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capítulo 6 - O Primeiro Sintoma

Camila acordou com uma sensação estranha. O quarto parecia girar, e o gosto amargo em sua boca a fez engolir em seco. Sentou-se na cama devagar, mas logo uma onda de náusea subiu, obrigando-a a correr para o banheiro. Agachada diante da pia, apertou o abdômen e respirou fundo, tentando se recompor.

O frio do mármore contra sua pele contrastava com o calor que sentia no corpo. “Não pode ser… já tão rápido?”, pensou, olhando o próprio reflexo pálido no espelho.

Uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos. — Camila? — era a voz preocupada da empregada, Teresa. — Está tudo bem?

Ela lavou o rosto, tentando parecer normal. — Sim, Teresa. Só… só um mal-estar.

Mas, por dentro, o coração batia acelerado. Não era apenas um mal-estar. Algo dentro dela dizia que a vida já estava crescendo em seu ventre.

Ao descer para o café da manhã, encontrou Beatriz já sentada à mesa, impecável como sempre, folheando uma revista de moda. O perfume caro dela tomava conta do ambiente. Ricardo estava do outro lado, lendo o jornal, mas seus olhos se ergueram imediatamente quando Camila entrou.

— Você está horrível. — disse Beatriz sem rodeios, pousando a revista sobre a mesa. — O que houve?

Camila hesitou. Sabia que, qualquer palavra, seria usada contra ela. Ainda assim, murmurou: — Acho que estou começando a sentir… os sintomas.

Por um instante, Beatriz não conseguiu disfarçar o brilho de satisfação nos olhos. Era como se estivesse prestes a anunciar ao mundo uma vitória pessoal. Mas, rapidamente, vestiu sua máscara de controle. — Excelente. Já marquei uma consulta com o Dr. Álvaro para hoje à tarde. Quero exames completos.

Ricardo largou o jornal, encarando Camila com uma preocupação sincera. — Está se sentindo mal agora? Precisa descansar.

Beatriz o cortou com frieza. — Não dramatize, Ricardo. Isso é natural. Ela está aqui para isso.

Camila abaixou a cabeça. Sentia-se pequena, um objeto de negociação entre os dois.

A clínica ficava em um bairro nobre da cidade. O consultório do Dr. Álvaro exalava luxo discreto: móveis de madeira escura, quadros modernos, cheiro de desinfetante misturado a lavanda.

Deitada na maca, Camila sentiu o coração acelerar quando o médico sorriu. — Sim, parabéns. Os exames confirmam. A gravidez está em estágio inicial, mas tudo indica que está indo bem.

Beatriz segurou a mão do médico como se fosse a dela própria a conquista. — Finalmente! — exclamou. — É o começo de um sonho.

Camila, por outro lado, sentiu uma mistura de medo e ternura. Passou a mão pelo ventre ainda plano, como se já pudesse tocar a vida ali dentro. Não sabia se podia chamar de seu… mas o vínculo era inevitável.

Ricardo observava em silêncio, com um olhar difícil de decifrar. Quando saíram da clínica, ele se aproximou de Camila e falou baixo: — Você está bem?

Ela assentiu, mas sua voz saiu trêmula: — Estou… só assustada.

Ele colocou a mão em seu ombro, firme e caloroso. — Não está sozinha.

Camila quase acreditou. Mas, ao virar o rosto, viu Beatriz observando-os com olhos estreitos.

Naquela noite, Beatriz organizou um jantar improvisado para “comemorar a boa notícia”. Dois casais amigos foram convidados. O salão de jantar estava iluminado por velas e lustres cintilantes. O vinho mais caro foi servido, e as risadas ecoaram pela sala.

Camila, em um vestido simples, sentia-se como uma peça de decoração. Não participava das conversas; apenas sorria quando mencionada.

— É a nossa salvadora. — disse Beatriz em tom triunfal, erguendo a taça. — Graças a ela, nossa família terá um herdeiro.

As risadas e aplausos dos convidados a atingiram como uma bofetada. Camila forçou um sorriso, mas por dentro sentia-se despida de humanidade. Era apenas um útero, um contrato.

Ricardo, sentado ao lado, apertou o punho discretamente. Não suportava vê-la reduzida àquela condição. Inclinou-se e murmurou no ouvido dela: — Não deixe que a diminuam.

Camila respirou fundo, tentando conter as lágrimas. Era fácil falar… mas como resistir a tanta humilhação?

Após o jantar, já em seu quarto, Camila ficou diante do espelho. Observava a si mesma com estranheza. Passou a mão devagar pelo ventre e sussurrou: — O que vai ser de mim?

Uma sensação agridoce a dominou. Estava feliz pelo bebê, mas despedaçada por dentro.

No corredor, Beatriz observava pela fresta da porta. Seus lábios se curvaram em um sorriso frio. Para ela, cada lágrima de Camila era apenas mais um lembrete de que estava no controle absoluto.

E naquela madrugada, deitada na cama, Camila percebeu que o pior ainda estava por vir. A gravidez havia começado — e, com ela, um jogo ainda mais perigoso dentro da mansão Monteiro.

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