Nicole e Pablo haviam saído para jantar fora naquela quinta-feira. Eu fiquei em casa, alegando cansaço, mas na verdade minha mente estava inquieta demais para me divertir. Passei o dia inteiro me ocupando: cozinhei como se minha vida dependesse daquilo, limpei a cozinha duas vezes e até organizei a despensa. Eu queria preencher o vazio que estava me corroendo por dentro.
Há alguns dias vinha pensando em arrumar um trabalho. Algo pequeno, qualquer coisa que me desse um propósito além de ser “o pai de Nicole”. Não que eu tenha vergonha disso, pelo contrário, minha filha é meu maior orgulho, mas com a idade e minha condição, me sinto deslocado. Sou um estrangeiro tentando se encaixar num mundo que já não reconhece a minha história. Essa sensação de inutilidade só aumentava a ansiedade.
O relógio marcava 21h quando saí do banheiro. O estômago roncava, pedindo algo para aplacar a fome. Eu sabia que havia uma massa fresca esperando na cozinha, mas, no meio do corredor, meu corpo congelou.