VALENTINA CASTELLANI
Eu li a mensagem da assistente de Maitê três vezes antes de atirar o celular contra a parede de mármore do closet.
Existem silêncios que não são vazios . São cheios de intenções , mentiras e pequenos pactos que ninguém ousa verbalizar.
E o silêncio de Maitê estava começando a me irritar.
Ela viajou sem aviso. Disse que precisava espairecer . Que estava se sentindo sufocada . Palavras mansas , bem escolhidas- mas ditas com a precisão de quem está escondendo algo.
Não me opus
Apenas deixei que fosse.
Às vezes , quando se quer capturar um animal arisco , o melhor é soltar a coleira e observar para onde ele corre. E Maitê correu depressa demais. Antes disso , ela havia tentado evitar o exame na clínica da Império com um sorriso e mais uma de suas desculpas improvisadas – enxaqueca , estresse , sensibilidade emocional. O repertório das mulheres que não querem ser tocadas por ninguém que possa ver demais.
Na manhã seguinte à sua partida , fui até meu escritór