Jade perdeu seus pais muito cedo. Engana por May, ela foi parar em um país distante trabalhando em uma boate clandestina, sendo obrigada a se prostituir para se manter viva. Decidida a acabar com seu sofrimento, ela resolve se jogar do terraço, entretanto um homem misterioso lhe faz a promessa de que lhe ajudaria a sair daquele inferno, mas ela não sabia as reais intenções dele.
Leer másMeu pé quase vacilou diversas vezes enquanto eu subia a escada que dava acesso ao terraço da casa noturna. Cheguei no em cima com meus cabelos sendo levados para trás pelo vento.
Antes de estar com os pés no parapeito eu segurei firme no único poste de luz que iluminava o ambiente.O vento frio ardia nas minhas bochechas.Olhei fixo para todo o movimento na cidade, por estar no centro havia muitos prédios, podia ver os carros na rua, as pessoas pareciam formigas.Me perguntava se iria me arrepender segundos antes do meu corpo colidir com o chão, ou se minha vida passaria pelos meus olhos como Ethan me disse certa vez. De qualquer modo, não teria muito para ver dos meus 20 anos.
Respiro fundo.A determinação para me jogar estava esgotando, mas se eu saísse com vida daqui, May daria um jeito de me matar depois do que fiz.Não olhei mais para o chão, foquei meus olhos na lua, ela parecia linda essa noite, parecia que o céu inteiro estava pronto para me receber, guardaria aquela noite na minha memória.
Suor frio descia pela minha espinha, com a mesma intensidade das lágrimas na minha bochecha.
As batidas fortes do meu coração tiravam todo o silêncio do lugar, passei a contá-las, a medida que eu me inclinava mais para frente elas aceleraram me fazendo perder a conta.Fechei meus olhos com firmeza.
Era a hora de acabar com tudo.Suspirei e comecei a soltar meus dedos um por um, minha pele parecia estar sendo picada por mil agulhas. Antes que eu soltasse o último dedo alguém saiu pela porta que dava acesso ao terraço. Eu agarrei às duas mãos no poste cambaleando para trás.Um homem de terno preto invadiu o terraço, ele não notou minha presença, pois simplesmente andou em outra direção.Segurei minha respiração.Ele se encostou no parapeito e olhou para algo lá embaixo, parecia estar sem ar assim como eu. O observei por alguns instantes, apesar de só ter suas costas para olhar, ele era grande e robusto, provavelmente nunca tinha o visto na boate.Tentando arrumar a posição de meus pés no parapeito para não cair acidentalmente, chuto uma pedra no chão fazendo barulho suficiente para ele notar minha presença. O mesmo rapidamente vira para mim, pude ver seu rosto, era bonito, talvez o homem mais bonito que eu já vi. Ele olha-me e depois para meus pés.Meu coração dispara novamente.— N-não ouse se aproximar, se não vou me jogar! — Aviso.
Ele levanta as mãos a altura de sua cabeça.
— Não vou. — Sua voz atravessou meu estômago, era forte. — Prometo que não.
Então ele lentamente apalpou seus bolsos, de lá tirou um isqueiro e baseado, acendeu, tudo de forma lenta, intercalando os olhares de minha mão no poste e meu rosto, certificando de que eu não me jogaria. O homem foi até o parapeito e se apoiou lá mais uma vez a quase 1 metro de distância de mim, tragou o cigarro e depois soltou a fumaça pelas narinas.
Eu não sabia o que poderia acontecer ali, então não tirei os olhos dele.— Qual seu nome? — Perguntou de maneira estoica, não parecia que alguém iria cometer suicídio a qualquer momento na sua frente.
— Por que quer saber?
Ele suspira e umedece os lábios.
— Preciso dizer aos policiais quem é a garota que se esborrachou no chão. — Me lançou um olhar divertido.
Desvio ligeiramente. Ele não parecia ser um salvador, acredito que tampouco se importava comigo.
— Me chamo Jade. — Vejo ele assentir e colocar o baseado mais uma vez nos lábios. — E você?
