Dois.

Kristin olhava para frente sem rumo, mas o sorriso fajuto e o olhar triste de Ryan a chamaram a atenção. Ela engoliu em seco e retribuiu o sorrio, que era tão falso quanto o dele. Se já o detestava profundamente, agora sentia a mais pura repulsa por aquele homem. Ela pôde ouvir, baixinho, alguns comentários a respeito da sua suposta gravidez e sabia que essa observação ácida vinha de algum parente seu. Respirou fundo.

Ao chegar ao altar, ela conseguiu controlar o olhar de nojo para com aquele homem que, em breve, seria seu marido.

— Suas escolhas sempre me surpreendem O'Neill. — Disse isso fitando o homem com um largo sorriso, demonstrando o amor que sentia por ele. No entanto, em seus lindos olhos verdes havia somente nojo, mas devido à convivência com Elizabeth, ela havia aprendido a mentir de forma eficiente, tão bem que ninguém perceberia.

— Oh, minha querida, ainda não viu nada. — Piscou para ela e a ajudou a subir os poucos degraus. — Cuidarei bem da sua filha, meu sogro.

— Espero que sim. — A voz do homem mais velho demonstrava arrependimento, mas isso não foi o bastante para Kristin o olhar, ela nunca o perdoaria por isso.

Entregou o buquê para sua prima Kelly, que era sua madrinha. O padrinho que havia sido convidado não estava ali, mas isso não era um problema, já que seu irmão mais velho compareceu no lugar do amigo.

A sequência de eventos a seguir era algo que Kristin queria apagar da sua memória.

Kris analisou todos os presentes antes de juntar as mãos a de Ryan. Sentiu a falta de alguém, mas resolveu ignorar e olhou para o ator que esta a sua frente e que, realmente, era ótimo.

— Você está linda Amor. — Disse ele com os olhos cheios de lágrimas, ela ergueu um pouco a mão em direção ao rosto do homem e com o polegar enxugou a lágrima solitária que descia na bochecha do homem, e sussurrou de uma forma que o padre e os padrinhos pudessem escutar.

— Não é momento de chorar Amor. — Disse já sentindo as lágrimas caírem por seu rosto.

— Nem você consegue controlar tamanha felicidade. — Kristin acompanhou o sorriso falso do homem. O padre pigarreou chamando a atenção do casal, que os olhou.

— Vamos começar? — Eles assente. — Diante de nós a um casal jovem, um casal que se ama a cima de tudo, um casal devoto ao nosso Deus, um casal que decidiu se unir por um amor que para muitos era impossível, mas para eles nunca foi. — Toda aquela cena patética rolou diante dos olhos de todos, houve lágrimas durante os votos.

— Reconheço que não fui uma das pessoas mais amáveis com você, eu errei, mas quando você me deu, a oportunidade de ter você para mim e te fazer feliz, eu a aproveitei, não é atoa que estamos aqui agora. — Ele sorriu, ela também sorriu. — Tivemos nossos altos e baixos nessa relação um tanto quanto conturbada, mas olha onde estamos agora, Amor. Estamos nos casando, como conversamos há algum tempo. Você e essa criança são as melhores coisas que eu já recebi na vida, e eu sou o homem mais feliz ao saber que terei vocês comigo para sempre. Eu te amo e amo nosso presente. — Ela chorava. Aquele sentimento de asco havia voltado, mas forte que antes. Ela odeia esse homem com todas as suas forças. Ele a olhou como se a desafiasse a ser melhor que essa farsa, Ryan não a conhece mesmo, ela fingiu não conseguir falar, por toda aquela emoção, mas não demorou a pegar o microfone e dizer tudo que havia ensaiado com sua mãe nesses últimos dias.

— O que dizer sobre você Ryan? Você merece um soco pelo quanto me irritou. Merece, sim, querido. Mas esse não é motivo pelo qual estou aqui. Estou aqui porque, de alguma forma, você me conquistou com seu lado doce e carinhoso, o que é engraçado, considerando que o nosso amor nasceu de um ódio tão profundo e se tornou algo tão puro como o nosso amor. Você é bom em conquista, devo confessar. Sou grata a Deus por colocar você em minha vida, de uma forma totalmente diferente do que era. Bom, pelo menos na parte em que nosso amor é bem maior do que a sua infantilidade. — Ela riu. Ele a fitou de forma séria, no entanto, abriu um sorriso para disfarçar sua raiva. — Eu te amo de qualquer forma, aceito seus defeitos, ainda é meio difícil de acreditar que estamos nos casando, isso é uma loucura tamanho hard. Tudo o que quero dizer com tudo isso é que eu te amo, amo nosso relacionamento e principalmente amo ainda mais o fruto do nosso amor, nosso pequeno raio de sol. Estou super feliz por enfim podermos revelar o nosso relacionamento e por estar finalmente me casando com o homem que amo.

