Já se imaginou em um acampamento com o seu maior inimigo? E ainda saírem de lá casados e sem um tostão no bolso? Luiza e Sebastian se odeiam desde que usavam fraldas e por causa disso acabam tornando a vida de todos ao seu redor uma verdadeira loucura. Quando a família dos dois se cansa e os envia pra um acampamento de reabilitação social, eles precisam unir forças pra se verem livres. Só não esperavam que o inimigo seria mais esperto.
Leer másSabe aqueles dias em que a gente acorda com um pressentimento ruim? Apesar dessa sensação não ser mais uma novidade pra mim, algo me dizia que hoje as coisas seriam piores. Não estou exagerando se é isso o que vocês estão pensando. Mas acreditem, Sebastian me dá motivos suficientes pra desconfiar de tudo e todos a minha volta.
Quem é Sebastian? Bom, ele é meu primo de consideração. Devido a nos conhecermos desde que usávamos fraldas, crescemos fazendo parte da família um do outro (querendo ou não) e, por nos amarmos tanto (sarcasticamente falando), também somos vizinhos. Agora, imaginem ver um idiota como ele o dia todo, todo dia. Pois é, além de sermos primos e vizinhos, também cursamos a mesma faculdade. Temos até algumas aulas juntos.
Por que nos odiamos? Boa pergunta! Acho que é coisa de nascença, pois já fomos parar várias vezes na cadeia (não, não é exagero). Tenho certeza de que dois jovens normais e honestos não teriam esse problema. Honestos nós somos, ou pelo menos eu, mas normais, já não tenho tanta certeza. Se não estou enganada, nossa briga/rivalidade/rixa/ódio ou como preferir chamar, começou no prezinho porque eu dedurei pra professora que ele tava comendo cola.
Mas não pense que crianças não tem uma mente maligna. Eu aprendi isso no mesmo dia em que entreguei meu primo pra tia Márcia, nossa professora de quando internet ainda era pra ricos e pessoas de classe média alta. Na hora do recreio, como vingança pelo que eu tinha feito, Sebastian manchou minha blusa com um suco de uva fajuto que a escola costumava distribuir. Desde então jurei que me vingaria, e o fiz! Só que aí ele se vingava da minha vingança e eu da vingança dele e a coisa foi ficando meio louca e cá estamos: passando trote, fazendo pegadinha, submetendo o outro passar vergonha e por aí vai.
Fazemos medicina, mas como estamos no segundo período, ainda não temos aulas específicas sobre a área que preferimos. No momento nos ensinam o geral, o que todo bom médico precisa saber. Tenho certeza de que serei uma ótima médica, mas não posso dizer o mesmo de Sebastian. Duvido que ele não mate mais do que salve.
Estava imersa em meus pensamentos de ódio e rancor. Pensava na vida, naquele pressentimento ruim que me levou a uma nostalgia e na matéria da prova que teria naquele dia. Nesse momento estranhei o fato do despertador não ter tocado. Eu nunca acordava antes dele, na maioria das vezes ele sempre voava pelos ares por causa do meu mau humor. Foi então que meu pressentimento e esse fato se uniram.
– Desgraçado! – foi só o que eu consegui falar enquanto era sufocada pelos lençóis ao tentar levantar da cama. Nem preciso comentar que tomei um tombo feio.
Olhei para o despertador pra saber quanto tempo ainda me restava antes que minha prova começasse. Eram 6:15 da manhã e o horário da faculdade era 7:00. Achei que ainda dava tempo. Não importava, mesmo que não desse faria o possível e o impossível pra fazer aquela prova. Sebastian não se daria bem! Não se dependesse de mim!
Me arrumei correndo e fazia várias coisas simultaneamente. Enquanto colocava a roupa, escovava os dentes; enquanto penteava os cabelos, calçava a sapatilha e pegava minha bolsa. Foi uma coisa muito louca. Assim que estava pronta fui para o ponto de ônibus como bala.
