Bela Flor do Deserto
Bela Flor do Deserto
Por: Sypha B
CAPÍTULO UM

Arábia

Século XVIII.

Tristan Alexander Dopfelth, quarto Marquês de Brisden, observava a cidade na qual acabava de desembarcar. Estava na Arábia. O sol reinava sobre sua cabeça e, de alguma forma, parecia estar mais próximo do chão. O calor era infernal. Tristan olhou para a roupa que vestia e imediatamente se arrependeu de usar tantas capas. O suor se acumulava em sua fronte e empapava os trajes ricamente confeccionados. Na rua a sua frente, as pessoas pareciam completamente à vontade debaixo daquele sol escaldante, roupas coloridas e leves, que seriam consideradas impróprias em qualquer casa de boa família londrina, eram usadas por todos. Estava em uma terra pagã. Amaldiçoou baixo e torceu para que as senhoras que desembarcavam do navio não tivessem lhe escutado. Virou as costas à procura de algum vestígio da civilização e viu seu amigo Tony, Conde de Tarlin, desembarcar com um sorriso de quem acabava de chegar ao Hyde Park pela primeira vez. Tony o olhou e fez uma careta de desgosto.

— Ah, por favor, Tristan! — Tony disse, aproximando-se dele. — Tire essa cara de quem vai para a forca e veja o lado bom da situação. Estamos na Arábia! — Tony falou como se ali fosse a praia salvadora depois de dias de náufrago.

Tristan considerou a possibilidade de aquele sol já ter afetado a cabeça do amigo.

— Estou com cara de quem vai para a forca, porque vou para a forca. Você tem noção que acabamos de desembarcar em uma terra pagã, longe de qualquer rastro de civilização?

— Não estamos longe da civilização. — Tony lhe disse sorrindo antes de continuar a falar apontando com a mão o local em que acabavam de desembarar. — A prova disso é o porquê de termos sido enviados aqui. Este lugar cresce como nenhum outro, meu amigo, e é muito importante para a coroa ter aliados aqui.

Mais uma vez o assunto que queria evitar. Estava ali obrigado! Sim, obrigado. Seu Rei, para o qual serviu por tanto tempo com honra e determinação, impôs a ele uma ordem e, como o bom servo que era, aqui estava para cumpri-la. Veio até essa terra pagã para fazer uma aliança com um grande Sheik, oferecer sua cabeça em uma bandeja de prata, ou melhor, de ouro, e se casar com a filha do homem. Apenas isso garantiria a continuação do comércio entre a Arábia e a Inglaterra e salvaria os cofres de sua família.

— Não pode ser tão ruim quanto parece, Tristan. — Tony voltou a falar interrompendo os seus pensamentos. — Pense em tudo o que vai ganhar com esse casamento. Esse homem é mais rico que Creso, mais rico que o Rei até! E você terá o dinheiro que tanto precisa para saldar as dívidas de sua família, além de cair nas graças do Rei por garantir um comércio tão lucrativo.

Tristan tentava se conformar todas as vezes usando as mesmas palavras que o amigo acabara de lhe falar. Ele sabia de todos os benefícios que esse casamento lhe traria, seria a salvação para os cofres de sua família, que, graças a seu pai, estavam em situação precária. O antigo Marquês não poupava gastos com luxo para si e para a família, mas não se preocupou em manter o patrimônio prosperando. Agora, cabia a ele restaurar a fortuna que sua família manteve por gerações, mas, mais uma vez, um rosto surgiu em sua mente, olhos tão azuis quanto o mais lindo céu de verão, pele alva, nariz pequeno, cílios longos e lábios que imploravam para serem beijados: Charlotte. O rosto dela o acompanhou durante toda a viagem, seus lindos olhos cheios de lágrimas quando lhe revelou sua verdadeira situação. Não poderia se casar com ela, não a teria como esposa e sim uma estrangeira pagã. Amaldiçoou novamente e dessa vez não se preocupou se alguém o ouviu. Teve que abrir mão da mulher que sempre quis! Charlotte era filha de um Conde decaído, precisava fazer um bom casamento, ele não poderia se casar com ela.

