ARTHUR CASTELLANI
Dias atrás...
Voltar para São Paulo era como prender o próprio corpo dentro de uma armadura feita sob medida- cara , elegante , sufocante.
A estrada parecia mais cinza do que quando saí. Talvez fosse o contraste . O jardim da minha avó ainda vibrava na memória , com aquele aroma insistente de jasmins , o som do vento passando pelas samambaias . E ela ..me olhando como quem vê muito além do que se diz.
‘’Você está perdendo o seu brilho , meu príncipe ‘’, ela disse antes de eu entrar no carro .
Era típico de Maria Antonieta , sempre com uma fala que parecia saída de um oráculo de interior . E embora eu desprezasse sentimentalismos , aquilo ficou preso como uma farpa debaixo da pele.
Passei os dois últimos dias sem abrir o notebook. Sem responder e-mails. Sem atender ligações . Era o máximo de liberdade que podia me permitir . O máximo de silêncio que o mundo me concedia.
Mas ao cruzar o portão do condomínio , o peso voltou. A cidade parecia me observar. Me me