Rachel subiu lentamente, apoiando-se no corrimão, o corpo ainda fraco, os músculos doloridos.
Uma das empregadas, uma mulher de meia-idade com expressão gentil, ofereceu-lhe o braço. — Venha, querida, vou te ajudar. Os degraus pareciam infinitos, e o choro do bebê ecoava pelo corredor como um chamado. Cada soluço fazia o coração dela se apertar ainda mais. No topo da escada, a empregada abriu uma porta decorada com delicadeza — cortinas rosadas, um berço branco e o cheiro adocicado de talco e leite. Lá dentro, outra funcionária tentava em vão consolar a criança, balançando-a de um lado para o outro e tentando, desajeitada, colocar uma mamadeira pequena na boca da bebê. — Não, não faça isso — disse Rachel com suavidade, aproximando-se. — Entregue ela pra mim, por favor. A empregada obedeceu sem questionar. Rachel sentou-se na cadeira de amamentação junto à janela, ajeitou a postura e recebeu a bebê nos braços. O choro foi diminuindo conforme a pequena sentia o toque dela. Rachel a olhou com ternura. Os olhos da bebê, ainda marejados, pareciam buscar alguma coisa que ela não sabia explicar. — Oi, meu amor, o que foi, hein? — murmurou, encostando o rosto pertinho do dela. — Está assustada, é? O choro se tornou um resmungo fraco. Rachel sorriu, emocionada. — Você está com fome, não é isso? Olhou para as empregadas e pediu baixinho: — Pode me trazer um algodão com água, por favor? Quero limpar o bico do seio. Uma delas correu até o banheiro e voltou com o algodão. Rachel higienizou o seio com cuidado, o gesto trêmulo, mas terno, como se estivesse retomando algo sagrado que havia perdido. Em seguida, aproximou o bebê e o colocou para mamar. A menina buscou o seio com uma urgência faminta, sugando com força, e Rachel prendeu a respiração, surpresa. — Isso você só estava com fome, não é meu anjo? — sussurrou, as lágrimas começando a descer. Por um instante, o tempo parou. O barulho da chuva lá fora parecia distante. Era só ela e aquele pequeno ser, unidos por algo invisível e poderoso. As lágrimas escorriam silenciosas quando ela murmurou, quase num sussurro: — O leite que era para o meu filho, vai alimentar você. A menina mamava com tanta serenidade que Rachel sentia o próprio coração se aquietar. Depois de alguns minutos, ela a colocou no outro seio, garantindo que a criança se alimentasse bem. Quando terminou, a ergueu com cuidado e a fez arrotar, apoiando a cabecinha no ombro. O ar saiu num som pequeno, e Rachel sorriu entre lágrimas. — Como é o nome dela? — perguntou, olhando para as mulheres que observavam a cena com respeito. — Roxy — respondeu uma delas, com voz baixa. Rachel repetiu o nome, saboreando-o como se fosse uma canção. — Oi, Roxy, sou a Rachel e agora vou cuidar de você. Colocou a bebê para dormir, ajeitou o cobertor e permaneceu um instante observando o rostinho tranquilo que, há pouco, chorava de dor. — Onde vou dormir? — perguntou, virando-se para as empregadas. — Aqui mesmo, Rachel. — A mais velha apontou para uma cama encostada à parede, discreta, mas bem arrumada. — Pode dividir o quarto com a menina, é prático. — Há um lugar para guardar minhas coisas? — indagou, ainda num tom de doçura cansada. — Sim, claro, — abriram o pequeno guarda-roupa e começaram a ajudá-la a dobrar suas roupas, organizando tudo com cuidado. Enquanto guardavam as coisas, uma das mulheres, de olhar solidário, perguntou com hesitação: — Você perdeu o seu bebê, não foi? Rachel parou por um instante, olhando para o nada. Respirou fundo e respondeu num fio de voz: — No mesmo dia perdi o meu marido e meu filho, perdi tudo. O silêncio se fez. A mulher baixou os olhos, comovida. Rachel continuou, as lágrimas lhe nublando a visão: — Minha sogra me culpa pela morte deles, disse que eu matei os dois. Me expulsou, não tive direito de me despedir. Tive o direito apenas de voltar para casa pegar minhas coisas. A empregada suspirou e apertou o braço dela em um gesto de compaixão. — Sinto muito. Rachel, ninguém merece tanta dor. Rachel forçou um sorriso pequeno, cansado. — Agora, pelo menos, eu tenho alguém para cuidar, talvez Roxy me ajude a continuar respirando. Ela olhou novamente para o berço. Roxy dormia profundamente, os lábios entreabertos, o rostinho sereno. Rachel se aproximou, ajeitou o cobertorzinho e sussurrou: — Boa noite, meu amor. Era como se, por um breve instante, o universo lhe devolvesse o que havia levado.