— Não acho que vá se lembrar de mim. Não faz diferença. — A fumaça sai de seus lábios a medida que ele falava.
Observo suas mãos, seu carpo estavam vermelho, parecia ter distribuído socos por aí, ele percebe e olha para o local movimentando os dedos.
— Eu odeio velhos soberbos bêbados. — Resmungou.
— Com certeza eu odeio mais que você.
Ele coça a têmpora com o dedo mindinho, vejo um anel, aquele homem não parecia ser um qualquer, esse anel indicava isso.
— Acho que conheço você — ele estreita os olhos —, não é a garota que estava cantando lá embaixo?
Assenti.
— Sua voz é bonita, a melhor que já ouvi.
— Quando não estou triste ela é mais bonita.
Ele balança a cabeça.
— Acho que a melancolia deixa tudo mais belo. — Seu olhar apertado parecia querer me consumir. — Soou mórbido demais para você?
— Não tente me impressionar, já vi mais que pensa.
Ele mostrou um sorriso torto. Encostei minhas costas na parede atrás de mim, mas sem dificultar meu salto.
— Se não veio me salvar, o que faz aqui?
Pensou por alguns instantes, desviou apoiando mais uma vez os antebraços no parapeito.
— Precisava respirar. Lá dentro as pessoas estavam me sufocando. — Seus olhos voltam para mim — e você, por que resolveu tirar sua vida?
Olho para meus pés. Como eu lhe explicaria que enfiei um lápis na coxa do meu primeiro cliente?
— Me viu cantar. Eu apenas cantava aqui, até hoje. — Mordo o lábio inferior com força. — Essa noite a dona do estabelecimento arrumou um freguês para mim. Um velho horroroso.
— Vocês... — deduziu gesticulando.
— Não! — Faço careta. — Eu enfiei um lápis na coxa dele antes de qualquer coisa aconteceu. Depois vim correndo para cá.
Ele balançou a cabeça lentamente sorrindo, a tatuagem de cruz na sua têmpora se contraiu.
— Não me parece ser tão perigosa.
Dei de ombros.
— Se está aqui sei que é como um deles.
Seu sorriso se transforma em uma gargalhada sarcástica.
— Não preciso pagar para garotas transarem comigo, Jade. — Ele abre a boca para dizer mais algo, der repente para e repensa — caso desça daí posso te ajudar, mas se for se j**ar desejo-lhe boa sorte no inferno. — Ele j**a o resto cigarro, observamos a bituca cair na calçada. — Deve ser doloroso.
Continuo olhando o chão lá embaixo, mesmo sentindo o olhar dele queimando sobre a minha pele. Não sabia porquê sentia verdade nas suas palavras, mas poderia ser apenas uma forma dele me convencer a descer, talvez eu quisesse descer.
Miro meus olhos nos seus, percebo que os dele são azuis, quase escuros e também percebo que ele se aproximou de mim enquanto conversávamos, agora apenas dois passos nos separava.— Como posso confiar em você? Nem ao menos sei seu nome.
Ele balança a cabeça de um lado para o outro e tira as mãos do bolso de suas calças.
— Me chamo Heitor. — Sua mão estende na minha direção. — Pode me chamar Heitor.
Engoli o ar pelos dentes. Criei coragem para soltar o poste ao meu lado, minha mão foi trêmula de encontro com a dele, ao contato quente de sua mão fez uma onda de eletricidade atravessou meu corpo. Quem era aquele homem?
— Me dê a outra mão, Jade. — Pediu.
Olhei para baixo mais uma vez, me perguntei onde estava a coragem para pular de minutos atrás.
— Olhe para mim. Fixe nos meus olhos.
Volto minha atenção para Heitor, não parecia assustado, na verdade, ele todo exalava confiança.
