Mundo ficciónIniciar sesiónAcordei de um pesadelo horrível: meu patrão Leopoldo havia falecido. Eu nunca mais quero sonhar com uma coisa dessas. Levanto para mais um dia de trabalho, economizando centavo por centavo para ajudar nas despesas de casa. Às vezes, me pergunto por que tudo tem que ser tão difícil.
Mas a esperança é maior que tudo. Quando desço para a sala, encontro meu irmão com as mãos na cabeça, chorando e me dizendo que a mamãe foi para o hospital, sangrando. Minha preocupação começou ali. Ligo para o meu pai em busca de notícias. — Por que ele não me chamou para ajudar? Estou com o coração na mão! — pergunto, aflita, com o celular nas mãos. — Irmã, você chegou tarde ontem. O pai não quis te preocupar. — Espero que não seja nada grave — falo, mas papai não me atende. No caminho para o trabalho, ligo incessantemente para o meu pai. E, para afundar ainda mais o meu dia, quando chego na empresa e subo para o meu andar, recebo a notícia que confirma o meu pesadelo: o senhor Leopoldo teve um infarto. Sentei na cadeira na hora, com as pernas bambas, ao receber a notícia do segurança do prédio. — Não pode ser, o homem estava ótimo ainda ontem — falo, sem acreditar. — Você sabe que ele já tinha uma idade avançada — o segurança responde. — O que será de mim, do meu emprego? Quem irá assumir tudo isso aqui? — pergunto a mim mesma. Me belisco. Como posso simplesmente acordar e ver o mundo desmoronar de uma vez só? Liguei para a mansão, mas o velório foi fechado, e só os familiares participaram. Que triste não poder dar um último adeus a uma pessoa que me ensinou tanto e me ajudou. Voltei para casa, triste, e encontro meu pai, que me dá outra notícia ruim: minha mãe está com suspeita de câncer. A mulher forte que existia em mim desabou. Meus dois irmãos me abraçam, e eu fico sem saber o que fazer. O final da tarde chega e o telefone começa a tocar. Quando atendo, é Will, o advogado do senhor Leopoldo. Ele precisa falar comigo com urgência no escritório do falecido. “O patrão mal morreu e já serei demitida? Que maldade!”, pensei. Visto meu velho vestido florido e me dirijo até a empresa, meu antigo local de trabalho. Passo pela minha mesa já com lágrimas nos olhos, pois não consigo ser insensível à morte de alguém. Will sai e me chama para a reunião. — Venha, Lira, por favor — Will me guia até uma sala. Quando entro, dois homens me olham como se eu fosse um ser de outro planeta. Um deles tem um olhar intimidador que me dá medo. Pergunto baixo a Will: — O que está acontecendo? Por que esses olhares para mim? — Sente-se e ouça com atenção. O que tenho a falar é do seu interesse. Presto atenção quando Will fala em testamento, que o senhor Leopoldo me deixou uma herança. Mas, para tomar posse, terei que me casar com o neto dele. Foi demais para mim, não processei muito bem tudo aquilo. Juro que não esperava ficar rica tão rapidamente. Mas o neto dele me humilhou horrores, me acusando de ser amante do avô. Não consigo aceitar esse tipo de acusação. Entre discussões e acusações, não chegamos a acordo nenhum. Eu só conseguia pensar na herança e na minha mãe, que precisará de dinheiro para saber o que ela tem. Rangel, o neto, para herdar a empresa, também precisa desse casamento. Mas ele não aceitou. Já eu, estou sem saída. Saio daquela empresa chorando muito. Fui até chamada de vadia, sendo que nunca nenhum homem me tocou. Resolvi passar no hospital para visitar a minha mãe. Ao entrar no quarto, percebo como ela está pálida. — Filha, que bom te ver — minha mãe fala ao me ver. — Mãe, eu te amo tanto e rezo muito por sua recuperação. Aquela casa não tem graça sem você. — Quero que cuide dos seus irmãos para mim. — Não fale assim. Farei o impossível para te levar embora daqui, com muita saúde e com vida, mãe, nem que para isso... — faço uma pausa. — Isso o quê, Lira? Não vá fazer besteira. Sei que por nós você daria o mundo, mas não quero que sacrifique seu salário por mim. Ouço as palavras dela. Se ela soubesse que estou rica... Mas essa riqueza me custa um casamento sem amor com um homem arrogante e sem coração. Ligo para o papai e aviso que farei companhia para minha mãe no hospital. Como pode sua vida estar normal, tudo fluindo, e de repente virar um inferno? E o pior é que a mulher sempre leva a culpa de tudo. Só de pensar que estou sendo acusada de ser amante do senhor Leopoldo... Não mereço o que está acontecendo comigo. Peço para conversar com o médico a respeito da saúde da minha mãe. Ele diz que amanhã ela passará por mais exames para ter certeza do melhor tratamento, mas tudo indica que ela está com câncer. Deito na poltrona daquele leito de hospital, sem saber o que fazer. Estou tão cansada que acabo adormecendo. Acordo de madrugada e minha mãe diz que está com frio. A cubro com dois agasalhos. Lembro das palavras do Will: “o cartão de crédito sem limite”. Amanheceu, e não consegui mais fechar os olhos. Muitas dúvidas rondam minha cabeça. Quando o sol raia, ajudo minha mãe a se arrumar para realizar os exames. Acompanho todo o processo e, em poucas horas, os resultados estão prontos. Minha mãe realmente tem câncer. Se não for tratado, poderá evoluir e matá-la. Tentei passar toda a tranquilidade para ela, mas só eu sabia como estava desesperada por dentro. — Filha, prometa que, se eu morrer, cuidará dos seus irmãos — minha mãe pede, chorando. — Você não vai morrer, porque eu não vou deixar, mãe — falo, chorando. Tem que haver um jeito de conseguir dinheiro que não seja daquela herança. O dinheiro que receberei das minhas contas trabalhistas não dá nem para começar. Os dias se passam, bato em todas as portas, inclusive em bancos, para conseguir um possível empréstimo, mas não tenho nada para hipotecar. As portas só se fecham para mim. Até emprego está difícil de conseguir.






