Apartamento de Natália e Nicole | 01h32 da madrugada
A chuva não cessava. E dentro de Irina… o dilúvio também não.
O vento batia contra as janelas do prédio alto. Tão alto quanto o vazio que Irina sentia no peito. A cidade lá fora seguia indiferente, com seus semáforos pulsando, seus carros apressados, suas pessoas alheias ao que acontecia naquela sala escura minutos atrás.
Irina fechou a porta atrás de si com cuidado. Cada gesto parecia milimetrado, como se o mundo pudesse desabar com um estalo. Estava com o casaco fino ainda molhado do suor, da ansiedade, da chuva. O rosto sem expressão, mas os olhos… os olhos diziam tudo.
Vermelhos, vazios, lúcidos demais.
O salto alto estava numa das mãos. A outra segurava a chave do carro com força, como se ainda estivesse em modo de sobrevivência.
Não disse uma palavra. Foi direto para o banheiro do corredor, como se seguisse um caminho que conhecesse de olhos fechados.
Não acendeu as luzes, não precisava. No escuro, tirou as roupas lentamente.