Fiquei esperando o ônibus uns 10 minutos. As pessoas que também aguardavam seus transportes me olhavam com uma cara de medo. Por acaso eu tinha cara de traficante e não sabia ou tinha virado uma mulher bomba e esqueceram de me avisar? Mas acho que isso tudo se devia ao meu estado. Provavelmente estaria toda descabelada por causa da corrida e pela falta de tempo, com uma cara de bisonha.
Assim que entrei no ônibus tive que rir pra não chorar. Sério, devia ser lei as pessoas só poderem entrar no ônibus depois que comprassem um fone de ouvido e passassem desodorante. Imaginem minha situação, ou melhor, não imaginem, porque só de pensar já causa arrepio. Enfim, continuando, sentado no banco que estava na minha frente, tinha um pivete sem noção, ouvindo um funk ridículo que ofenderia a memória de qualquer músico que se preze. Não duvido muito que naquele momento eles não estariam se contorcendo dentro do caixão.
De cada lado meu tinha dois homens: um com cheiro de cigarro, outro com cheiro de bebida. E de costas pra mim um com cheiro de cigarro e bebida! Sabe, na minha opinião, não é qualquer um que deveria poder pegar ônibus não! Deveriam ser somente os escolhidos, porque eu vou te contar, viu.
No final eu já não sabia o que era pior: o povo sem noção que achava que merecia todo o espaço, que queria se enfiar num lugar que nem oxigênio tinha mais; o povo sem educação, aqueles que pisavam no pé, esmagavam, arranhavam, agrediam, não pediam desculpa e ainda acham que você é que está errado; o povo tarado, que aproveitava o pouco espaço como desculpa pra ficar sarrando nas mulheres; ou o povo barraqueiro, aqueles que já chegavam discutindo com o motorista e reclamando da vida num tom de voz que todo mundo conseguia ouvir.
– Sebastian me paga! – falei pra mim mesma. Ele teria o que merecia. Ah, se teria.
Quando cheguei na faculdade o relógio já marcava 7:10. Corri igual uma desesperada até chegar no auditório onde haveria a primeira aula. Antes de passar pela porta, parei, respirei fundo, dei uma ajeitada no cabelo e nas roupas, arrumei minhas coisas e entrei de fininho. O infeliz estava sentado justamente na última cadeira do auditório, no caso, a mais próxima da porta. Cheguei perto o suficiente dele sem que ninguém percebesse e falei:
– Pensou que ia conseguir o que queria, priminho? – Sebastian tomou um susto ao ouvir minha voz.
– Na verdade não. Se eu quisesse mesmo te prejudicar acha que você teria conseguido chegar até aqui? Provavelmente ainda estaria na cama tentando tirar a mordaça da boca e gritar para que alguém te desamarrasse da cama. - Voltou a olhar pra frente, onde o professor escrevia algo no quadro.
– Isso não vai ficar assim! – ameacei.
– Não mesmo. – Ele completou com um sorriso malicioso.
Não dei muita importância pelo fato de estar atrasada. Se o professor me visse daquele jeito, e ainda por cima não estando sentada em alguma carteira da vida, provavelmente seria posta pra fora do auditório. Procurei um lugar rapidamente, olhando por todo o lugar e vi que a carteira vazia mais próxima estava a duas fileiras de onde Sebastian se encontrava sentado. Bom, não tinha jeito. Peguei minha bolsa e as pastas e segui em direção à carteira. Ou pelo menos foi o que eu tentei fazer, já que aquele babaca que eu chamo de primo colocou o pé na minha frente e acabei rolando escada a baixo.
Não sei o que foi pior: os alunos olhando pra mim, a cara furiosa do professor ou Sebastian tentando esconder o riso.
– Pode me explicar o que aconteceu aqui, senhorita Victorino? – ele adorava meu sobrenome, só pode. Era senhorita Victorino pra cima e pra baixo. Já tive pesadelos com esse homem devido a ele falar tanto meu nome.
– Hã... – olhei as coisas à minha volta em busca de uma desculpa e vi que alguns objetos da minha bolsa estavam espalhados no chão. Dentre eles, um lápis. – Vim apontar um lápis? – disse, pegando-o e fazendo a cara mais esfarrapada do mundo. Sei que a desculpa foi horrível, mas ele iria me pressionar até que eu falasse algo.
