Atraída pelo Vampiro - Legado de Sangue
Atraída pelo Vampiro - Legado de Sangue
Por: Sandra Ribeiro
CAPÍTULO 01

MATHIAS (DÉCADAS ANTES)

Eu nunca quis ser um vampiro. Nunca desejei a eternidade ou o poder que muitos acreditam ser uma bênção. Para mim, tudo começou com uma traição — a do meu próprio pai.

Ele estava afundado em dívidas, e quando o lorde Richard apareceu para cobrar o que lhe era devido, meu pai não hesitou. Ofereceu-me, como pagamento, seu único filho. Não houve despedidas, nem pedidos de desculpa, apenas o olhar frio de quem já tinha tomado a decisão.

Lembro-me do toque gelado do lorde, dos dentes perfurando minha pele em uma noite gelada, e da dor excruciante enquanto meu sangue se esvaía. A morte parecia chegar devagar, uma escuridão silenciosa que me abraçou. Mas eu não morri.

Quando acordei, estava à margem da floresta escura e silenciosa, além de algo muito errado estar acontecendo comigo. O mundo parecia diferente — mais nítido, mais intenso, quase insuportável. Meus sentidos gritavam, mas nada foi tão devastador quanto a sede.

Era como se minha garganta estivesse queimando sem trégua, enquanto meu corpo clamava por algo que eu não sabia o que era. Tentei controlar aquela sensação, mas a sede… a sede era algo incontrolável.

Eu não sabia o que estava acontecendo até sentir o cheiro de sangue pela primeira vez. O desejo foi instantâneo, primitivo. Uma parte de mim tentou lutar, mas a necessidade… ah, a maldita necessidade venceu.

Meu corpo moveu-se por conta própria, uma força descomunal despertou em mim. Antes que percebesse, eu já estava correndo. Rápido. Mais rápido do que qualquer coisa humana deveria ser. O mundo ao meu redor tornou-se um borrão, o vento cortando meu rosto, mas a única coisa que me guiava era o cheiro.

Sangue.

O aroma doce e metálico me atingiu como uma faca, guiando-me até eles — dois jovens aventureiros sentados ao redor de uma fogueira improvisada. Eles riam, sem saber o que estava acontecendo ao seu redor.

Eu lutei contra o desejo. Meus pés vacilaram, meu peito subiu e desceu em agonia enquanto tentava me agarrar à última centelha de controle que me restava.

— Não… — sussurrei, minha voz rouca e irreconhecível.

Mas a sede era implacável. O cheiro do sangue que corria em suas veias preencheu cada canto da minha mente, abafando qualquer tentativa de resistência. Em um instante, minha visão ficou escura e, quando voltei a mim, os corpos dos dois jovens estavam estendidos no chão, sem vida, seus rostos congelados em expressões de pavor.

Caí de joelhos, ofegante, encarando minhas mãos cobertas pelo sangue deles. Uma onda de horror tomou conta de mim, afogando qualquer sensação de alívio pela sede que havia sido saciada. Eu queria vomitar. Eu queria morrer de verdade dessa vez.

— O que eu fiz? — Murmurei, a voz falhando.

Naquele momento, compreendi o que havia me tornado. Eu não era mais humano. Fui arrancado do mundo dos vivos e lançado em um pesadelo eterno.

Naquela noite, jurei que nunca me perdoaria pelas vidas que drenei. Eles eram inocentes, e eu fui o monstro que trouxe a escuridão sobre eles.

Quando o dia começou a amanhecer, uma luz fraca rompeu pelas copas das árvores, tocando minha pele exposta. O primeiro raio de sol queimou como ácido.

A dor foi imediata e insuportável, espalhando-se por meu braço como fogo vivo. Minha pele borbulhou e rachou, deixando meu braço em carne-viva. Gritei, caindo de joelhos, tentando cobrir o braço com as mãos, mas o simples toque do sol bastava para que a dor se intensificasse ainda mais.

