A porta do prédio se fechou atrás dela com um clique abafado. A chuva ainda escorria pelas laterais de seu corpo, e o vestido colado à pele parecia pesar mais do que devia. Irina não sentia frio. Sentia-se vazia, molhada, suja, não por fora, mas por dentro, como se sua alma tivesse se partido em pedaços e cada passo deixasse um rastro invisível de dor.
O corredor até seu apartamento pareceu eterno. Os saltos encharcados faziam barulhos ocos contra o chão frio, e o silêncio no prédio era sepulcral. Ela abriu a porta de casa com as mãos trêmulas, deixando as chaves caírem no chão da entrada sem se importar. O apartamento estava escuro, apenas um abajur da sala lançava uma luz tênue que mais criava sombras do que conforto.
Ela fechou a porta devagar, sem fazer barulho, como se temesse acordar as lembranças que tentava enterrar. Estava tão cansada. Cansada por dentro, por fora, pela alma. Caminhou até o quarto como um espectro. Cada movimento era automático, como se estivesse em transe. A