Kristin percebia que o momento que tanto temia estava se aproximando cada vez mais, então ouviu o padre iniciar aquelas palavras decoradas. Sua mente confusa respondeu tão depressa que o homem na sua frente sorriu. Ela havia dito "sim", ela disse "sim" para aquele homem. Ele repetiu sua resposta, e, por um momento, ela pensou que ele diria "não" e seu pesadelo terminaria, trocaram as alianças.

— Eu os declaro casados. Podem selar o casamento com um beijo. — Kristin ficou apreensiva quando percebeu que o homem estava se aproximando mais dela. Fechou os olhos ao sentir os lábios de Ryan sobre os seus, mas ficou aliviada quando o beijo terminou rapidamente. Ryan segurou sua mão entrelaçando seus dedos diante aos aplausos das pessoas, ele a guiou para fora da igreja e sussurrou ao seu pé do ouvido.

— Seja bem-vinda ao seu inferno Ogrinha. Mostre aos nosso convidados o quanto nos amamos! — Ela engoliu em seco e se virou para o homem. Eles estavam na frente da igreja. Ela o puxou para um beijo e mordeu seus lábios. Ele, ao se afastar, ficou com a mandíbula tensa, podia sentir o gosto ferroso do seu próprio sangue na boca.

— Não pense que vou ter misericórdia de você, Voldemort. — Olharam os convidados que aguardavam do lado de fora da igreja e sorriram para todos. Sorriram para as fotos que teriam no álbum de fotos do casamento. No entanto, ambos estavam planejando queimar o álbum assim que possível.

Ryan está se perguntando o motivo dele ter feito essa proposta, está arrependido, não pensou muito bem nas consequências de seus atos, mas iria aproveitar até o último segundo para infernizar a vida da garota.

Kristin conversava com Kelly em sua festa de casamento, quando sentiu uma mão rodeá-la pela cintura. Ela reconheceu o perfume e fingiu amar o contato com o homem, se virou para ela enlaçando seu braço envolta do pescoço dele.

— Sinto muito por roubar sua prima, mas preciso da atenção da minha adorável esposa, uma vez que ela parecer querer me deixar.

Kelly sorriu sem jeito ao ver o casal se afastar, Ryan saiu puxando Kris para um lugar afastado, especificamente uma sala no fundo do local onde ocorria a festa. Quando ela adentrou na sala, viu seu pai parado no canto da sala parecendo irritado, sua mãe também estava na sala, e ela diferente de seu marido mantinha um grande sorriso.

— O que faço aqui?

— Temos que te passar a regras desse casamento.

— Regras? Existe mais regras que não seja esfaquear o meu lindo marido enquanto ele dorme? Ou tentar acabar com a vida dele até o fim dessa palhaçada?

— A primeira regra é sobre a lua de mel, mas isso vou falar a sós com você depois filha. — Elizabeth diz ainda sorrindo. — Você sabe que Ryan é um homem conhecido, então terá que tomar cuidado até em casa, para que o casamento falso não seja descoberto, fotos serão essenciais para manter as aparecias.

— Vou ter que fingir ser a esposa perfeita até na casa, com esse cara? Injusto.

— Sempre trate Ryan bem fora de casa e na frente dos empregados, sua relação com ele tem que ser a mais real possível, sei que conseguirá, sempre foi uma boa atriz. Algo que eu esteja esquecendo? Ah! Não conte sobre o contrato a ninguém, nem mesmo depois do divórcio que pode acontecer quando você tiver 21 anos.

— É apenas isso? Posso voltar a minha festa de casamento? — Perguntou com irritação. Ela deixou a sala sem esperar uma resposta e foi até o salão principal com Ryan, mas, antes de chegar aonde os convidados estavam, Ryan a impediu e lhe entregou um lenço, o que a deixou um pouco confusa.

— Sendo recém-casados, vão pensar que saímos da festa para nos pegar, e, como seu batom deixou marca na taça, se realmente tivéssemos nos beijado, provavelmente o batom não estaria em seus lábios.

— E quem vai prestar atenção nisso?

— Acredite Ogrinha, tem muita gente desconfiada do nosso casamento.

— Não é para menos, né, eu te odeio.

— O sentimento é recíproco, vai logo tira esse batom.

— E seus lábios continuariam intactos?

— Se quer tanto me beijar é só dizer Ogrinha, eu penso se te beijo.

— Vai se foder. — Ele sorriu e a puxou para um beijo inesperado. Ela o empurrou e olhou ao redor, vendo seus pais se aproximando, Elizabeth achou graça enquanto o seu marido permanecia com os olhos arregalados e surpreso.

Kristin limpou os lábios e olhou irritada para Ryan, que tinha os lábios agora levemente vermelhos.

