Ava segura a caneta com firmeza entre os dedos. Seus olhos percorrem novamente a última cláusula, como se quisesse ter certeza de que estava no controle. E, no fundo, acreditava que estava, pois sempre se achou uma mulher muito esperta.Então, ela assente levemente com a cabeça.— Está tudo certo — diz, firme, como quem selava um acordo sob seus próprios termos. — Eu concordo.Sem hesitar mais, assina o contrato com uma assinatura segura e decidida. E, naquele instante, achava que aquilo a blindava, que aquela assinatura era o início de seus planos e vingança.Enquanto ela escreve, Hector a observa em silêncio.De braços cruzados, parado à frente da mesa, ele acompanha cada movimento com os olhos fixos nela. Mas seu olhar não entrega nada. Não há sorrisos, nem arrogância evidente. Apenas um silêncio indecifrável, quase educado… que ocultava tudo o que realmente se passava dentro dele.Por fora, ele parecia apenas atento.Mas, por dentro, Hector já projetava mentalmente tudo o que ganh
Assim que o juiz de paz encerra o processo, se despede com formalidade. Hector o acompanha até a porta com um aceno breve, enquanto Ava permanece em silêncio, erguida, tentando manter o controle do que sentia por dentro.Animado com o resultado, Mark aproxima-se com a câmera ainda em mãos.— As fotos ficaram ótimas — comenta, sorrindo. — Se quiser, posso mostrar algumas agora…Ava nem hesita.— Não, obrigada — diz com firmeza e o olhar impassível. — Não tenho interesse em ver fotos de algo que nem é real.O silêncio paira por um segundo, no entanto, Mark assente, um pouco desconcertado, e recua.Sem mais palavras, Ava caminha até a saída da sala.— Vou me retirar. Preciso tirar esse vestido… o espetáculo terminou.Antes de atravessar a porta, porém, ela lança um último olhar por cima do ombro. Seus olhos encontram os de Charlotte, que estava parada discretamente no canto, observando tudo.E, naquele instante, não foi preciso uma única palavra.O olhar de Ava dizia tudo.“Confio em voc
Sentindo a gravidade daquela situação, Mark corre em direção à garagem para pegar o seu automóvel, no entanto, Hector se adianta e diz:— Vamos no meu carro, ele é muito mais rápido.Sem dar espaço para discussão, ele entra no carro do amigo. Hector pisa no acelerador com força e o carro arranca, saindo da casa em velocidade.Voltando a falar com a mãe, dessa vez acompanhando a localização dela em tempo real, Mark pede por mais informações.— Mãe, eles ainda continuam atrás de você? — pergunta, voltando a atenção para o celular.A voz de Charlotte sai trêmula do outro lado.— Sim… eles continuam, não importa quantas ruas eu entre para desviar do caminho.Hector se inclina levemente para mais perto de Mark, ouvindo a ligação.— Pergunta se ela conseguiu ver o rosto da pessoa que dirige — diz em voz baixa.— Mãe, conseguiu ver o rosto da pessoa que dirige?— Não… está escuro demais e os vidros são muito escuros também. Mas tenho certeza de que são dois homens. Eles estão acelerando mais
Cada palavra que sai da boca de Hector deixa James mais confuso.A postura firme, o olhar calmo, o tom de voz seguro… tudo nele faz parecer que ele se sente o dono da situação. Por outro lado, James sente o peito apertar, a respiração acelera. Um peso toma seus ombros à medida que percebe: ele foi visto.Alguém estava lá. Alguém viu.Ele recua meio passo, como se quisesse escapar da pressão crescente.— O que você quer, Hector Moreau? — pergunta com a voz dura, mas reprimida. — Que eu me lembre, você e a Ava não se davam nada bem.Sorrindo com a situação, Hector se diverte com o desespero alheio.— E não nos damos — confirma, com indiferença. — Mas tem uma coisa sobre mim que talvez você ainda não tenha entendido, James… Eu não consigo ver alguém sofrendo… e simplesmente não fazer nada.Fechando os punhos com mais força, James sente a raiva crescer dentro dele.— O que você fez?— Tirei a Ava do mar — revela.A frase fica no ar por alguns segundos.O impacto da revelação atinge James