Afrouxei minha única mão que ainda segurava o poste, mas antes que eu pegasse sua outra mão, meu pé escorregou do parapeito.Eu gritei enquanto ele me segurava meu braço com às duas mãos, usando toda a força em seu corpo para me puxar de volta para o terraço, minha vida passou pelos meus olhos.Ele conseguiu me puxar para cima novamente, então eu empurrei o parapeito com meus pés descalços, caímos no chão.— Por deus — seu peito descia e subia —, não faça mais isso.
Após nos recuperamos, saí do colo dele e sentei no chão, me arrastando para trás até minhas costas colidirem com a parede.
Passei minhas mãos trêmulas pelo meu rosto. Meu coração pulsava firme no peito.Olhei para Heitor, ele estava sentado no chão com os braços apoiados nos joelhos, olhando diretamente para mim.— Está bem? — Se aproxima de mim.
Recolhi minhas pernas ainda assustada. Ele ergueu as mãos e voltou para o lugar onde estava, acendendo mais um baseado.
— Não deveria fumar tanto, é idiotice.
Ele me lança um olhar malicioso, apertando ainda mais os olhos âmbar.
— Não era eu que estava pendurado no parapeito. — Ele leva o cigarro até os lábios. — Da próxima vez não vou estar aqui.
— Não terá próxima vez.
— É bom que seja verdade.
Ele olhou para meu rosto, parecia estar preocupado com meu estado. Então parei de me fechar, meu coração já estava desacelerando.
— É bom que cumpra o que prometeu. — Digo.
Ele sorrir.
Coloco Geórgia mais uma vez na cama, hoje especialmente ela estava mais agitada que nunca, pois seu pai ainda não havia voltado do trabalho, essa era uma daquelas noites de inverno que Sebastian ficava até tarde no trabalho. Puxo o lençol a altura de seu queixo, enquanto ela me observa com os olhinhos atentos, isso eu posso garantir que puxou a mim, os olhos verdes, porém mais claros, puxando para um azul do Sebastian. — Mamãe, conte mais uma história para mim, por favor. — Pediu ela com os olhinhos brilhando. — Eu juro que vai ser a última. — Você disse isso da segunda vez. — Mas dessa vez prometo ser a última. Balanço a cabeça, ameaçando sair do quarto. Geórgia segura na manga do meu pijama, com às duas mãos. — Cante uma canção de ninar para mim, mamãe. Meus ombros caem, era impossível dizer não a ela com aquele olhar de doçura. — Tudo bem, mas prometa que vai dormir. Ela cruza os dedinhos. Me acomodo ao seu lado, e ela fecha os olhos. Começo a cantar uma canção de ninar, pu
Eu o puxo pela camisa, beijando seus lábios. Arfei sentindo sua mão apertar minha cintura com um pouco de força.Fazia tempos que não sentia aquilo, aquela vontade de desfrutar ainda mais dele. Sebastian não quis fazer nada, queria começar as coisas do jeito certo.Ele passa a costa de sua mão em meu rosto, desgrudando nossos lábios.— Acredito que te amo ainda mais do que antes. — Disse ele com os olhos latentes.— Isso é possível?— É sim. — Ele segura minha mão sobre seu peito, pude sentir seu coração acelerado. — Jade, eu te amo desde o momento em que vi pendurada naquele parapeito, prestes a fazer uma besteira.— Você me salvou naquele dia e me salvou mais vezes do que eu possa contar.— Foi a melhor coisa que fiz.— Eu te amo.— Eu te amo ainda mais. — Disse ele por fim.Sebastian morde o lábio e dá um passo para trás, se livrando da jaqueta. Sento no sofá e tiro minha blusa. Ele geme ao ver que estou sem sutiã por baixo.Sebastian olha para meus seios como se fosse a primeira v
