A cidade parecia sangrar, as luzes vermelhas sobre o asfalto úmido, cada farol refletia no para-brisa como se zombasse da fúria cega de Evan Médici. O motor do Porsche urrava, gritando por ele. As mãos dele, ainda trêmulas, agarravam o volante com força enquanto o carro cortava as ruas de Boston como uma lâmina quente, rápido, perigoso, movido não por destino, mas por fuga.
Na mente dele, a cena se repetia em looping cruel: Irina de braços dados com outro homem. O sorriso dela, o modo como o corpo dela se inclinava levemente para o lado do sujeito, como se compartilhassem algo íntimo, exclusivo. Não havia beijo. Não havia toque escandaloso. Mas o silêncio daquela imagem gritava mais alto do que qualquer traição carnal.
Evan socou o volante com ambas as mãos e os dentes estavam cerrados.
— Idiota. Idiota! — rosnou para si mesmo. — Claro que ela escolheria outro homem. Um homem normal. Um que não demorasse a deixar claro o que sente por ela.
Ele acelerou ainda mais, o ronco do carro eco