– Que seja! Agora sente-se. Se a senhorita se esqueceu, tenho uma prova para aplicar agora. – Já ia começar a ignorância. Coisa que eu não suportava. Juntei minhas coisas e falei com a cara mais lavada do mundo:
– Senhor Paulo Braga de Oliveira, acha mesmo que se eu não soubesse que haveria prova eu estaria aqui? Poupe sua ignorância para um aluno que as aceite. – Fui até a carteira que já planejava sentar com pisadas fortes. Sentei e parecia que havia uma melancia na minha cabeça, pois todos olhavam pra mim. Sebastian parecia sério, pensativo, mas assim como os outros, espantado com a minha atitude.
– Esperando que não haja mais interrupções, darei início à prova. As questões devem ser feitas à caneta azul ou preta. Evitem rasuras. E, por favor, mostrem que vocês têm o nível mental que aparentam ter, então, não colem. Não admitirei qualquer ato que insinue cola. Entregarei as folhas aos primeiros de cada fileira e conforme forem retirando as suas, passem o resto para o colega que estiver atrás.
Assim que recebi minha prova, passei o resto em diante e me pus a resolver as questões. Fiz as cinco primeiras em dez minutos, até que uma bolinha de papel me acertou. O professor estava desatento lendo o jornal, olhei pra trás e vi Sebastian me mandando abrir o papel. Fiz o que ele pediu e lá dentro havia um recado:
Me passa a cola da dois até a dez?
Era um idiota mesmo. Fiquei me perguntando como ele tinha conseguido responder a primeira questão. Apesar de que acho que qualquer um sabe como agir diante de uma pessoa que esteja sofrendo convulsão. Respondi que não e joguei a bolinha de papel novamente para ele, tendo o cuidado de não ser pega por aquele professor metido a Einstein. Segundos depois senti novamente algo bater na minha cabeça e novamente vi a bolinha. Abri e em baixo da minha resposta estava escrito:
Por que não?
Essa eu não precisei pensar duas vezes pra responder:
Por que você é um babaca. Acha mesmo que eu daria cola pra você? Desculpa, mas mesmo que você merecesse, não gostaria de ser a culpada pela morte de seus pacientes.
Principalmente ele que queria ser cirurgião.
Terminei as outras questões e enquanto passava as respostas à caneta, mais uma vez, recebi uma bolinha de papel.
É assim? Tudo bem, então. Espero que esteja pronta para as consequências.
Finalizei a cópia à caneta, entreguei a prova ao professor, arrumei minhas coisas e antes de sair do auditório, parei ao lado de Sebastian e falei:
– Isso é uma ameaça? Pois saiba que não tenho medo. Há 19 anos eu as ouço e vejo suas vinganças se cumprirem. Não tenho mais medo disso desde os 11 anos. No máximo a gente vai parar na delegacia de novo. – Sorri. – Boa prova pra você. – Então saí do auditório.
(...)
Estava andando pela faculdade pensando na prova e num plano para me vingar daquele maldito, quando senti alguém me puxar pelo braço e me levar até o banco mais próximo.
– Vai, me conta tudo. Quais foram as perguntas que caíram na prova do Paulo. – Estela me perguntava. Ela era minha melhor amiga. E de vez em quando se enfiava em umas brigas minhas com Sebastian.
– Desculpa amiga, mas não lembro. Sebastian não deixou que eu me concentrasse o suficiente pra lembrar as perguntas. Fora que ainda cheguei atrasada. Ele desligou meu despertador. – expliquei.
– Ótimo. Por causa daquele desgraçado eu vou me ferrar! – falou.
– Hum... é mesmo? Que interessante... e qual é o nome desse desgraçado para que eu possa parabenizá-lo pelo ótimo trabalho? – Sebastian falou. Ele estava atrás de nós encostado numa árvore ouvindo a conversa.
– Falando no diabo... – comentei. – Tenho uma boa e uma má notícia. – falei para ele.
– Então diga. – Fez cara de interessado.
– A boa, pra você, é que dificultou a vida da Estela, e a má, pra mim, é que você não morre tão cedo. – Estela começou a rir.
