O dia amanheceu em silêncio.
Um silêncio pesado, denso, daqueles que não trazem paz — apenas lembranças do que foi dito, e do que ficou entalado na garganta.
Camila estava sentada na beira da cama, o corpo imóvel, as mãos segurando uma caneca de café que já esfriara há muito tempo.
Do lado de fora, o som dos galhos ainda molhados pela chuva da noite anterior misturava-se ao piar de alguns pássaros tímidos.
Ricardo se movia pela casa, inquieto.
Recolhia coisas do chão, fechava cortinas, trancava portas — não era apenas um gesto de proteção, era uma tentativa desesperada de se manter no controle.
Mas o controle, ele sabia, era o que menos tinha.
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Camila olhou para o berço.
O bebê dormia sereno, respirando com aquele som leve que só os inocentes têm.
Por um instante, ela sorriu — pequeno, quase imperceptível — e depois o sorriso se desfez.
As palavras de Beatriz ainda ecoavam em sua cabeça, como se tivessem sido gravadas na alma:
"O amor que vocês têm é uma ferida. E feridas apodrecem