Corri até uma caverna, pensando que fosse o fim. Que aquilo finalmente me destruiria. Mas não foi o que aconteceu. Horas depois, a dor diminuiu. A pele queimada começou a se regenerar diante dos meus olhos, o tecido se recuperando novamente, como se o tempo estivesse retrocedendo. A carne destruída foi substituída por uma pele nova e intacta, sem cicatrizes.

Fiquei parado ali, encarando meu próprio braço, incrédulo. Eu era indestrutível, mas, ao mesmo tempo, vulnerável de formas que nunca imaginei.

Lentamente comecei a entender o que eu realmente era. Não um homem. Um monstro diferente, uma criatura feita de sombras e fome, com uma capacidade sobre-humana de recuperação — e uma fraqueza que poderia me destruir se eu não fosse cuidadoso.

O sol era meu inimigo. Mas a noite… a noite seria minha aliada. E enquanto fiquei ali refletindo sobre tudo, sentia o poder crescendo dentro de mim, junto com a sede e o ódio. Meu corpo tornava-se mais forte e minha mente mais clara.

Passei horas lutando contra o desejo de sangue humano novamente. O aroma ainda estava presente em cada brisa que passava, me tentando, me provocando. Mas eu resisti.

Quando a noite chegou novamente, cacei animais para saciar aquela necessidade que parecia nunca desaparecer por completo. O gosto era amargo, insuficiente, mas mantinha o monstro à distância — pelo menos por um tempo.

Tudo em mim parecia intenso demais. Minha visão, meus ouvidos, até minhas emoções eram um turbilhão descontrolado. A sede de sangue começou a se misturar a um novo desejo… o desejo de vingança.

Meu ódio crescia. Duas pessoas estavam cravadas em minha mente como lâminas afiadas — meu pai e aquele lorde maldito.

Meu pai, o homem que deveria proteger a família, foi o primeiro a entregar-me sem hesitação, como se eu fosse nada mais que uma moeda de troca. Frio, cruel… covarde.

E o lorde Richard… O monstro que havia drenado quase todo o meu sangue, deixando-me à beira da morte, como se minha vida não tivesse valor.

Mas ele estava errado. Eu sobrevivi. E agora, naquela floresta, enquanto lutava para não perder a pouca humanidade que me restava, uma promessa foi feita em silêncio... eu voltaria para ambos. E quando esse dia chegasse, não seria misericordioso.

A vingança se tornou meu único propósito, meu único consolo. Eles me fizeram assim. Eles criaram o monstro. Agora, teriam que lidar com ele.

Quando cheguei à cidade, descobri algo que não esperava — outros iguais a mim. Eles eram conhecidos como os frios, seres da noite, mas que pensei ser apenas histórias para assustar as crianças, até descobrir no que havia me tornado.

Passei a observá-los, estudar seus movimentos, suas escolhas, como se fossem peças de um quebra-cabeça que eu precisava entender.

Eles não eram diferentes de mim, mas, ao mesmo tempo, eram. Eu sabia da minha força, da minha velocidade, mas esses outros… eles possuíam algo mais. Algo que eu ainda não entendia completamente.

Vi vários deles hipnotizando suas vítimas, manipulando as mentes delas com uma facilidade assustadora. Eu não sabia como, mas sabia que precisava aprender.

— Ei, bonitão, quer aproveitar um pouco comigo? — Uma vampira perguntou e outros do grupo dela me olhou.

Apenas neguei com a cabeça, o que pareceu não ter agradado muito aquela mulher. Ela soltou um silvo que fez os outros sorrirem, enquanto me mostrava os dentes.

— Nunca deve negar um pouco de diversão a uma vampira, seu idiota. Some daqui. — Outro vampiro disse, enquanto beijava aquela mulher e ela me olhava com ódio.

Enquanto me afastava dali, senti-me sendo observado, uma sensação desconfortável que não sabia de onde vinha. No início, pensei que fosse só minha paranoia, mas com o tempo, comecei a ter certeza de que havia alguém me vigiando. A sensação era palpável, como se estivessem sempre a um passo atrás de mim.

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