– Que seja. Vim te dar os parabéns, nerdzinha. Você gabaritou a prova do Paulo. – falou indiferente.
– Nada mais justo depois daquela forma arrogante como ele me tratou. Querendo ou não, eu sou a melhor aluna dele. Mas por que você se daria ao trabalho de vir me falar isso? O que você tá aprontando? – desconfiei.
– Eu? Nada. Se eu estivesse armando algo, diria que você tinha ganhado na mega sena. – falou.
– Mas isso seria uma grande mentira, porque até hoje não conheço ninguém mais azarado que a Luiza. Duvido que ela acreditasse. – Estela falava em meio aos risos.
– Amiga, olha pra minha cara. Vê se eu tô rindo. – falei séria, apontando pro meu rosto. – Você está do lado de quem? Meu ou dele? – fiz cara de nojo ao me referir à Sebastian.
– Não se preocupe Estela, eu achei graça. Acho que essa foi a coisa mais sábia que você já disse em toda a sua vida! – Sebastian ria enquanto falava.
– Bom, preciso ir. Não tenho tempo para desperdiçar com coisas insignificantes. Aliás, nem sei porque falo com você se te odeio. – disse, me levantando e levando Estela junto comigo.
– Talvez seja porque no fundo você tem um desejo insaciável por mim. Não te culpo, afinal, você não é a única a se perder nesse pecado. – Passou as mãos pelo corpo.
– Idiota. – falei empurrando-o para que saísse da minha frente.
Assisti às aulas seguintes normalmente. Em algumas, encontrava Sebastian, que me perturbava de todas as formas possíveis. Desde cantar “Papi, o camelo”, até ficar me cutucando. Quantos anos aquele garoto tinha? 19 ou 5? Depois que as aulas acabaram, fui direto pra casa. Almocei o mais rápido que pude e fui para a maternidade, onde fazia trabalho voluntário.
– Desculpem-me pelo atraso. – disse ofegante ao chegar. – O último professor me prendeu um pouco mais na sala.
– Tudo bem Luiza, sem problemas. – disse Denise, a secretária da maternidade.
Passei o tempo todo trocando o soro das mães, colocando antibióticos e tudo o que tivesse direito.
– Luiza, seu primo está aí. – Duda, minha colega, avisou.
O que ele fazia aqui? Não é do feitio dele ir aos lugares onde faço trabalho voluntário. Cheguei à recepção e lá estava ele todo despreocupado.
– O que você quer, Sebastian? – disse, me aproximando.
– Vovô mandou eu vir te buscar. – respondeu emburrado.
– Não é necessário. Eu sei ir pra casa sozinha. – Afirmei.
– Não com o temporal que tá lá fora. – Retrucou.
– Tudo bem, então. – Suspirei derrotada. Vou pegar minhas coisas e a gente vai.
Troquei de roupa, peguei minha bolsa e fomos para o carro de Sebastian. Pois é, como as coisas são, ele tinha um carro e eu nem bicicleta de boneca tinha! Ê, vida injusta!
Passamos alguns minutos em silêncio, até que ele se pronunciou.
– Sua amiga é gostosinha. – falou.
– Nem pense que vai conseguir algo com ela. A Duda é muita areia pro seu caminhãozinho. – falei indignada. Como ele falava daquele jeito sobre minha colega?
– Não importa. Lu, você poderia ir naquela barraquinha comprar uns tomates que a vó pediu? Eu paro e te espero.
– Com que guarda chuva? – perguntei.
– Toma. – Ele me entregou um.
Saí com a bolsa, o guarda-chuva e o dinheiro que ele havia me entregado. Assim que fechei a porta do carro e andei uns dez metros, Sebastian foi embora. Me senti uma idiota. Xinguei ele de todos os nomes possíveis em todas as línguas que eu sabia. Andei uns 500 metros até o ponto de ônibus mais próximo. Depois de uma hora e meia no ponto esperando, o ônibus que eu devia pegar passou. Demorei uns 50 minutos pra chegar em casa por causa da chuva.
Ao passar por aquela porta, eu estava destruída, destroçada, acabada, em forma zumbi e tudo o que tivesse direito. Só pensava em uma coisa: Sebastian.
