DORIAN
Fecho a porta do quarto atrás de mim e encosto as costas nela por um instante.
O silêncio da mansão à noite é diferente. Ele não pesa. Não oprime. Hoje, parece... confortável.
O jantar ainda me ronda como um perfume persistente — rastro de uma cena que não devia ter acontecido, mas aconteceu. Dona Natália comendo bem, rindo com gosto. Lara de riso fácil, às vezes tímido, às vezes provocador. E eu... observando.
Participando.
Gostando.
Demais.
Caminho até a janela do quarto, puxo a cortina só o suficiente para ver o jardim iluminado. As luzes suaves, as flores adormecidas, a tranquilidade suspensa no ar.
Penso no quanto gosto de ver Dona Natália aqui. No quanto é simples fazer por ela o que nunca consegui fazer por minha mãe. No quanto ela traz leveza para um ambiente que foi, até pouco tempo, um campo de guerra.
Penso em Lara.
Na forma como ela sorriu, mesmo contida.
No beijo.
Foi para disfarçar.
Para cumprir um papel.
Mas por um momento, eu esqueci.
Esqueci do contrato, do pass