Meu lábio inferior tremeu e meus olhos pareciam tão perdidos que o mundo ao redor dele parecer se esvair, eu só podia ver o brilho dos seus olhos. A vassoura caindo no chão me fez acordar do transe, percebi que o grande amor da minha estava a minha frente, com algumas marcas do tempo, mas continuava sendo ele.Agarrei em seu pescoço e pulei em seu colo, passando minhas pernas ao redor de sua cintura. Sebastian me agarrou em um abraço tão forte que me fez perder o fôlego. Mas eu não me importava, sentia como se já pudesse morrer nesse momento.Eu não queria mais soltá-lo, não queria deixar de sentir seu corpo finalmente junto ao meu ou sequer imaginar em deixá-lo sem tocar pelo menos um centímetro de nossa pele.Soltei seu pescoço e segurei seu rosto com às duas mãos.A barba estava tão espessa e os cabelos desgrenhados soltos até os ombros, mas ele não deixava de ser bonito como sempre fora. As marcas dos anos estavam bem visíveis em sua pele, todo o sofrimento e solidão, assim como
Alguns anos depois...Os poucos meses que Ethan mencionou se tornaram anos. No aniversário do nosso quarto ano aqui em Ligonier tive certeza de que nunca estaríamos seguras. Passei todos esses anos sem saber notícias do Sebastian, sem ao menos poder trocar cartas, pois seria altamente perigoso para nossa proteção.Após 5 anos, nossa vida estava tão estável ao ponto de termos amizades na vizinhança, Marília adorava cultivar plantas, ela nunca pensou que teria um cantinho só seu. Enquanto eu, consegui arrumar um emprego de meio período em uma cafeteria, o salário não era lá essas coisas, mas evitava que de ficar em casa apenas pensando no passado.Ethan nos visitava pelo menos 3 vezes ao ano, ele quem trazia notícias sobre o Sebastian. Soube no ano seguinte que chegamos aqui que ele foi condenado a 6 anos de regime fechado sem possibilidade de condicional.Chorei uma noite inteira.Hoje, 4 anos depois, ainda penso nele todas as noites antes de dormir, faltava apenas 1 ano para sua saída
No dia seguinte fui prestar depoimento na respeito do Martíni e descobri que o Sebastian também assumiu a culpa pela morte do Omar, tive esperanças de ver o Sebastian, porém não pude. Isso é o que mais machuca em toda essa situação.Os agentes foram buscar Marília dois dias depois, ela acreditava que eu havia morrido, mas hoje seria nosso reencontro e o momento em que deixaríamos tudo às claras. Estava ansiosa para ver um rosto familiar e alguém que pudesse confiar.Ethan disse que no dia seguinte teríamos que fazer algumas mudanças no nosso visual e receber nossos novos documentos, durante esse tempo fiquei em um hotel modesto, pago pelo FBI. Ethan dormia aqui, mas em cama separada.A cada passo que dava me sentia ainda mais ansiosa.Vi o momento em que um carro preto parou em frente ao prédio, por conta da faixada não pude ver quem havia saído de dentro.Sentei no sofá sentindo meu coração palpitar.Ouvi passos no corredor e por fim a porta do meu quarto ser destrancada, um dos agen
Cai de joelhos no chão, olhando para o carro desaparecer na estrada.Ethan se abaixa a minha altura se apoiando nos calcanhares.— Precisamos sair daqui, você tem que descansar.— Como posso descansar depois disso?Começo a chorar, me sentindo fraca. A exaustão tomou conta de mim. Entrei no carro com o Ethan depois de muita insistência dele.Olhava a paisagem pela janela, sentindo meus olhos pesados e meu corpo sem força alguma, mas minha cabeça não parava de pensar nas coisas que vi hoje.Ethan me levou para o hotel que ele estava ficando na cidade, era um quarto simples com uma cama de casal e cozinha.Joguei-me na cama e adormeci.Acordei sentindo cheiro de comida, abri os olhos e vi que não estava em casa ou naquele quartinho frio cheio de mofo.Sentei-me na cama e olhei para frente, vi Ethan preparando algo em frente ao fogão, com uma camisa regata e uma calça moletom.Passei as mãos no rosto.Não foi um sonho.Levanto da cama cambaleando e acabo chamando a atenção dele, o mesmo
Último capítulo