Meus avós estavam na cozinha, provavelmente fazendo algo que era minha obrigação e o dito cujo deitado no meu sofá, vendo filme na minha televisão.
– Nossa Luiza, você tá péssima. Não sabia que as pessoas deixavam gente com essa cara trabalhar na maternidade. Isso não assusta as crianças? – disse cínico.
– Você me paga! – falei revoltada. Comecei a correr atrás dele que prontamente tentou fugir, mas antes que ele pudesse fazer algo dei uma rasteira nele, que acabou caindo. Prendi-o no chão, sentando em cima dele, com as pernas uma de cada lado, e então comecei a estrangulá-lo. Ele gritava por socorro, mas eu não me importava, agora era minha vingança, ou pelo menos deveria ser, já que meus avós chegaram a tempo de impedir a morte de um ente nada querido.
– Ficou maluca garota? – dizia colocando a mão no local onde meus dedos haviam apertado com força.
– Fiquei a partir do momento em que você me deixou a pé na chuva! Sabe o perigo que eu corri? Tem ao menos noção? Tive que esperar algum meio de transporte num ponto de ônibus escuro, em que só tinha um bêbado perto de mim! – falei, me controlando.
– Olha pelo lado bom, pelo menos o bêbado te fez companhia. – Sorriu.
– Eu vou matar esse garoto! – disse avançando pra cima dele novamente, sendo segurada pelo vovô.
– Luiza, acalme-se! – disse minha avó. - Vá tomar um banho, descanse um pouco e depois nós conversamos, certo?
– Tudo bem. – Concordei um pouco mais calma.
Tomei um banho pra tirar toda aquela lama do corpo, coloquei uma roupa e decidi estudar um pouco, porém estava tão cansada que acabei pegando no sono.
Era isso que Sebastian fazia comigo. Me tirava do sério, impedia que eu cumprisse meus afazeres completamente e evitava que eu tivesse um dia feliz. Como eu odiava aquele garoto! Mas ele ainda me pagava por aquele dia! Ah, se me pagava! Não adiantava, por mais que eu quisesse que nos déssemos bem. Éramos como gato e rato, água e óleo, sempre nos odiaríamos, nunca nos daríamos bem, sempre estaríamos em pé de guerra. Ou não...
As crianças estavam enfileiradas, todas com postura exemplar e comportamento excelente, agrupadas de forma a abrirem um corredor no meio deles. Em seguida, um homem, a passos lentos e firmes começou a caminhar pelo corredor de crianças indo em direção ao palco construído a frente delas. Ele vestia um terno preto, sapatos de couro preto, andava com a ajuda de uma bengala e usava uma coroa grande e pesada na cabeça. Esse homem era Sebastian. Suspirei. — Sabe, eu não sei quem é mais patético, sou pai ou esse babaca. – comentei com Soninha que estava ao meu lado, segurando seu filho mais novo no colo. — Você ainda tem dúvidas de que é Sebastian? – respondeu. — Espero que essa sua avaliação não esteja carregada de rancor e ressentimento por ele não ser pai de nenhum desses teus filhos. – Alfinetei. A gente podia se falar, mas isso não queria dizer que éramos melhores amigas. Longe disso, graças a Deus. — Luiza,
A cerimônia foi rápida e linda, do jeito que eu gostava. Agora todos comiam e bebiam e nós cumprimentávamos um por um, sempre ouvindo um “quem diria” ou “quem poderia imaginar”. Sebastian não soltava minhas mãos e, quando precisava, se certificava que alguma parte de nós estivesse em contato. Aproveitamos também a oportunidade para renovar as fotos de casamento. E dessa vez fizemos do jeito certo, mas com o mesmo fotógrafo. Estávamos tirando essas fotos quando Serdeberão interrompeu a música ao vivo com uma taça de champanhe na mão pedindo a atenção de todos. – Luiza, Sebastian, aproximem-se, por favor. Paramos as fotos e Sebastian pegou uma cadeira para nós. UMA cadeira mesmo. Sentei em seu colo. – Gostaria de aproveitar esse momento para contar uma história para vocês. Todos vocês. – Respirou fundo e deu um gole demorado na bebida. - Era uma vez a minha melhor amiga. Ela era a pessoa mais amorosa, paciente e sábia que um dia eu pude conhecer. Sempre
