós é o melhor negócio possível.

— “Coisa” é uma palavra perfeita. — Taylor recostou-se na cadeira. — Eu gosto de coisas. Elas não falam demais.

O garfo de Lila tilintou ao tocar o prato com mais força que o necessário. Ela estava prestes a rebater, mas Sophia a interrompeu:

— Chega. Vocês dois estão agindo como crianças mimadas. Já ultrapassamos o momento das birras. Agora é hora de agirmos como adultos.

Taylor inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Ótimo. Então vamos ser adultos. Me respondam com sinceridade: se eu me recusar, vocês realmente tirariam tudo de mim? A fazenda, minha parte na empresa e o que é meu por direito?

— Direito vem com deveres, Taylor — disse James, sem titubear. — Você sabe disso.

Taylor bufou passando as mãos pelos cabelos.

Isabella, mãe de Lila, finalmente se pronunciou. Ela tinha uma elegância fria, quase britânica, mas havia um carinho na voz que não passou despercebido.

— Filha… talvez não seja justo, mas é necessário. Essa aliança é importante para as duas famílias e esse acordo beneficiará os dois.

— Não consigo ver benefício nenhum para mim— murmurou Lila.

— Nem eu.

— A fusão entre a Remington Miller e os Montgomery vai ser o maior passo econômico dos últimos quinze anos. E vocês dois são os rostos desse futuro.

Silêncio.

Lila girou a taça entre os dedos. Taylor observava o movimento com olhos atentos, quase hipnóticos. A tensão entre os dois não era só de repulsa, era de algo mais profundo. Um desafio constante. Um duelo entre fogo e aço. Porque por trás de cada farpa trocada… havia uma provocação disfarçada de desprezo.

Ela o atraía de um jeito incômodo.

E ele a provocava de um jeito que ela odiava… mas que fazia o sangue correr mais rápido nas veias.

— Então — Sophia retomou, impaciente — queremos clareza, nada de indefinições. O casamento precisa acontecer em até quatro meses. É tempo suficiente para que se acostumem com a ideia. Um evento discreto, elegante, com a presença dos acionistas e membros-chave da diretoria.

— Quatro meses? — Taylor soltou uma risada abafada. — Por que não amanhã? Aproveita e faz no curral, entre as vacas. Elas pelo menos não julgam.

— Não é uma sugestão, é uma decisão — afirmou James, com a voz grave encarando o filho.

— E se um de nós fugir antes disso? — perguntou Lila, com os olhos fixos nos de Taylor, como se estivesse lançando um desafio.

— Se alguém fugir… — Sophia se inclinou para frente — perdem-se todos os direitos, e a fusão será cancelada. Tenho certeza que nenhum dos dois que arriscar o pescoço da família.

— Por quanto tempo devemos permanecer casados?

— Três anos. — respondeu Isabella firme.

— Três anos? Devo passar três anos casada com… ele?

— Sinta-se lisonjeada, minha princesa.

— Não sou sua princesa.

— Por enquanto…

Taylor ergueu o olhar e encontrou o de Lila.

Ambos estavam em pé de guerra. Mas ali, naquele instante… entenderam que estavam presos no mesmo campo minado.

— Três anos. — disse ele, por fim, com um suspiro. — Certo. Eu aguento.

Lila sorriu, de canto.

— Quem disse que você vai me aguentar?

— Quem disse que eu quero?

— Já basta! — Isabella bateu levemente na mesa. — Vocês dois vão aprender a conviver. E, se tiverem um mínimo de maturidade, talvez até descubram que têm mais em comum do que imaginam.

Taylor se levantou devagar, ajeitando o chapéu na cabeça.

— Já que vocês já decidiram tudo, posso mostrar a casa para vocês — disse, encarando Gabriel. — Mas ela… — apontou para Lila — vai precisar de botas se quiser sair de lá sem quebrar o tornozelo.

Lila levantou-se com elegância, pegou a clutch e o encarou.

— Eu andei de salto no Museu do Louvre por cinco horas. Não é um pasto que vai me derrubar.

— O Louvre não tem estrume.

— Mas você está fazendo um bom trabalho representando-o.

Um silêncio constrangedor se seguiu, antes de Sophia soltar uma risada breve e nervosa.

— Ah, o amor moderno…

— Amor? — Lila e Taylor disseram ao mesmo tempo, se virando para os pais com expressões idênticas de espanto.

— Nem em filme B — murmurou ele.

— Nem em pesadelo — disse ela, ao mesmo tempo.

E saíram juntos da sala.

Os pais se entreolharam, suspirando em uníssono.

— Isso vai ser problemático, espero que eles não se matem! — sussurrou James preocupado.

— Do jeito que eles se encararam… — sussurrou Isabella sorrindo para Sophia. — eu acho que no fundo eles vão acabar gostando.

— Eu espero. — completou Gabriel.

Do lado de fora, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja, rosa e dourado.

Taylor caminhava na frente, sem olhar para trás. Lila o seguia, tropeçando uma ou duas vezes na terra fofa, mas sem dar o braço a torcer.

— Está me levando para o celeiro? — ela perguntou, provocativa.

— Infelizmente, não. Lá tem menos drama do que você.

— E mais bosta.

— Com sorte, você pisa em uma.

Ela soltou uma risada inesperada, e ele virou o rosto, surpreso.

— O que foi? — ela perguntou, parando. — Não esperava que eu risse?

— Não. Esperava que gritasse, chorasse, ou me jogasse um sapato.

— Dê tempo ao tempo.

Eles se entreolharam por longos segundos. O vento soprou entre eles, levantando uma mecha do cabelo de Lila, que se prendeu na boca. Taylor, num gesto automático, estendeu a mão para afastar… mas parou no meio do caminho.

Se olharam com intensidade, mas logo depois, voltaram a andar.

Quatro meses seria exatamente o fim do mundo, ou o início de algo que nenhum dos dois ainda estava preparado para encarar.

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