Miguel acordou suando frio. Seu corpo estremecia, os lençóis encharcados pelo terror que se agarrava aos seus ossos. Mais uma vez, o mesmo pesadelo: estava preso em um campo de sombras, sem som, sem cor. Apenas olhos ao redor — e entre eles, um olhar conhecido, que gritava por socorro.
Levantou-se e caminhou até o espelho. Havia algo de estranho em seu reflexo. Por um segundo, os olhos ali não eram os seus. Eram escuros demais. Famintos demais.
Desceu as escadas e encontrou Valéria na sala, enrolada em um cobertor, com uma xícara de chá esquecida nas mãos. Ela o olhou, como se já soubesse o que ele diria.
— Você sonhou de novo, não é?
— Sim. E está ficando mais intenso. Acho que o véu ainda não terminou conosco.
— Eu sei. Senti algo também. Uma presença... me observando.
Léo entrou logo depois, com olheiras profundas e um caderno cheio de rabiscos.
— Recebi um aviso esta manhã. Um espírito escapou da contenção no santuário antigo. Era uma prisão feita antes da guerra, esquecida