— Cuide de se acostumar rápido, vamos ter que nos beijar a festa inteira e depois em casa, fora dela, eu não estou feliz com isso garota. — Ele realmente havia se arrependido desse casamento, porém a chance de infernizar Kristin era ainda mais atraente do que desistir e deixá-la vencer. Eles voltaram a seguir o caminho para o salão e Kristin inspirou fundo e decidiu que seria a melhor atriz que o mundo já viu, ela entrelaçou a mão com a de Ryan, que olhou por um milésimo com desdém para a ação. As horas foram se passando e eles pareciam o casal mais feliz, bom, eles são os noivos, faz sentindo todo aquele sorriso e carinho entre eles. Kristin estava sentada conversando com seu irmão, sua irmã dormia em seu colo e Kelly quando sua atenção foi tomada pela voz de Ryan no microfone, ela se virou olhando para o homem no meio do salão, seus olhos se controlaram para não girarem, ela sorriu e esperou ele dizer o que fosse.

— Pessoal boa noite, bom estou aqui para informar a vocês que infelizmente eu e a minha linda esposa não poderemos ficar até o fim da festa, temos um voo daqui a duas horas, então teremos que ir embora mais cedo, aproveitem a festa por nós. — Kristin estava ainda sorrindo, mesmo sem entender nada, seu irmão pegou a menor no colo que reclamou, ele estendeu a mão para ela sorrindo, ela se levantou da cadeira e foi em sua direção deixando seu corpo ser abraçado de lado pelo homem. — Algo a dizer Amor?

— Bebam por mim. — Sorriu, eles saíram novamente do salão, porém Ryan foi atender uma ligação e a sua mãe estava na sala que estiveram apouco.

— Então, mãe sobre a lua de mel o que queria me dizer?

— Você terá que transar com Ryan! — Kristin olhou a mãe incrédula, como assim ela teria que realmente transar com Ryan, não bastava essa palhaçada e ainda teria que ir para a cama com ele.

— Isso só pode ser uma piada, eu vou ter que perder a minha virgindade com Ryan? Isso é pior que a porra dessa casamento. — Kristin sentiu seu rosto arder ao receber o tapa da sua mãe, Elizabeth se virou um pouco apenas para suspirar e se voltou para a filha.

— Todos pensam que você está grávida, apenas fique grávida de Ryan. — A mais nova estava com os olhos cheios de lágrimas quando se voltou para a sua mãe, sorriu levemente e respondeu.

— Como eu havia dito depois desse casamento, você e o papai não existem mais para mim, eu não vou perder a minha virgindade com aquele traste, eu já fiz muito por vocês e agora não farei nada.

— Não? Lembre-se de Angel.

— O que quer dizer?

— Se você não fizer o que estou mandando, Angel será a próxima. — Kristin não conseguia acreditar que sua mãe estava usando sua filha mais nova para obter o que queria com a mais velha, não seria a primeira vez.

— Você não seria capaz!

— Você não me conhece Kristin. — Ela não respondeu à mãe que sorriu saindo da sala, deixando a filha sozinha, ela se trocou colocando um vestido soltinho branco.

A voz de Ryan surgiu, ela olhou e, por um instante, quis chorar em seus braços. Mas pensou melhor afastando aquela ideia estúpida da mente. Precisava de seu melhor amigo com urgência, não podia permitir que os sentimentos a dominassem. Limpou as lágrimas e saiu da sala acompanhada dele. Diferentemente do batom, a maquiagem parecia intacta. Eles saíram da festa sob aplausos dos convidados. Ela estava sorrindo ao lado do homem, mas a mente estava distante.

Ryan deve ter muito dinheiro, pensou Kristin ao entrar no Tesla novo, eles foram para o aeroporto sem conversar, e ao chegar no local e ver uma certa movimentação, as palavras da sua mãe vieram a sua mente. Ela estava certa, Ryan é realmente alguém conhecido, só não sabia que era tanto. Ela percebeu algumas adolescentes que deviam ter sua idade ou poderiam ser até mais novas, rindo sem parar ao olhar o rapaz moreno. No entanto, quando fitavam a acompanhante dele, Kristin, elas a olhavam com desprezo. Aquilo estava realmente acontecendo? As fãs doentias do Ryan esperavam por ele no aeroporto e a olhavam com raiva, como se ela tivesse culpa alguma de estar naquela posição. Algumas até pediram fotos e ela foi obrigada a tirar.

— Temos um voo agora garotas. — Ele disse, sorridente, para suas fãs. Kristin tentou se afastar durante a breve conversa, mas Ryan a impediu, mantendo-a perto dele com o braço envolta do seu corpo. Eles voltaram a andar.

— Para onde vamos?

— Havaí. — Ela olhou para ele sem acreditar, ele sorriu enquanto ela o fuzilava com os olhos. — É um lugar paradisíaco.

— Você sabe que odeio praia.

— Sério? Oh eu não sabia.

— Você parece um moleque, nem parece que tem 25 anos. — Ele não respondeu, Kristin revirou os olhos.

A mulher que os atendia fitava Ryan descaradamente, mas ele não poderia demonstrar interesse, mesmo ela sendo muito gata, ele precisa manter as aparências, já que é um homem conhecido e agora estava casado. Essa é a pior parte desse maldito contrato, ter que ser fiel ou ter que começar a ser mais cauteloso, ele não era mais um adolescente desesperado.

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