Dirigindo de volta para casa, Hector sente como se o universo finalmente estivesse girando a seu favor. Tudo estava se encaixando. James havia cedido, Ava estava sob seu controle e o mundo, finalmente, começava a se moldar ao que ele queria. Nada poderia estar melhor.Quando chega, já passam das três da manhã. O silêncio reina. O ar noturno traz um frescor leve, e as luzes internas ainda mantêm a sala iluminada com um tom quente e suave. A decoração do casamento permanecia ali, espalhadas como uma lembrança da encenação oficializada horas antes.Ele entra e solta as chaves sobre a mesa lateral. Ao olhar ao redor, um sorriso de canto se forma em seus lábios.Casado.O pensamento o diverte mais do que deveria.Mas quando se aproxima da escada, pronto para subir, seus passos param pesadamente.No topo da escadaria, está Ava. Imóvel. Observando-o.Ela veste um robe branco de cetim que cai suavemente sobre o corpo, delineando suas curvas de forma quase descuidada. Os cabelos estão soltos
Charlotte encosta a testa na janelinha do avião, observando as nuvens se afastarem enquanto o chão do Brasil vai surgindo lá embaixo, cada vez mais perto. O sol bate direto no rosto dela, mas ela nem se mexe. Está longe dali. Perdida nos próprios pensamentos.O avião já começa a descer, e o aviso de apertar os cintos ecoa pela cabine. Ainda assim, o coração dela parece mais apertado que qualquer cinto de segurança.“O que eu estou fazendo?”“Como fui me meter nisso?”Ela fecha os olhos por alguns segundos e solta o ar devagar. Não era só uma viagem. Era uma missão. Daquelas que ninguém quer, mas que você acaba aceitando por não conseguir dizer não. Principalmente quando a pessoa em questão é Ava Smith, a filha do homem que, um dia, mexeu com tudo dentro dela.“Seus pais merecem saber que você está viva antes de qualquer pessoa.”Mas, mesmo com esse pensamento martelando, Charlotte sabia: não seria fácil. Ela carregava verdades demais, mentiras demais… e nenhum manual de instruções.O
Ele franze o cenho na mesma hora, como se as palavras tivessem batido errado nos ouvidos.— Como é que é?— Foi ela quem me pediu. A Ava. Ela está viva, Ethan.O silêncio entre eles é imediato, denso, como se o mundo tivesse prendido a respiração junto.Ethan dá um passo para trás, com o olhar vidrado nela, seu corpo parece bastante tenso.— Que tipo de brincadeira sem graça é essa?A voz dele sai mais alta e incrédula. Os olhos começam a brilhar, não se sabe se de raiva, choque ou desespero.— Você tem noção do que está dizendo? — ele continua. — Está mexendo com algo muito sério. Eu procurei por minha filha, Charlotte, dia e noite. Contratei mergulhadores profissionais e fiz uma busca por toda a região onde o veículo dela foi encontrado.— Eu sei… eu sei que parece loucura — ela diz, com a voz trêmula. — Mas é verdade. Ela está viva. Eu a vi. Falei com ela. E ela… ela me pediu para te procurar, para contar tudo.Ethan balança a cabeça, visivelmente abalado. Ele caminha em direção a
— Antes de sair julgando o que os outros fizeram, talvez você devesse se lembrar do que fez no passado — diz Charlotte, encarando-o, sem abaixar o tom.O rosto dele endurece. A raiva volta a borbulhar no olhar.— Mas o que fiz foi completamente diferente! — rebate, dando um passo à frente. — Você quer mesmo comparar a minha filha com aquela desgraçada da Eva?Charlotte fecha os olhos por um segundo, tentando manter a calma.— Não. Eu jamais compararia as duas. A Ava é especial… é luz. E eu sei disso. Só que, Ethan, os pais da Eva também sofreram. Também choraram pela perda da única filha que tinham.Ele solta uma risada amarga, desviando o olhar.— Eles criaram uma pessoa horrível.— Eles criaram uma filha. E perderam-na — Charlotte insiste. — Eles não foram culpados pelo que ela fez. A dor de perder um filho não escolhe quem tem ou não razão. Ela só acontece.Ethan aperta os punhos e seus ombros caem. Ele queria discutir, retrucar, negar tudo. Mas por dentro, uma parte dele sabia: C