Ao mesmo tempo que a distância — era negada —, uma vez que me afastaria da verdade. Havia uma verdade e uma mentira.
Claro que sim!
Havia uma explicação lógica para que todo o dito desaparecesse como pó…, não?
— Ele está ali. — A voz de Nicholas bateu nas minhas costas, assim como alguns passaram por mim à procura de quem importava. — O que você ainda faz aqui…? — o sussurro entoou severo ao pé do ouvido, violando o pouco de estrutura que ainda restava. Vi seguindo o rumo aos demais, o patrono era o foco de todos.
Respirar… preciso de ar.
Recuei a passos curtos, incertos, observando David em seu desespero culposo em salvar o pai. Meu tronco chocou o batente, então me guiei para longe, esbarrando em pessoas, evitando olhares, quando os meus sangravam em lágrimas. Nem sei como senti a brisa, nem sei como encontrei
Desci do carro sentindo o gelado do asfalto trapejar meus pés, caminhamos na direção do mar, a brisa fresca elevando meu vestido, tal como alguns fios soltos do meu cabelo que desprenderam do coque. David com as mãos nos bolsos frontais, temeroso. Calado. Aturdido. Implorei para o grande oceano que levasse consigo meus receios conforme nos aproximávamos, não estava preparada para a conversa, não a queria. Mas teríamos. Paramos de frente para o mar, lado a lado, olhos seguindo longe, então resolvi falar:— Há quatro anos, um cara chamado Caio, o popular, astro da banda da escola, lindo, sexy, galante, me pediu em namoro. Eu, uma menina iludida com aquele fascínio, com a declaração no meio de um show, com a devoção que ele demonstrava em cada palavra… — Encarei os olhos nebulosos, escuros, dilatados.— Melissa, minha irmã, meu porto seguro depo
(...)7 anos exatos do passado.— O Nicholas não está — mencionei ao abrir a porta e me deparar com a Eduarda —, e eu estou de saída, isso significa que é melhor você ir embora.Ela colocou o pé na porta impedindo que eu a fechasse.— Nossa, que grosseria!— Eduarda, sem drama. — Desviou as íris azuis para o meu tórax descoberto. — Cadê a Maria? Você abrindo a porta é bem estranho!— Foi ao mercado.— Certo — disse e ergueu na altura dos olhos os livros que carregava. — Nick pediu para esperá-lo aqui, vamos estudar, preciso de ajuda em economia. Posso entrar?— Tudo bem, o espere na sala. — Abri passagem.— Pode continuar o que estava fazendo, não quero atrapalhar.
Meu mundo parou no exato momento em que não tinha mais os olhos da Aurora na direção dos meus, se era ciente do tamanho do amor que sentia por ela, no segundo que a vi partir tudo ficou sagaz demais, excruciante demais, insuportável demais. Eu amava tanto aquela mulher que pela primeira vez perdi os sentidos, o rumo, a coerência do significado da vida.Magoá-la; Decepcioná-la;Presenciar lágrimas tristes escorrer dos seus olhos por minha causa, tal como seu coração sangrar com as merdas que fiz, era o mesmo que fincar um punhal no meu peito, mesmo assim, a dor do corte profundo não se comparava ao que sentia. Perder minha garota não era uma opção, caso acontecesse, optaria pela morte.(...)Com as vozes de Aurora Baker:— Aurora…, acordaaa… — Senti um toque suave nas minhas costas, p
— Obrigada — agradeci e amarrei as faixas ao redor da cintura. — Já começo hoje?Tentei entender a contratação rápida e confusa.— Sim, pensei que fui claro em relação a isso.Não, nem pensar.— Sim, claro que foi — menti descaradamente. — Preciso de um minuto para fazer uma ligação.Ele curvou os lábios, mas consentiu a contragosto.Pisei a passos largos até a saída dos fundos, sendo monitorado com os olhos de águia do meu novo chefe. Os fundos era um espaço pequeno, com cestas de lixo enormes e um cheiro de gordura um pouco enjoativo, me afastei da porta para não levar uma portada caso uns dos funcionários resolvessem fumar no local, ou dispensar o lixo. Bem essa era uma das minhas funções naquele início. Por fim, saquei o celular e liguei para o Brasil.
— Pare, senhor, pelo amor de Deus, pare! — gritou de longe um dos empregados ao ouvir o estilhaço de mais um copo ao se chocar na parede.A fúria que queimava meu corpo trouxe consigo um desejo inacabado de quebrar tudo à minha volta, talvez fizesse isso se estivesse em outro lugar, mas como estava na mansão e meu pai, embora distante estava meramente debilitado, adiei por ora a decisão de destruir o mundo, caso Deus me desse aquela chance.Não era justo.Nunca me entreguei para o amor, nunca me entreguei a uma mulher, a Aurora é… não suportaria novamente a dor de perdê-la. Não suportaria o castigo de nunca mais tocá-la. De não gozar das sensações que aquela garota provocava no meu corpo.Que porra de golpe.Que caralho de covarde eu fui.Houve inúmeras chances de abrir o jogo, de contar a origem daquele ódio ou d
— Valéria, estou ficando bem confuso se sou eu o chefe ou o contrário — questionei, ocupando o banco traseiro do carro. John acenou com a cabeça garantindo que estava tudo certo para seguirmos. — Desmarque todos os meus compromissos nos próximos quinze dias. Qual é a dificuldade?No que conhecia minha assistente era provável que estivesse a ponto de um enfarto. Talvez devesse informar os paramédicos do Brasil, apesar de teimosa, Valéria era a melhor mais capacitada, além de uma velha amiga que me conhecia como a palma da mão.— David, como assim? Meu Deus, são muitos compromissos, alguns inadiáveis, outros que custaram alguns milhões. O que eu faço?— Resolva, pago você para isso. — Meu tom não soou tão áspero quanto as palavras. — Moleza… você consegue.— Peço demi
— Que lugar é esse, e por que está de avental? — David perguntou assim que me aproximei do seu carro. Semblante enrugado e braços cruzados. — Está trabalhando aí?Coloquei o avental dentro da mochila, antes de lançar a ele um olhar bem insatisfeito com o interrogatório.— Boa noite, David — saudei irritada e pisei firme entrando no carro, onde seu motorista estava de prontidão como um soldado da rainha.— Vamos!?Ele moveu o maxilar e contornou entrando no outro extremo.— Por que escondeu que trabalhava na Pop’p? — indagou enquanto se acomodava.— Quer medir agora o nível de sinceridade entre nós? — Trocamos um olhar magoado até os pontos castanhos caírem para minhas mãos que ainda brilhavam com o diamante. Ele jogou os lábios de canto e voltou para mim. — Precisamos conversar, tem algum lugar tranquilo que possamos ir?— Sim, claro! John o hotel de sempre — disse ao seu motorista que colocou de imediato o carro em movimento. Havia uma distância razoável entre os corpos que por um in
Precisei de um tempo, ele também, nunca gritamos um com o outro e não podíamos apagar o dito, palavras ferem da mesma forma que as atitudes.— Desculpe, meu amor, não quis…— O garoto está com câncer, ele está morrendo. David cambaleou chocando a parede atrás de si.— Quê? — Timbre fraco.— Ele está entre a vida e a morte no hospital, à procura de um doador, se você for o pai…— Eu não sou — negou, ajustando a calça e avançando para a sala.— Não com uma única noite sem preservativo.Desci da bancada.— Mas se você for, pode ser compatível e salvar a vida dele, ele é só um garotinho, não tem culpa de nada.— Não, não acredito em nada… — Ele travou quando coloquei ao alcance