— Sei que você se lembra dela, meu amigo. — Tony falou ao seu lado, como sempre com sua capacidade irritante de acertar seus pensamentos. Olhou o amigo mais uma vez, eram vizinhos de propriedades rurais, cresceram juntos, foram para Eton no mesmo ano e, de lá pra cá, mantiveram a amizade. Tony fez questão de lhe acompanhar nessa viagem.

— Ela sabe que eu não tenho nada a oferecer a ela agora. E o dinheiro que vou ganhar, por ironia do destino, virá do meu casamento com outra mulher. — A raiva voltou a crescer em Tristan, raiva por seu pai o ter deixado nessa situação, raiva por seu rei ter lhe oferecido com única solução para os seus problemas financeiros um casamento com uma estrangeira.

—Tristan, se continuar a intitular sua futura mulher assim, começara a odiá-la antes mesmo do casamento. Ela deve estar na mesma situação que você, veja bem, vocês já têm algo em comum. —Tony o reprendeeu, o amigo pelo visto virou o defensor da mulher antes mesmo de conhecê-la. Segurou a língua para não mandar Tony se casar com ela já que estava tão empenhado em defender esse casamento, mas Tony não precisava de dinheiro, poderia se casar com a mulher que escolhesse. Já Tristan não tinha essa opção.

— Talvez eu já a odeio, meu amigo. — Tristan não pôde negar, nesse momento era o que sentia. — Esse casamento não será um casamento comum. Vou me casar com ela, mas não tenho nenhuma intenção de continuar com essa farsa. Pelo amor de Deus, nem sei se quero filhos com sangue pagão nas veias. Eu sou um Marquês, Tony! Meus avós estão se revirando na tumba neste momento. Mancharei o nome de minha família me casando com essa estrangeira.

O amigo o observou atentamente e sacudiu a cabeça em um gesto de negação.

— Ele te criou muito bem. Juro que posso ouvir a voz do velho Marquês sair de sua boca, quase como quando ele nos repreendia por sujarmos os nossos trajes brincando com os moleques do povoado. Somos da nobreza, não podíamos nos misturar. — A voz de Tony continha reprovação

Tristan olhou o amigo. Tony fora criado praticamente sem pai, o Conde morreu quando ele era apenas um bebê. Mesmo tendo crescido Conde, ele não teve que seguir os passos de alguém. Ele desenvolveu sua forma de administrar seus bens e tudo que ganhou com o Título de Conde. Tristan, não. Desde pequeno teve que imitar seu pai em tudo, para no final descobrir que o velho fez tudo errado.

Nesse momento, chegaram ao final da ponte do porto. Um par de cavalos árabes do mais puro sangue seguiam parados um pouco à frente; mais atrás, mais dois cavalos puxavam uma espécie de carruagem, enquanto um homem se aproximava. Tristan observou o homem com precaução. Nessa terra sem lei, poderia ser um assaltante ou um assassino. Tinha a estatura baixa e todo o corpo coberto por um tecido claro, como o que as outras pessoas dali usavam. Ele se aproximou e disse, em inglês:

— Lorde Brisden! Lorde Tarlin! Sejam bem-vindos a Dajji-aal! Sou Mohamed Kamajji. Trabalho para o Sheik Ufaaha e serei guia e intérprete de vocês.

Tony foi o primeiro a se manifestar, adiantou-se e cumprimentou o servo pela mão. Seu amigo, pelo visto, perdera as regras de etiqueta no momento em que pisou ali. Tristan deu um aceno de cabeça para o servo e disse:

— Muito bem, Mohamed, nossas bagagens estão no navio.

— Providenciarei para que sejam pegas e levadas ao palácio. Os cavalos estão à espera de vocês, Lordes.

Tristan o observou se afastar e falar algumas palavras em árabe para outros dois servos, que estavam próximos à carruagem. Mohamed montou em um cavalo e se aproximou novamente.

— Suas bagagens serão levadas ao palácio assim que forem liberadas. Podemos adiantar a viagem.

Tony mais uma vez foi o primeiro a chegar perto dos magníficos cavalos árabes e a montar em um, com uma enorme cara de satisfação. Tristan seguiu o amigo, e puseram-se em marcha para o palácio de Ufaaha.

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