– Você está linda! – Estela disse ao entrar na sala da noiva. – Obrigada. – Sorri. – Confesso que sendo vestida pela minha vó eu esperava algo com mais volume e babados do que pudesse aguentar. – Está nervosa? – Estela sentou-se em uma poltrona enquanto eu me encarava no espelho dando os retoques finais no cabelo e na maquiagem. – Para me casar pela terceira vez com o mesmo cara? – olhei de relance para ela, que sorriu. – Mais ou menos isso. – Um pouco, devo admitir. – falei enquanto observava Estela mexer no pote de amendoim ao lado da poltrona em que estava sentada. - Mas só pelo fato de que eu não sei o que esperar desse casamento. Deixei tudo nas mãos da mãe de Sebastian e do vovô e da vovó. Bem, na verdade, só fiz uma exigência. – E qual seria? – perguntou com a boca cheia de amendoins. – Escolher os padrinhos. – Acho que você poderia ter estendido essa decisão para as roupas das madrinhas. Estou s
Sebastian’s povEu tava muito mal, péssimo. Estava sem Luiza e sem meu filho. Meu filho. Eu não pensava que isso fosse acontecer tão cedo. Luiza usava DIU. Tinha dias que eu não dormia direito, não comia direito, não fazia nada. Deus, eu seria pai! E se o bebê não gostasse de mim? E se eu não soubesse criá-lo? Como eu pagaria a escola, compraria fraldas, dormiria de noite? Eu me sentia seguro de arriscar porque sabia que Luiza e eu poderíamos dar um jeito juntos, mas com um bebê eu já começava a pensar em passar num concurso público, comprar uma casa e um cachorro.Eu me sentia o pior homem do mundo por fazer a mulher que eu amava sofrer daquela forma, mas eu estava desesperado, o que poderia fazer? Luiza tinha aquele espírito materno defensor dos oprimidos, mas e eu? Eu era o canalha sem futuro aos olhos d
Luiza’s pov A partir deste ponto eu contarei a história, porque de conteúdo idiota já bastam as atitudes e frases de Sebastian. Descobrir os pensamentos seria demais. Sebastian encarava o teste de gravidez que tinha parado no chão. Estava estático, parecia uma porta, sem reação alguma. – Sebastian, você ouviu o que eu disse? - passaram-se alguns minutos até que eu fizesse aquela pergunta. Tinha esperança de que ele voltaria a si. – Grávida... Como assim grávida? - me encarou. Parecia não entender o que estava acontecendo. – Como assim "como assim grávida"? – Tem certeza que tem um... Hã... Ser vivo aí dentro? Tem certeza que não é uma lombriga, sei lá. - Arqueei uma sobrancelha. – Ta brincando comigo, né, Sebastian? – perguntei. – Ta falando sério? – me rebateu. – O que você acha? – cruzei os braços. – E quem me garante que é meu? – Quê? - eu estava escutan
– Fodeu. Sim, isso mesmo. Eu estava fodida. Não há palavra que melhor traduza meu desespero do que esta. Fo-di-da. Sebastian dormia todo largado na cama apenas de boxer preta. Enquanto isso, eu estava trancada dentro do banheiro, em posição fetal, encarando aquele palitinho do destino. Positivo. Milhares de coisas começaram a passar pela minha cabeça, como: “tinha um ser dentro de mim”, “eu seria mãe”, “Sebastian seria pai”, “como Sebastian reagiria diante da notícia?”, “sou nova demais para ter filhos”. Eu estava apavorada! E a faculdade, como ficaria? Eu teria que contar pra família, mas eles ainda mal sabiam que nós tínhamos nos casado! Eles mal sabiam que a gente sentia algo que não fosse ódio, na verdade. Como eu os enfrentaria? Deus, será que eu podia ficar escondida ali até que essa criança nascesse? Eu estava morrendo de medo e sentindo um embrulho gigante no estômago. Eu... eu não entendia. Nós não éramos muito adepto
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