####AS PERDAS

Rachel despertou com o coração pesado, seu corpo ainda carregava o peso da perda, a lembrança das perdas, a dor de não ter seu marido e filho.

O quarto estava vazio, não recebeu uma visita— sem flores, ninguém veio até ela, era como se a morte de Brent não a tivesse atingido.

O som da chuva batendo na janela, o mesmo som que ecoava desde o acidente, era como ela se sentia, até o tempo chorava como ela.

Virou e olhou para o lado e viu sobre a mesinha ao lado da cama, um envelope branco.

com mãos trêmulas o abriu, e leu, reconheceu

a caligrafia inconfundível da sogra firme, elegante e fria.

"Não quero vê-la nunca mais.

Suas coisas foram deixadas na portaria do prédio.

Não ouse voltar.

– Margaret Dickson."

As frases cravaram-se nela como lâminas.

Por um instante, o mundo pareceu parar, a sogra era cruel, nunca gostou dela, ela sabia que somente Brent a amava.

Margaret, a mulher que ela chamou de sogra, agora a baniu como se fosse culpada por ter sobrevivido.

Rachel deixou o papel cair sobre o lençol e, em silêncio, as lágrimas começaram a escorrer.

Eles não lhe deram o direito de ver o corpo do marido e filho, se despedir, será se pensam que só eles perderam?

Resolveram tudo enquanto ela ainda lutava para abrir os olhos, enquanto ela estava em pedaços, perdeu o amor de sua vida, o filho de uma vez.

E agora até as lembranças estavam sendo arrancadas dela.

Sem família, e casa o amor que lhe dava sentido à vida, restava apenas o vazio — e uma dor que parecia não ter fim.

Foi ali, entre a dor e o desamparo, que ela tomou a decisão.

Lembrou-se da enfermeira Brenda, das palavras calmas e proposta feita antes de ela apagar.

Não tinha mais nada a perder, nessa vida.

Apertou o botão de chamada ao lado da cama, pouco depois uma enfermeira veio. — Por favor ela disse, a enfermeira Brenda está de plantão ainda? Se tiver, por favor chame-a para mim?

Pouco depois, Brenda apareceu à porta, com o mesmo sorriso sereno de sempre.

— Rachel, você me chamou? — perguntou, aproximando-se. — Está se sentindo melhor?

Rachel respirou fundo, enxugando o rosto com a ponta dos dedos.

— Quero aceitar a proposta que você me fez — disse, firme, embora a voz saísse embargada. — Não tenho para onde ir, mostrou a Brenda o bilhete da sogra. Você pode me ajudar? Preciso pegar minhas coisas no meu antigo endereço antes de me levar até sua prima, não tenho mais para onde ir, meu leite está fazendo meus seios doerem.

Brenda a observou em silêncio por um instante, e então assentiu com um leve sorriso.

— Claro Rachel, vou avisar a minha prima, e pedir que venham te buscar, vou cuidar de tudo.

Rachel voltou o olhar para a janela, e disse vou esperar. A chuva continuava caindo, interminável, como se o céu chorasse por ela.

E, pela primeira vez desde o acidente, ela não tentou conter as lágrimas.

Não sabia o que a esperava, mas algo dentro dela dizia que, de alguma forma, aquele passo marcaria o início de um destino que ela jamais poderia imaginar.

Brenda providenciou tudo com uma eficiência quase silenciosa.

Arranjou uma roupa limpa para Rachel — um vestido simples de algodão, azul-claro, que deixava o rosto pálido dela ainda mais frágil. As roupas que usara no acidente haviam sido cortadas pelos paramédicos e inutilizadas.

Sobre a cama, a enfermeira colocou uma pequena sacola: a maleta do bebê e os poucos pertences pessoais que haviam sido resgatados entre os destroços do carro. Um lenço, um colar quebrado e um bloco de partituras manchadas de sangue e chuva.

Rachel passou a mão sobre os objetos como quem toca memórias.

Aquilo era tudo o que restara da vida que perdera.

— Vista-se, querida — disse Brenda, num tom doce e calmo, quase maternal. — O motorista virá buscá-la em breve, entregue este bilhete à minha prima quando chegar, ela saberá que fui eu quem a enviou, já avisei a ela que você está de partida.

Rachel assentiu, sem forças para discutir, vestiu o vestido e prendeu os cabelos em um coque simples e respirou fundo.

— Você pode pedir ao motorista para parar no meu antigo endereço antes? Preciso pegar minhas coisas — murmurou.

— Claro — respondeu Brenda, entregando-lhe o envelope selado. — Dê a ele o endereço, ele a levará até a mansão depois.

Rachel agradeceu em voz baixa, a enfermeira ajeitou a gola do vestido e sorriu — um sorriso gentil.

— Vai ficar tudo bem — disse Brenda, em um tom que soava mais como comando do que conforto. — Agora vá, é hora de recomeçar.

O carro preto aguardava à entrada do hospital.

Rachel sentou-se no banco de trás e observou o mundo passar pela janela, como se cada rua fosse um pedaço da vida que ela deixava para trás.

O céu continuava cinzento, as nuvens pareciam tão cansadas quanto ela.

Após recolher suas coisas no prédio — a mala com as roupas dobradas e uma caixa pequena com as recordações do marido — o motorista a conduziu até uma longa estrada ladeada por pinheiros e muros altos.

O coração de Rachel apertava a cada quilômetro.

Quando o portão da mansão se abriu, ela teve a sensação de estar entrando em outro universo.

O lugar era imponente — colunas de mármore, janelas altas, jardins perfeitamente alinhados. Mas, por trás de toda aquela perfeição, havia um silêncio frio, quase hostil.

Assim que desceu do carro, ouviu um som que lhe fez parar:

um choro de bebê.

Fraco, insistente, partido entre soluços.

Rachel sentiu o coração bater mais forte.

O som atravessou seu peito como uma memória esquecida.

Mas o que veio em seguida desconcertou ainda mais.

Uma voz feminina, irritada e impaciente ecoou do andar de cima:

— Faça essa criança se calar, não aguento mais esse choro!

Rachel ergueu os olhos e viu uma mulher loira descer lentamente as escadas de mármore.

Era bela, elegante, impecável — o tipo de beleza fria que parece esculpida em gelo.

O perfume caro preenchia o ar, misturando-se ao som distante do choro.

— Você é a moça que a minha prima mandou? — perguntou a mulher, com arrogância.

Rachel endireitou a postura e respondeu com educação:

— Sim, senhora, a enfermeira Brenda me enviou.

A mulher suspirou, como quem estava atrasada para algo mais importante.

— Ótimo, suba as escadas e vá até o quarto, faça essa criança calar, não suporto mais ouvir esse choro.

Rachel hesitou, surpresa com o tom.

— Senhora, a criança é sua filha.

A mulher arqueou uma sobrancelha, impaciente.

— Sim, é minha filha, mas eu não tenho paciência para crianças.

Rachel ficou em silêncio por um instante.

Seu coração se apertou diante da frieza daquela resposta.

Olhou mais uma vez para o topo da escada, de onde vinha o som do bebê.

Sem dizer palavra, subiu.

E a cada degrau que pisava, sentia o instinto materno despertar em ondas que ela já acreditava adormecidas.

O som do choro parecia chamá-la .

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